Publicado em: 14/12/2021 às 16:40hs
De acordo com o levantamento, apresentado hoje (7) no Global Halal Brazil Business Forum, marcas que não praticam crueldade animal, utilizam insumos reciclados, não-transgênicos e contam com certificação halal (de respeito às tradições islâmicas) têm a preferência desse grupo em percentuais que variam de 69 a 95%, conforme a região do mundo onde a sondagem foi realizada.
Ainda segundo a pesquisa, a decisão de compra prioriza produtos da agricultura familiar (entre 43 e 92%), vendidos por comerciantes de bairro (entre 70 e 93%) e empresas que respeitam as tradições e crenças do islamismo (entre 59 e 92%). O consumidor muçulmano também evita marcas envolvidas em corrupção, trabalho escravo e com posições políticas controversas, numa tendência de consumo ético similar à de países ocidentais.
A sondagem foi realizada com base em 1650 entrevistas de painéis online com muçulmanos adultos do Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Catar, África do Sul, Nigéria, Malásia, Alemanha, França, Países Baixos, Bélgica e Reino Unido. Com margem de erro de 2,4 pontos percentuais, a amostra foi composta com países de maioria islâmica, nações multiculturais e regiões onde os muçulmanos são minoritários para traçar um panorama do mercado de consumo islâmico. O setor envolve nada menos que 1,9 bilhão de consumidores, já movimenta US﹩ 4,88 trilhões por ano e deve crescer 18% até 2024, de acordo com o The State of Islamic Economic Report, de 2021.
"Há uma convergência entre os valores do ESG, do consumo ético e da responsabilidade social e da cultura muçulmana, especialmente do muçulmano comum, que nada tem a ver com o estereótipo ligado a extremismos. Para esse consumidor, os valores éticos do islã, comuns a muitas religiões, também são levados em conta nas decisões de consumo", analisa Alessandra Frisso, diretora da H2R Pesquisas Avançadas.
A pesquisa revela, ainda, a prevalência de um consumidor no mundo muçulmano de perfil masculino, na casa dos 30 anos, com acesso ao ensino superior, inclusive em países menos desenvolvidos da Ásia e da África. Esse consumidor também é ativo nas redes sociais, prefere comprar pela Internet, geralmente está posicionado nos extratos de renda mais altos e é muito orgulhoso de sua identidade muçulmana.
Frisso ressalta que a compreensão dessa identidade é fundamental para as marcas que queiram atuar no mundo islâmico. Segundo ela, por meio do consumo, o muçulmano, especialmente o que vive em países ocidentais, expressa sua identidade. Na Europa, por exemplo, 71% dos consumidores entrevistados consomem produtos com certificado halal, selo que na prática funciona como uma garantia de respeito às tradições do islã, e 49% disseram estar dispostos a pagar mais por produtos certificados.
"Poderíamos pensar que fora do mundo muçulmano o respeito às tradições fosse menos relevante, mas o fato é que não é. A certificação importa, pois através dela, o ato de consumir se torna lícito segundo as crenças da religião, e se liga à expressão da identidade muçulmana e a valorização das origens", analisa Frisso.
A pesquisa identifica ainda uma crescente influência do islamismo no consumo de nações multiculturais, onde os muçulmanos são, inclusive, minoria. Na Malásia, por exemplo, o governo local estabeleceu políticas de incentivo à produção halal como estratégia de fomento às exportações, que acabaram se incorporando a várias cadeias produtivas.
Hoje, no país asiático, o halal, muito além de um produto voltado ao muçulmano, é associado a um estilo de vida, marcado pelo consumo de produtos saudáveis e eticamente responsáveis. Dessa forma, o halal vem ganhando a preferência de consumidores de outras identidades étnicas no país, mas o mesmo fenômeno já se vê em outros países islâmicos.
"O ‘speech’ de consumo responsável é uma invenção ocidental, mas no mundo islâmico já é uma prática cultural, cuja compreensão é fundamental para quem quiser explorar com sucesso esse imenso mercado", finaliza Frisso.
Fonte: A4 Holofote
◄ Leia outras notícias