Publicado em: 02/09/2025 às 19:00hs
O Combustível Sustentável de Aviação (SAF) tem se consolidado como a principal alternativa para a redução de emissões na aviação civil. Apesar disso, a produção mundial ainda é incipiente e o Brasil caminha para estruturar sua participação nesse mercado, impulsionado por metas internacionais e pela aprovação da lei “Combustível do Futuro”.
O SAF é um biocombustível desenvolvido para substituir o querosene de aviação (QAV) sem necessidade de alterar motores ou infraestrutura. Diferente de etanol e biodiesel, sua composição química é praticamente idêntica aos combustíveis fósseis, o que garante desempenho, segurança e possibilidade de uso imediato em aeronaves já em operação.
Ele surge como solução viável no curto prazo, já que alternativas como hidrogênio e eletrificação ainda não estão maduras para uso comercial.
Em 2024, a produção global de SAF foi de apenas 1,9 bilhão de litros, equivalente a 0,5% do consumo mundial de QAV. A maior parte desse volume foi gerada na Europa, com destaque para a rota tecnológica HEFA, que utiliza óleos e gorduras, como óleo de cozinha usado, como matéria-prima.
O Brasil, grande produtor de insumos agrícolas, tem potencial para se tornar um player relevante nesse mercado. O país já possui projetos anunciados tanto em refinarias existentes quanto em novas plantas dedicadas, com destaque para rotas como HEFA e AtJ (álcool-para-querosene), que utilizam etanol.
O marco regulatório brasileiro foi estabelecido pela lei “Combustível do Futuro”, que prevê a adoção obrigatória de SAF em voos domésticos a partir de 2027. O programa ProBioQAV define metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, que deverão atingir 10% até 2037.
No cenário internacional, o Brasil também será impactado pelo início da fase obrigatória do CORSIA (Esquema de Compensação e Redução de Carbono para Aviação Internacional), igualmente em 2027. Isso significa que companhias aéreas precisarão utilizar SAF ou compensar emissões com créditos de carbono.
De acordo com estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a aviação brasileira demandará cerca de 11 bilhões de litros de QAV em 2037, sendo 5,5 bilhões em voos domésticos e 4,8 bilhões em internacionais.
A necessidade de SAF para atender às metas poderá variar de 2,8 a 5,5 bilhões de litros, dependendo da eficiência das rotas tecnológicas utilizadas. Essa projeção reforça a importância de alinhar custos e pegada de carbono aos padrões internacionais.
Apesar do potencial, o Brasil ainda precisa criar mecanismos de incentivo, como subsídios e isenções fiscais, para viabilizar a produção em escala. Atualmente, os custos de produção do SAF são várias vezes superiores ao do querosene fóssil, o que limita sua competitividade sem apoio governamental.
Ainda assim, o país tem vantagens estratégicas: disponibilidade de matérias-primas agrícolas de baixa intensidade de carbono, experiência no setor de biocombustíveis e proximidade entre produção e consumo, reduzindo emissões logísticas.
Além disso, iniciativas como a inclusão do etanol de milho de segunda safra nas análises internacionais de emissões mostram que o Brasil pode avançar no reconhecimento de suas especificidades produtivas.
Segundo o Itaú BBA, o mercado de SAF é promissor, mas repleto de incertezas. A dificuldade da União Europeia em implementar metas e a necessidade de subsídios mais robustos demonstram que o sucesso do setor dependerá de políticas consistentes.
No longo prazo, espera-se que a expansão da produção em escala reduza custos, abrindo espaço para novas tecnologias, como o Power-to-Liquid, que utiliza hidrogênio verde. Nesse cenário, o Brasil poderá desempenhar papel central na oferta global, desde que alinhe políticas públicas, investimentos privados e avanços regulatórios.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias