Publicado em: 04/11/2009 às 13:05hs
O carvão vegetal é uma ótima solução tecnológica para ampliar nossa produção de ferro e aço e, ao mesmo tempo, dar impulso às pequenas propriedades que se localizam em regiões montanhosas, como é o caso da Zona da mata mineira. O carvão vegetal continua injustamente estigmatizado pela sua história passada e por alguns episódios remanescentes, mas nada disso justifica que em algumas reportagens sobre sua produção continuem aparecendo antigas fotografias de crianças nas carvoarias. Não vejo, contudo, fotografias das modernas praças de carbonização ou até mesmo dos fornos contínuos que começam a ser implantados. A má vontade, neste caso, sobrepuja quaisquer das novas tecnologias e das análises racionais já disponíveis. Desconsidera, além disso, o fato de o Brasil ser o único país a dominar tanto a tecnologia de produção do carvão vegetal quanto sua utilização em processos siderúrgicos.
É evidente que são as extensas plantações contínuas de eucaliptos, adotadas pelas empresas consumidoras e que precisam caminhar para a autossuficiência, as principais alimentadoras dos críticos. Mas por que não adotar a produção por pequenos produtores, evitando as áreas contínuas, diversificando a atividade, facilitando a inclusão econômica e incentivando o associativismo? Por que não fomentar também um parque siderúrgico constituído de pequenas empresas produtoras de gusa, integradas a uma grande aciaria? O presidente Lula está certo em brigar por maior agregação de valor ao nosso minério, mesmo errando no método, com a tentativa de “intervenção” na vale, mas não vejo nenhum estímulo à descentralização, com políticas industriais acopladas a políticas de desenvolvimento rural. Talvez porque os comandantes das políticas de desenvolvimento dos governos sejam todos oriundos dos ou ligados aos grandes conglomerados.
Em algumas regiões de Minas Gerais está havendo um preocupante aumento de reflorestamento com eucalipto em pequenas propriedades. Preocupante porque não há nenhuma atitude do poder público em orientar esse movimento e trabalhar na indução de mercados consumidores. Vejo, ao contrário, o olho grande na cobrança de impostos e taxas e na manutenção de burocracias injustificadas e até imperdoáveis, criadas para facilitar a arrecadação. Mas o importante seria ver: instituições públicas trabalhando em prol da aproximação desses reflorestadores com as indústrias consumidoras de madeira e carvão vegetal; programas de capacitação tecnológica e de gestão de pequenos negócios; sistema de gestão que pudesse transferir tecnologias para os produtores, de forma contínua e permanente. A região tem ferrovias (com muitos ramais abandonados), minério de ferro, potencial para produzir carvão e é dominada por pequenas propriedades (menores do que 100 hectares). Mas onde estão os programs de desenvolvimento industriais e rurais?
O que nos chega, entretanto, são notícias de governos empenhados nos incentivos às instalações de novos gigantes que vão importar o coque ou o carvão mineral, sua matéria-prima. Dirão os entendidos que é tudo por causa da escala de produção e que os guseiros de Sete Lagoas, Divinópolis e arredores acabarão sendo engolidos pela globalização. E os pequenos produtores rurais, nesta lógica, farão melhor se destinarem as suas propriedades às causas ambientais e virarem empregados dos grandes conglomerados. Acho que só me resta a alternativa de continuar sonhando com programas induzidos (não impostos) de colaboração entre indústrias e produtores rurais, por meio da disponibilização de recursos tecnológicos e financeiros. Esses programas poderiam se tornar a salvação da lavoura para os dois segmentos. Os governos, quando querem, são capazes de fazer ocorrerem coisas muito mais difíceis.
Oswaldo Ferreira Valente, engenheiro florestal, professor aposentado da Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Fonte: O Estado de Minas
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