Análise de Mercado

CNI critica aumento da Selic e aponta impactos negativos sobre a economia

Confederação Nacional da Indústria considera decisão do Copom excessiva e incompatível com o cenário inflacionário, destacando efeitos prejudiciais sobre o emprego e a atividade econômica


Publicado em: 07/11/2024 às 11:08hs

CNI critica aumento da Selic e aponta impactos negativos sobre a economia

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifestou grande preocupação com a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual. Para a entidade, o aumento não só é inadequado, como também reflete uma postura excessivamente conservadora, dado que o nível anterior da taxa já era suficiente para manter a inflação sob controle.

A CNI ressalta que a inflação no Brasil tem sido impactada por fatores externos e conjunturais, como as secas extremas que afetaram os preços da energia elétrica e dos alimentos. Segundo a confederação, as acelerações observadas no IPCA em setembro e no IPCA-15 de outubro são pontuais e não alteram a tendência geral da inflação, que segue controlada, conforme indicam os núcleos de inflação, que excluem itens voláteis. No acumulado de 12 meses até setembro, a média dos cinco principais núcleos foi de 3,8%, uma queda em relação aos 4,3% registrados até dezembro de 2023.

Além disso, a CNI afirma que a elevação da Selic trará prejuízos desnecessários à economia brasileira, com impactos diretos no emprego e na renda da população. A confederação defende que o foco da política monetária deveria ser a recuperação da atividade econômica, e não o aumento da taxa de juros, que pode prejudicar ainda mais o ambiente de negócios no país.

A questão fiscal e a sincronia entre as políticas monetária e fiscal

Outro ponto destacado pela CNI refere-se à questão fiscal. A entidade considera exagerada a ênfase do Banco Central na sustentabilidade da dívida pública, dada a desaceleração do impulso fiscal e o crescimento da arrecadação federal. O primeiro semestre de 2024 registrou um aumento real de 10,5% nas despesas primárias, enquanto para o segundo semestre a CNI prevê uma queda real de 1,7%. A confederação acredita que a política fiscal do governo, com medidas de redução de gastos previstas para 2025, pode ajudar a melhorar a sincronia entre as políticas monetária e fiscal, permitindo um controle mais eficiente da inflação sem a necessidade de altas adicionais na Selic.

O Brasil na contramão das tendências globais

A CNI também chamou a atenção para o cenário internacional, onde há uma clara tendência de afrouxamento das taxas de juros. O Banco Central Europeu já realizou três cortes em 2024, e o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, está previsto para cortar os juros em mais uma reunião até o final do ano. Nesse contexto, o aumento da Selic no Brasil coloca o país em desacordo com os demais membros do G20, isolando-se ao lado da Rússia como uma das únicas economias que estão elevando juros atualmente.

Além disso, a confederação sublinha que a taxa de juros real do Brasil segue acima da taxa neutra – aquela que não interfere nem positiva nem negativamente na atividade econômica – há 34 meses. Com a Selic a 11,25% ao ano e uma projeção de inflação de 4,27% para os próximos 12 meses, a taxa de juros real no país alcança 6,7% ao ano, o que coloca o Brasil como o segundo país com a maior taxa de juros reais do mundo, atrás apenas da Rússia.

Proposta de redução da Selic

Diante desse cenário, a CNI considera que a Selic deveria ser reduzida, em vez de aumentada. A confederação estima que a taxa de juros de equilíbrio, ou seja, aquela que seria suficiente para conter a inflação sem prejudicar o crescimento econômico, deveria estar em 8,4% ao ano, com base na inflação acumulada nos últimos 12 meses. A Selic atual, portanto, estaria 2,85 pontos percentuais acima desse nível, prejudicando a competitividade das empresas e o poder de compra da população.

Para a CNI, o foco deveria ser a retomada do ciclo de cortes na Selic, a fim de reduzir o custo financeiro para as empresas e consumidores, promovendo um ambiente econômico mais favorável ao crescimento e à criação de empregos. Caso contrário, a confederação alerta que o Brasil continuará a enfrentar um quadro econômico prejudicial, com menos oportunidades de trabalho e de renda para os brasileiros.

Fonte: Portal do Agronegócio

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