Publicado em: 20/08/2025 às 08:10hs
A nova política tarifária imposta pelos Estados Unidos pode parecer, à primeira vista, um problema diplomático ou econômico de ordem macro. Mas, na prática, os primeiros a sentir os efeitos da decisão são os pequenos empresários brasileiros que vivem da exportação. Quando o principal parceiro comercial do país adota medidas unilaterais e imprevisíveis, não é só o agronegócio e tantos outros setores que perdem. O país inteiro perde estabilidade, competitividade e confiança.
No papel, a medida anunciada pelos EUA aumenta em até 50% as tarifas sobre produtos como carne, café, pescados e frutas, alguns dos principais itens da balança comercial entre os dois países. Na realidade, ela desmonta contratos, desestrutura cadeias produtivas e sufoca quem já opera com margens apertadas. Para o pequeno exportador, não existe espaço para absorver essa mudança sem impacto direto. Os embarques são cancelados, a produção encalha, o faturamento despenca. E, se a operação quebra, a economia local também sofre.
No Rio Grande do Norte, onde acompanho de perto o setor produtivo, já observamos os primeiros sinais desse movimento. O estado é um dos maiores exportadores de atum e pescado do país. Com a perda de competitividade lá fora, produtores são obrigados a vender no mercado interno, o que pressiona preços, aumenta o risco de perdas e pode levar a demissões. Em casos como o sal marinho e as frutas frescas, o efeito pode se estender ao transporte, ao armazenamento, aos serviços portuários e até ao comércio das cidades que dependem desse ecossistema.
Essa instabilidade não é um episódio isolado. Ela escancara a fragilidade das relações comerciais internacionais quando falta previsibilidade e diálogo institucional. O Brasil precisa reagir com estratégia, articulação diplomática e apoio real à base da cadeia produtiva. Não basta esperar que as grandes empresas absorvam o impacto e puxem o setor para cima. É preciso proteger também quem está começando, quem investe sem acesso a crédito abundante, quem ainda não diversificou mercados. A política externa precisa enxergar os pequenos negócios como parte essencial da economia.
Enquanto a recuperação não vem, os efeitos se espalham: retração de produção, risco de desabastecimento, oscilação nos preços internos, queda da renda, demissões e redução do consumo. O tarifaço, portanto, não é um problema distante, ele já é parte do nosso presente. E só será possível enfrentá-lo com articulação firme, sensibilidade para quem está na base da cadeia e decisões que realmente alcancem os pequenos e médios negócios que sustentam a economia brasileira.
Fabio Saraiva é advogado, presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários e Diretor Jurídico da CDL Natal.
Fonte: TGCom
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