Publicado em: 23/08/2013 às 14:10hs
A perda de competitividade do Brasil no mercado internacional de carne de frango pode ser observada pela redução da participação do país nas exportações mundiais dessa proteína.
Líder absoluto nas exportações de carne de frango, o Brasil viu sua indústria avícola perder competitividade na última década. Apesar da farta disponibilidade de grãos no país, condição vital para a criação de aves, indústrias do porte de BRF e Seara sofreram com a alta dos custos de mão de obra e menor produtividade do trabalho, num movimento similar ao que ocorreu com a indústria nacional como um todo.
Essas são as principais conclusões de um estudo da consultoria Agro.Icone encomendado pela União Brasileira de Avicultura (Ubabef). Conforme o estudo, a indústria exportadora de carne de frango "perdeu grande parte de sua competitividade nos anos recentes sobretudo pelo mercado de trabalho". Entre 2006 e 2013, o custo da mão de obra em dólar no Brasil cresceu 116%, de acordo com o estudo.
O trabalho será apresentado durante o Salão Internacional da Avicultura (SIAV), que acontece entre os próximos dias 27 e 29, em São Paulo.
Enquanto isso, o Brasil perdeu, ainda que marginalmente, participação nas exportações de carne de frango. Entre 2005 e 2008, os embarques do país correspondiam a 39% do comércio global, índice que caiu para 37% entre 2009 e 2012. Os percentuais se referem aos volumes comercializados e não à receita.
O Brasil não foi, porém, o único a perder mercado no período. Na mesma base de comparação, os Estados Unidos, segundo maior exportador global da proteína, viram sua participação recuar de 37% para 34%.
A participação perdida por Brasil e Estados Unidos acabou pulverizada, sem um grande "vencedor". Conforme o Departamento de Agricultura americano (USDA), os países que, individualmente, têm uma fatia inferior a 4% do mercado respondiam, juntos, por 7% do comércio global de carne de frango entre 2005 e 2008. Essa taxa subiu para 11% entre 2009 e 2012.
Pelos cálculos do estudo da Agro.Icone, a perda de participação do Brasil fez com que a indústria brasileira de carne de frango deixasse de ganhar US$ 1,65 bilhão com as exportações do produto. Além disso, o estudo também estima que o setor teria gerado 94 mil empregos diretos e indiretos caso ainda tivesse 37% do comércio global.
Na opinião do presidente da Ubabef, Francisco Turra, a elevação dos custos de mão de obra - fator apontado com o principal responsável pela perda de competitividade da indústria avícola - não é um problema em si. "Não há problema de crescer o custo de mão de obra, mas a produtividade tem que acompanhar", afirma ele, elogiando a desoneração da folha de pagamentos do setor, que teve início neste ano.
O estudo mostra, no entanto, que a produtividade do trabalho não acompanhou o aumento dos custos de mão de obra. Entre 2006 e 2011, a produção de carne por trabalhador cresceu 13%, enquanto os salários médios avançaram 19% em termos reais no mesmo período.
Uma das alternativas para aumentar a produtividade da indústria avícola é intensificar o uso de máquinas, afirma o gerente de relações com o mercado da Ubabef, Adriano Zerbini. Segundo ele, ampliar a automação é essencial, uma vez que a indústria avícola é bastante intensiva em mão de obra. Além disso, com índices de desemprego em patamares baixos, a indústria tem dificuldades para contratar funcionários.
Segundo Zerbini, o maior uso de máquinas se reflete diretamente na produtividade do trabalho. Ele não quis detalhar os números do estudo da Agro.Icone, mas afirmou que o valor adicionado por trabalhador da indústria avícola brasileira corresponde a apenas um terço do verificado na indústria americana e metade do registrado na indústria alemã. EUA e Alemanha utilizam a automação de maneira mais intensiva que o Brasil, conforme Zerbini.
Além de ampliar o uso de máquinas, o estudo da Agro.Icone sugere outras mudanças para ampliar a competitividade do setor. Entre elas está a realização de concursos públicos para ampliar o efetivo de funcionários dedicados ao Sistema de Inspeção Federal (SIF). De acordo com o estudo, a indústria banca R$ 232 milhões por ano com funcionários dedicados à inspeção. Com mais concursos públicos, a indústria repassaria esse custo para o Estado.
Para além dos custos industriais, o Ubabef também defende investimentos em logística, que ajudariam a ampliar a competitividade da indústria nacional. Conforme a Agro.Icone, as empresas brasileiras pagam, em média, US$ 46,80 por tonelada de carne exportada no trajeto entre a unidade de produção e o porto. Já na Tailândia, que vem ganhando espaço nas exportações de carne de frango e hoje representa 4% do comércio global, esse custo é de US$ 33 por tonelada exportada.
Os custos portuários também são mais altos no Brasil, aponta o estudo. A indústria brasileira gasta, em média, US$ 22,90 por tonelada exportado, enquanto os EUA gastam a metade disso (cerca de US$ 11 por tonelada exportada). Tailândia, com gastos de US$ 12,70 por tonelada exportada, e França, com US$ 19,20 por tonelada exportada, também têm custos portuários inferiores.
Fonte: Avisite
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