Publicado em: 03/10/2024 às 11:45hs
O Fórum Empresarial México – Brasil, promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Conselho Empresarial Mexicano de Comércio Exterior (Comce), contou com o apoio do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O evento ocorreu na última segunda-feira (30/10), na Cidade do México, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, e de mais de 400 empresários dos dois países. A programação incluiu cinco painéis que reuniram especialistas e profissionais do setor público e privado para discutir o cenário atual e as perspectivas futuras das relações comerciais bilaterais.
Moderado pela ministra-conselheira e representante suplente do Brasil na Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) e no Mercosul, Ivana Gurgel, o primeiro painel contou com a participação da diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza, que apresentou uma visão geral do comércio entre Brasil e México. Repezza destacou que os acordos vigentes foram firmados há mais de 20 anos, em um contexto global bastante diferente. “O mundo mudou, a dinâmica do comércio global mudou, as economias mudaram. Apesar do dinamismo e da trajetória ascendente, a integração ainda é limitada”, afirmou.
A diretora enfatizou o recorde histórico do fluxo comercial entre os dois países, que superou US$ 14 bilhões em 2023, reiterando o compromisso da ApexBrasil em conectar empresas e compradores, promover encontros e missões empresariais, além de fomentar oportunidades de negócios. Segundo ela, é essencial valorizar a qualidade desta corrente comercial diversificada, que abrange não apenas a indústria automotiva, mas também toda a cadeia de autopeças, bem como os setores de móveis, moda, calçados e têxteis. “Esses setores são relevantes para a geração de emprego e renda, e esse comércio bilateral traz benefícios para ambos os países”, destacou.
Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI), alertou sobre os desafios impostos pelas mudanças climáticas, que devem orientar os futuros acordos. “O mundo enfrentará, nos próximos anos, uma rápida transição energética e a descarbonização das economias”, afirmou. Ele ressaltou que esse cenário criará amplas oportunidades de negócios para a formulação de acordos mais abrangentes, que incluam reconhecimento mútuo de certificados e eliminação de barreiras comerciais que possam obstruir transações. “A aproximação entre Brasil e México não apenas possui importância comercial, mas é fundamentalmente estratégica”, concluiu.
O presidente do Comitê Empresarial Bilateral México-Brasil (Comce), Lic. Enrique Gonzalez Calvillo, reforçou a necessidade de modernizar os acordos para contemplar soluções que protejam investimentos de ambos os países. O embaixador Francisco Cannabrava, diretor do Departamento para o Mercosul do MRE, defendeu a atualização dos acordos bilaterais, comparando os pactos firmados há mais de 20 anos a roupas que não se ajustam mais a uma criança que cresceu. Ele observou que há um grau de complementaridade entre as economias brasileira e mexicana, o que permite um trabalho mais realista em conjunto. “É fundamental atualizar, reforçar e expandir nossas relações bilaterais. Recentemente, progredimos em outros acordos, e aqui também precisamos avançar”, defendeu.
A diretora geral do Instituto Mexicano para la Competitividad, Valeria Moy, apontou que existe um ambiente de cooperação que favorece os avanços, mesmo na ausência de um acordo de livre comércio formal entre os países. “O objetivo é ambicioso, e devemos utilizar o que temos para avançar paralelamente”, ponderou.
Um dos painéis do Fórum abordou os desafios e as expectativas dos investimentos mexicanos e brasileiros, com a participação de CEOs e diretores de empresas como Banco da Amazônia, Braskem Idesa, Bradescard, Pilgrim's Mexico, Nubank, America Movil, Oxxo, Terminal Química Puerto México e Bimbo. Os participantes discutiram novas oportunidades de negócios nas áreas de agroindústria, manufatura, finanças e serviços, além de acesso a novos mercados. “É uma oportunidade única para gerar sinergias e melhorar as condições regulatórias e fiscais”, ressaltou Susana Duque, moderadora e diretora geral do Comitê Empresarial Bilateral México-Brasil (COMCE).
