Publicado em: 30/08/2013 às 08:30hs
Eram pouco mais de 6h e o ônibus da USP de Piracicaba, repleto de estudantes, acabara de deixar as dependências do Campus “Luiz de Queiroz”. Era 15 de julho, a última segunda-feira na qual partiam para ficar longe de casa e da família por uma semana. Passadas duas horas de viagem, o ônibus chegara ao seu destino. Os alunos estavam prestes a iniciar a derradeira jornada de trabalho no Estágio de Férias da Estação Experimental do Departamento de Ciências Florestais (LCF), em Itatinga (SP), localizada a 164 km de Piracicaba.
Com o intuito de oferecer aos alunos do curso de Engenharia Florestal a oportunidade de estarem em campo, executando atividades práticas e conhecendo de perto o que é o dia a dia do engenheiro florestal, o LCF promove, duas vezes ao ano, o Estágio de Férias. A atividade de extensão é direcionada para alunos do 1º ano de graduação, ao final do 1º e 2º semestres, em julho e em janeiro, respectivamente.
Em execução desde 2.000, o projeto é atualmente coordenado por João Luís Ferreira Batista, Luciana Duque Silva e Fernando Seixas, professores do LCF, com o apoio técnico de Rildo Moreira e Moreira. Professor da disciplina Introdução à Engenharia Florestal, Fernando Seixas seleciona os alunos inscritos a partir de suas médias do 1º semestre. São 12 vagas em cada edição, que contemplam os alunos com melhores notas. “Como sou responsável pela disciplina de introdução, observei que o aluno estava iniciando o curso, muitas vezes, sem saber com convicção o que era engenharia florestal. Este aluno precisava ter um contato mais prático”, afirmou Seixas.
Durante as três semanas nas quais se estendem o estágio, os alunos são divididos em três grupos. Dessa maneira, executam, rotativamente, atividades em três áreas da engenharia florestal que a estação experimental comporta em suas dependências. São realizados trabalhos práticos em silvicultura, inventário florestal e viveiro de mudas.
Na atividade no viveiro de mudas, os estagiários participam de todas as etapas. Partem dos processos mais simples, como lavagem de bandejas, onde posteriormente fazem a aplicação de terra, irrigam as mudas e fazem plantio. Laís Verdi Angelocci, participante do estágio de férias diz que, juntamente com os outros estagiários, trabalha oito horas por dia durante os dias em que fica alojada na estação. Em contrapartida, reconhece a importância de experiências como essa. “Faz diferença concluir o curso de Engenharia Florestal com passagem pela Estação Experimental. Estaremos, com certeza, mais preparados para escolher até mesmo em que área atuar quando nos formarmos”, completa.
Com a ajuda de aparelhos e por meio de métodos matemáticos, a atividade prática de inventário florestal também acontece em campo. Nesta área, o engenheiro é responsável por quantificar a produção de árvores por hectare de uma propriedade, mensurando, além da quantidade, a altura e largura. O professor João Luís Ferreira Batista é quem coordena e orienta os estagiários nesta atividade. “Nós não temos tempo hábil para realizar uma aula prática como essa. Acredito que a atividade prática em campo é muito mais produtiva e valiosa do que a eventual exposição que fazemos em sala de aula.”
Em silvicultura, os estagiários executam o plantio, adubação e irrigação no campo. Fazem, também, amostragem de solo, coleta de serrapilheira, coleta pluviométrica, poda, desrama e combate às formigas. Durante esta etapa, também auxiliam os pós-graduandos que usam o espaço da estação para realizar seus estudos.
A professora Luciana conta que, desde 2010, há um fator que têm colaborado muito com as atividades realizadas pelos alunos. “Os monitores têm garantido que os estagiários atinjam os objetivos do projeto de forma ainda mais satisfatória”.
Segundo a docente, os monitores são alunos ou pós-graduandos com perfil comunicativo e com habilidades nas áreas desenvolvidas dentro da estação. Na maioria dos casos, estes, se candidatam voluntariamente por já terem passado pela estação por meio do projeto de estágio de férias. “A presença dos monitores cria um circulo de informações junto dos alunos durante as atividades, que garante a troca de experiências para ambos. Os monitores se sentem mais seguros de seu conhecimento por estarem ensinando a acabam notando seu próprio potencial”, conta. Luciana diz ainda que, os alunos, ainda no começo do curso, acabam tendo o primeiro contato com os trabalhos de iniciação científica e pós-graduação.
Moreira e Moreira conta que muito foi pensado para que o Estágio de Férias chegasse ao padrão de didática que possui atualmente. “Hoje estamos bem mais perto do nosso objetivo. Nós já trabalhávamos aqui e vários professores concordavam que a vivência prática poderia contribuir na aprendizagem do aluno”, completa.
Luciana Duque Silva, afirma que, por meio do estágio de férias, os professores se aproximam dos alunos. Desta forma, descobrem as dificuldades da maioria, e o que pode ser feito para melhorar os métodos de ensino em sala, em campo, e também durante as atividades de estágios.
Segundo Fernando Seixas, o estágio tem reconhecimento no meio profissional e acadêmico, por proporcionar experiência única em campo para alunos que estão ainda no início do curso. “As empresas querem alunos que tenham experiência, pois querem resultado. O estágio de férias é o primeiro passo para eles ingressarem neste mercado, pois dentro do estágio eles têm contato direto com a atividade, e de forma didática”, conclui.
Ciência a céu aberto
Uma das pesquisas realizadas na estação, que recebe o apoio dos estagiários, é a de Alexandre de Vicente Ferraz, doutorando em Recursos Florestais. Seu trabalho consiste em avaliar o efeito residual da aplicação de lodo no solo, em plantio de eucalipto. Segundo Ferraz, desde 1998, quando fora aplicado lodo pela primeira vez no solo da estação, têm sido realizado uma série de estudos para identificar os pontos positivos e negativos que esta alternativa de adubação possa causar.
Os resultados em relação ao aumento de nutrientes no solo, por exemplo, são visíveis. As árvores plantadas em solo com aplicação de lodo estão duas vezes maiores do que as plantadas em solo comum. No entanto, a preocupação do pesquisador é relacionada com os metais pesados que esse lodo, oriundo de estações de tratamento de esgoto, de regiões metropolitanas, possa ter passado para o solo. “Se um pequeno produtor aplicar o lodo e quiser mudar seu cultivo de eucalipto para tomate, a presença de metais pesados no alimento seria preocupante. A pesquisa tem como objetivo provar que não existe esse problema, por conta da ciclagem de nutrientes realizada pela própria floresta. Até o fim do ano este trabalho será concluído e, até então os resultados tem sido otimistas”, completa.
Histórico
Desde 2.000, 500 alunos passaram pela Estação Experimental de Itatinga por meio do Estágio de Férias. Realizaram o estágio de longa duração, por seis meses, 260 alunos. Ao todo, entre 1.999 e 2.012, foram realizadas na estação 25 teses de mestrado e 13 de doutorado e, atualmente, estão sendo desenvolvidos 20 trabalhos de pós-graduação. A área total da estação é 2.110 hectares, sendo 1.102 ha arrendados e, 1.008 ha utilizados para as atividades desenvolvidas pela ESALQ.
Fonte: Assessoria de Comunicação USP ESALQ
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