Publicado em: 29/12/2025 às 10:50hs
O ano de 2025 ficou registrado como um dos períodos mais críticos para o mercado de arroz no Brasil. Segundo o analista e consultor da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, o setor enfrentou um profundo desequilíbrio entre oferta, demanda e preços — cenário que resultou em um colapso generalizado na rentabilidade dos produtores e em sérias dificuldades ao longo de toda a cadeia.
Mesmo com reduções expressivas nos preços, o mercado interno não conseguiu absorver o volume produzido, levando a uma das maiores crises da história recente da orizicultura brasileira.
No início de 2025, o mercado operava em um equilíbrio artificial, sustentado pela resistência dos produtores em vender, e não pela força real da demanda. No Rio Grande do Sul, principal estado produtor, a saca de 50 kg ainda era negociada em torno de R$ 100, apesar dos custos de produção já se situarem entre R$ 80 e R$ 90.
Segundo Oliveira, a liquidez era muito baixa, com poucos negócios efetivados — os produtores liberavam apenas volumes mínimos para cobrir despesas imediatas.
Enquanto isso, a indústria mantinha uma postura defensiva, amparada por estoques de passagem próximos de 1 milhão de toneladas. O varejo também se mostrava retraído, com consumo estagnado mesmo diante de promoções e eventuais quedas de preço. O início da colheita na Fronteira Oeste gaúcha ainda não pressionava o mercado, mas já indicava alta produtividade pela frente.
Entre fevereiro e março, a crise se intensificou. As cotações caíram de forma contínua, levando a média da saca gaúcha de quase R$ 100 para menos de R$ 80.
A liquidez permaneceu extremamente baixa, com compradores retraídos à espera de novas desvalorizações.
Com o avanço da colheita no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Centro-Oeste, a oferta aumentou rapidamente, superando a capacidade de absorção da demanda interna. As margens produtoras se tornaram negativas e as indústrias reduziram o ritmo de produção, operando com ociosidade entre 40% e 50%.
Mesmo com o varejo praticando preços agressivos — entre R$ 15 e R$ 18 para pacotes de 5 kg —, o consumo permaneceu fraco, evidenciando uma demanda estruturalmente enfraquecida.
O segundo trimestre consolidou o colapso do setor. Com o fim da colheita e o início da retenção por parte dos produtores, os preços seguiram em queda, variando entre R$ 65 e R$ 77 por saca.
A safra 2024/25 registrou altas produtividades no Sul, ultrapassando 9.000 kg por hectare, o que ampliou a produção nacional em um contexto de baixo consumo.
Os estoques de passagem começaram a preocupar o mercado, configurando um excesso estrutural de produto. As indústrias passaram a operar com margens negativas severas, reduzindo turnos e elevando a ociosidade acima de 50%.
No varejo, as promoções se intensificaram, chegando a R$ 12 por pacote de 5 kg, mas sem efeito significativo sobre as vendas — reforçando que o problema não era preço, e sim falta de consumo. “O mercado entrou em um ciclo de paralisia, com liquidez mínima e negociações pontuais”, resume Oliveira.
Na segunda metade de 2025, o mercado de arroz entrou em lateralidade técnica, com pequenas variações incapazes de alterar o cenário negativo. Os preços oscilaram entre R$ 60 e R$ 70 por saca, acumulando quedas superiores a 40% em várias regiões.
Produtores enfrentaram forte descapitalização, retendo a produção, mas pressionados por dívidas e custos. A indústria, por sua vez, convivia com margens negativas persistentes e dificuldades financeiras. O varejo reduziu o espaço do arroz nas gôndolas, priorizando produtos com maior rentabilidade e giro mais rápido.
Com a crise instalada, produtores e analistas passaram a discutir a redução da área plantada para a safra 2025/26. No Rio Grande do Sul, principal polo da cultura, a retração deve variar entre 8% e 12%, enquanto em estados como o Tocantins o corte pode chegar a 50%, com redução ainda maior nas áreas de sequeiro.
Evandro Oliveira avalia que o ano encerrou-se com preços aviltantes, variando entre R$ 48 e R$ 57 por saca, valores muito abaixo do custo de produção (R$ 75 a R$ 90) e até inferiores ao preço mínimo oficial (R$ 63,64) para o Sul (exceto Paraná). A liquidez praticamente desapareceu, reflexo do excesso de estoques remanescentes e da baixa movimentação comercial típica do fim de ano.
O plantio da nova safra confirmou a redução nacional da área cultivada, estimada entre 1,5 e 1,6 milhão de hectares. No entanto, o corte não deve provocar recuperação imediata de preços, já que o mercado ainda enfrenta os efeitos do grande excedente da safra 2024/25, calculado em mais de 2,3 milhões de toneladas.
Fonte: Portal do Agronegócio
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