Publicado em: 29/10/2013 às 10:10hs
Os preços da carne bovina na maioria dos países aumentou levemente em agosto, comparado com o ano anterior (Figura 1 e 2). O crescimento limitado da oferta, principalmente devido ao declínio nos preços dos alimentos derivados de animais, induziu a uma retenção de rebanho e a contínua forte demanda de importação da Ásia deu suporte a esse desenvolvimento.
Embora a maioria dos países tenha registrado uma melhora nos preços da carne bovina comparado com o ano anterior, os preços australianos declinaram como resultado das condições climáticas negativas. A estação úmida não existente no norte da Austrália forçou os produtores a abater mais animais devido à escassez de alimentos e água.
A indústria global de carne bovina está assistindo ao desenvolvimento da atual saga referente ao uso de beta-agonistas nos Estados Unidos. Depois da indústria de carne suína dos Estados Unidos ter se assustado pela rejeição das exportações de carne suína a alguns países devido ao uso de ractopamina na primeira metade de 2013, o anúncio da Tyson de que, a partir de 6 de setembro, não aceitaria mais gado que tivesse recebido Zilmax está sacudindo a indústria. Apesar do fato de o uso do Optaflexx, outro beta-agonista, não ter sido afetado, essa questão impactará negativamente na oferta de carne bovina dos Estados Unidos e, dessa forma, nos preços globais da carne em um futuro próximo.
O Canadá está passando por um ano incomum nos envios de gado aos Estados Unidos, com os envios de boi gordo caindo em 1%, enquanto as vendas de boi para engorda (+68%) e vacas para abate (+82%) aumentaram respectivamente devido aos altos custos dos alimentos animais e ao fechamento de um processador de vacas de Quebec no final de 2012.
Notavelmente, os preços brasileiros aumentaram devido à menor oferta inesperada e às fortes exportações, que resultaram da desvalorização do real brasileiro com relação ao dólar dos Estados Unidos. Na União Europeia (UE), os mercados estão normalizando após o impacto do escândalo da carne de cavalo no mercado.
Apesar do aumento na produção na Argentina – os abates e a produção de carne bovina aumentaram em 12% e 10%, respectivamente – as exportações estabilizaram devido a uma combinação de tarifas de exportação e a uma taxa de câmbio não competitiva.
Figura 1: Preços médios globais do bovino vivo, em US$/kg
Fonte: Bloomberg, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Meat and Livestock Australia (MLA), NZX Agrifax, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), Instituto Nacional de Carnes do Uruguai (INAC), Instituto de Promoção da Carne Bovina Argentina (IPCVA), Ontario Cattlemen’s Association (OCA), 2013.
T2 = segundo trimestre; T3 = terceiro trimestre
Previsão
Esperamos mais aumentos no mercado global de carne bovina para o restante do ano e em 2014, com a principal questão em muitas regiões no mundo sendo onde obter ofertas suficientes de carne bovina. O declínio nos preços dos alimentos animais apoia a retenção do rebanho, limitando mais a disponibilidade já escassa.
Além disso, a demanda permanecerá forte, com a economia global se recuperando levemente e crescendo continuamente o bem-estar nos mercados em alta da Ásia, especialmente China. Principalmente nos próximos meses, as importações chinesas poderão aumentar devido à aproximação do período de festividades em direção ao Ano Novo Chinês em fevereiro.
Esse desenvolvimento pode mudar os padrões tradicionais de comércio, com os exportadores australianos enviando produtos a esses mercados com rápido crescimento ao invés do tradicional mercado dos Estados Unidos, onde a oferta continuará escassa. Isso dará suporte aos fortes preços, que poderão ser difíceis de serem repassados aos consumidores, mas é positivo que os preços das proteínas concorrentes também devam se manter elevados, limitando a competição.
Atualizações regionais
Brasil
Os preços dos bovinos no Brasil ficaram em média em R$ 102 no terceiro trimestre de 2013, 3% acima do segundo trimestre e 12% acima da média do mesmo período do ano anterior (Figura 3). Esses aumentos nos preços foram resultado de uma oferta menor do que o esperado dos confinamentos e da maior demanda do setor exportador como consequência da desvalorização da taxa de câmbio.
Os efeitos da desvalorização da moeda local se refletiram no crescimento dos volumes de carne bovina exportados, mas também, na queda dos preços médios internacionais em dólares dos Estados Unidos. Os volumes de exportação em agosto foram os mais altos em mais de cinco anos.
Para os primeiros oito meses do ano, as exportações de carne bovina aumentaram em 26% em termos de volume e 20% em termos de valor, apesar de os preços médios de exportação terem declinado em 5,8% durante o mesmo período.
As exportações à Hong Kong até agora nesse ano estão em níveis recordes e, apesar de controles mais rígidos terem sido implementados na fronteira chinesa em agosto, limitando, dessa forma, o comércio no “canal cinza” por um tempo, elas foram relaxadas nas últimas semanas. As exportações à Rússia aumentaram como resultado da desvalorização do Real, parcialmente substituindo as exportações de outros países, como Paraguai e Uruguai.
As margens dos frigoríficos de carne bovina orientados ao mercado doméstico caíram inesperadamente no começo de agosto (Figura 4). Os frigoríficos não foram capazes de transferir os maiores preços dos animais para a cadeia de valor devido ao enfraquecimento da demanda doméstica, o que resultou em grande parte do impacto da inflação (geral) sobre o poder de compra dos consumidores e dos altos preços. As margens dos frigoríficos de carne bovina se recuperaram rapidamente a partir do meio de agosto para frente devido ao crescimento sazonal da oferta.
Para o quarto trimestre, o Rabobank espera que os preços dos animais vivos no Brasil continuem se fortalecendo, liderados pela maior demanda de exportação e menor disponibilidade de animais alimentados com grãos e pasto depois que o crescimento sazonal da oferta enfraquecer. Entretanto, o aumento dos preços provavelmente será limitado devido à competição com outras proteínas.
Fonte: Beef Point
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