Entre as oportunidades identificadas, destacou-se o setor digital, com ênfase na digitalização bancária e nas operações financeiras, considerando as diferenças e semelhanças entre os consumidores brasileiros e mexicanos. O agronegócio, especialmente no que se refere à proteína animal e alimentos preparados, também foi mencionado como uma área promissora. Investimentos brasileiros em várias regiões do México têm gerado novos postos de trabalho e contribuído para a economia local. No entanto, os desafios incluem a necessidade de projetos que respeitem critérios de sustentabilidade, com foco nas facilidades para empresários interessados em investir na Amazônia.
O gerente de Agronegócio da ApexBrasil, André Muller, iniciou o painel sobre “Segurança Alimentar e Controle da Inflação”, destacando a importância da política econômica na questão da segurança alimentar. “Brasil e México são grandes produtores e consumidores de alimentos, e, juntos, esses países impactarão a segurança alimentar global”.
Laudemir mencionou o “Paquete contra la Inflación y la Carestia” (PACIC), implementado pelo México, que isentou impostos de importação para itens da cesta básica, como carnes de aves, suína e bovina, milho, arroz e ovos. Essa medida possibilitou um aumento significativo no volume de exportações do agronegócio brasileiro para o México, que saltou de aproximadamente US$ 1 bilhão para US$ 3 bilhões, com previsão de chegar a US$ 4 bilhões neste ano. A inflação no México, que era de 13%, caiu para 6%. Com isso, o Brasil tornou-se o segundo maior parceiro comercial do México no setor agrícola. Os participantes discutiram a renovação das ações do PACIC e a necessidade de garantias de reciprocidade comercial.
Carolina Machado, gerente de Exportação da Expoente Agronegócios, destacou que o PACIC foi essencial para o aumento das exportações de arroz, que passaram de 32 mil toneladas para 450 mil. Ela assegurou que esse crescimento não afetou a demanda interna. “Temos segurança para atender o mercado mexicano sem prejudicar o mercado interno”, enfatizou.
Embora o feijão seja amplamente consumido nos dois países, sua comercialização ainda apresenta espaço para crescimento. No setor de proteína animal, especialmente a de frango, a diversificação comercial é uma boa notícia para todos os envolvidos, conforme explicou Bruno Ferla, vice-presidente Institucional, Jurídico e Compliance da BRF. “A produção interna de proteínas pode se adequar às demandas sem perder qualidade e competitividade”, afirmou. Muller concluiu, “O PACIC é uma relação de sucesso e devemos seguir e aprofundar esse caminho”.
O CEO da Minerva Foods, Fernando Queiroz, ao ser questionado sobre a capacidade do Brasil de aumentar as exportações, destacou a força do país no setor agro. “Podemos tornar o alimento brasileiro um fator de inclusão e acessibilidade para as classes menos favorecidas ao reduzir ou eliminar barreiras alfandegárias e não-alfandegárias, além de garantir que os produtos sejam produzidos de forma sustentável. O Brasil pode fornecer alimentos de forma competitiva”, afirmou.
O presidente do Consejo Nacional Agropecuario, Juan Gallardo, reiterou que os temas discutidos devem ser prioridades na agenda dos países. “Devemos ser mais sustentáveis, e a ciência e tecnologia terão um papel fundamental na solução dos problemas”. Antonio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), finalizou enfatizando que “o Brasil possui o combo ideal: qualidade, quantidade, competitividade e alinhamento das regras sanitárias”.
No painel sobre “Integração das Cadeias Produtivas em Mobilidade”, representantes de empresas como Embraer, Nissan, Anfavea, Indústria Nacional de Autopartes do México e Associação Mexicana da Indústria Automotora apresentaram avanços do setor de transporte. O segmento enfrenta adaptações e desafios devido à transição energética. Durante o debate, os participantes concordaram que ambos os países necessitam de infraestrutura, o que abre oportunidades para o setor de logística. Novas sinergias nas áreas de energia renovável e biocombustíveis foram identificadas, e a tecnologia é vista como uma grande aliada para ampliar a produção de forma sustentável.
Para encerrar o Fórum, o último painel, moderado por Igor Celeste, gerente de Inteligência de Mercado da ApexBrasil, contou com a participação de representantes do MDIC e de empresas como Natura, Eurofarma, Mabe, Weg, Coca Cola Femsa e InBev. Os participantes foram unânimes ao afirmar que tanto o Brasil quanto o México têm grande potencial para expandir laços econômicos, não apenas através de investimentos estratégicos, mas também por meio da inovação e adoção.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias