Publicado em: 02/04/2024 às 15:20hs
Eles foram citados como Peste, Guerra, Fome e Morte. Mas, você deve estar se perguntando, qual a relação desse acontecimento com o agronegócio brasileiro? Bem, o mundo hoje passa por uma verdadeira batalha, que envolve o futuro da população e nessa “guerra”, o Brasil tem protagonismo para liderar o cenário contra os desafios dos “quatro cavalheiros do apocalipse”, não mais em um possível juízo final como o que esperam em 1500 e sim, o que enfrentamos agora no século 21, sendo eles: segurança alimentar, segurança energética, mudanças climáticas e desigualdade social.
Porém, ser capaz não quer dizer que esse caminho é fácil ou que exista uma receita para isso. Nesse sentido, diria que a cooperação e a inovação possuem papéis cruciais nessa jornada. Antes de dizer como, é preciso explicar como chegamos até aqui. O setor hoje se destaca como um dos pilares fundamentais da economia nacional, impulsionando não apenas a atividade rural, mas também influenciando o panorama econômico e social do País. Não vamos nos limitar apenas à produção agrícola, afinal, é uma complexa rede que se estende desde a pesquisa científica, até a comercialização do consumidor lá na ponta final. É também um conjunto de ações que transformam sementes em produtos e estes chegam aos lares no mundo todo.
O detalhe é que o Brasil é singular nesse aspecto, com características únicas e que forma um conjunto muito particular. Com sua vasta extensão territorial e diversidade climática, o país abriga uma agricultura multifacetada, onde cada região tem sua especialização. Desde a produção de uvas no Rio Grande do Sul até o cultivo de café no Espírito Santo, por exemplo, a classe produtora é verdadeiramente plural, refletindo a riqueza cultural e a disparidade regional.
Os impressionantes números que envolvem o setor, comprovam tudo isso. O impacto do agronegócio na economia brasileira é inegável. Responsável por quase 30% dos empregos no país e representando cerca de 25% do PIB, o segmento é um dos pilares fundamentais do crescimento econômico. Com um saldo comercial positivo, as exportações agrícolas atingiram a marca de US$ 166 bilhões, enquanto as importações ficaram em torno de US$ 90 bilhões. Esse saldo crescente não apenas gera renda e riqueza, mas também fortalece as reservas cambiais.
E um dos fatores cruciais por trás deste cenário é, sem dúvida, a adoção de tecnologias sustentáveis e tropicais. Ao longo das últimas décadas, o Brasil testemunhou um incrível avanço na produção, principalmente, impulsionado pela incorporação de tecnologias inovadoras. Desde o Plano Collor em 1990, que viu um aumento significativo na área plantada e na produção de grãos, até os dias atuais, onde se destaca como o único país capaz de realizar até três safras por ano em uma mesma área, claro, lembrando que isso graças à irrigação e à rotação de culturas, além de outras ações.
Esse crescimento exponencial é fruto de quatro condições-chave que encontramos em nosso país. Primeiro, desenvolvemos tecnologias tropicais sustentáveis líderes no mundo. Segundo, contamos com produtores empreendedores que abraçaram e continuam a acatar essas inovações. Terceiro, possuímos vastas extensões de terra disponíveis para expansão das atividades. E por último, mas não menos importante, contamos com políticas públicas que fomentam esse crescimento.
No entanto, apesar desses avanços, o setor enfrenta também desafios significativos. A logística deficiente é um importante gargalo, especialmente nas regiões de fronteira agrícola, como o Centro-Oeste, que representa um obstáculo ao crescimento contínuo. Durante um evento no início desse mês, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) debateu os desafios para o escoamento da safra brasileira nos próximos anos, em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado.
Na ocasião, a Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da Confederação divulgou que a infraestrutura não tem acompanhado a evolução na produção. Recentemente, por exemplo, nos portos do Arco Norte, por reflexo da grave seca que atingiu os rios da região, precisou alterar a logística de escoamento de boa parte da produção para os portos do Sul e Sudeste.
Outro ponto de destaque é a armazenagem das safras, tema que levantamos quase diariamente no setor. Segundo a CNA, a capacidade de armazenagem cresceu 3,5% ao ano e a produção 5,3% em 2024, apresentando um déficit de 118,7 milhões de toneladas. Ou seja, é evidente que logística e capacidade de armazenagem não estão acompanhando a evolução cada vez maior da safra de grãos.
Soluções como os silos-bolsas, por exemplo, que o Grupo Nortène oferece à classe produtora, são opções que devem ser incentivadas. Elas ajudam a diminuir esse déficit, preservando a qualidade dos grãos e deixando margem para que o produtor possa escolher o melhor momento de comercializá-los.
Além disso, temos ainda questões como desmatamento ilegal na Amazônia, invasão de terras e os incêndios criminosos que ameaçam a sustentabilidade ambiental do setor. Com todo este cenário, fica evidente que o Brasil não pode ser considerado apenas uma força econômica, mas também um agente de mudança social e ambiental. Com sua capacidade de gerar empregos, renda e riqueza, o agronegócio desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do Brasil e na construção de um futuro mais sustentável para o planeta.
Por meio de iniciativas como as das cooperativas agrícolas e investimentos em infraestrutura e apoio do Governo, o agronegócio pode alcançar novos patamares. Com um foco renovado na sustentabilidade, o setor está posicionado para liderar a luta global contra “os quatro cavaleiros do apocalipse”.
Roberto Rodrigues - Engenheiro Agrônomo e agricultor, Professor Emérito da FGV, Embaixador Especial das Cooperativas da FAO, Ex-ministro da Agricultura, conselheiro no Grupo Nortène
Fonte: Ruralpress
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