Mercado Florestal

Restauração florestal é solução para os desafios socioeconômicos e ambientais do Brasil

Parece um contrassenso que um país com mais da metade de seu território coberto por florestas precise reflorestar


Publicado em: 25/02/2021 às 12:40hs

Restauração florestal é solução para os desafios socioeconômicos e ambientais do Brasil
Foto: Crédito - Edson Vidal.

Mas é exatamente esse o caso do Brasil. O país tem uma grande quantidade de áreas de baixa aptidão agrícola, que sofreram desmatamento e foram degradadas e abandonadas. Hoje são áreas que não trazem qualquer benefício para a sociedade, pois não geram riqueza e serviços ecossistêmicos importantes para o bem estar da população. Muito pelo contrário, são áreas que resultam num enorme custo para a toda sociedade.

A restauração dessas áreas, no entanto, pode recuperar sua produtividade e gerar grandes oportunidades econômicas para o país, seja para os produtores rurais como para toda a sociedade. “São inúmeras as oportunidades de geração de emprego e renda com a restauração florestal”, explica Miguel Calmon, consultor sênior do Programa de florestas do WRI Brasil – uma das organizações no País que tem apoiado diversas iniciativas de restauração em todo o território nacional através da produção e disseminação de conhecimento e tecnologia, aplicação de ferramentas e articulação dos atores-chaves que podem se beneficiar da restauração.  “A restauração florestal pode ser feita de várias formas, de acordo com a necessidade, uma vez que as florestas plantadas com espécies nativas podem gerar renda e recursos para o Brasil através da produção de produtos madeireiros e não-madeireiros, como frutas, castanhas e sementes, ou ainda em consórcio com culturas como café, cacau ou erva-mate”, detalha.

A área disponível com potencial para restauração florestal no Brasil é imensa. Estudos da Embrapa  indicam que há impressionantes 100 milhões de hectares de pastagens que precisam ser restaurados para assegurar a produtividade da agropecuária. Outro estudo, publicado na revista científica Science,  aponta para a necessidade de recomposição de 21 milhões de hectares de vegetação para o cumprimento do Código Florestal – a lei federal 12.651 de 2012, que determina a conservação de vegetação nativa nas propriedades rurais.  Além disso, o Brasil é um dos poucos países que tem uma política e plano para recuperação da vegetação nativas (PROVEG/PLANAVEG). Nesse contexto, a restauração surge como uma excelente alternativa para o desenvolvimento econômico sustentável do Brasil, pois permite que essa recomposição seja feita em sinergia com a produção de alimentos através de sistemas agroflorestais (SAFs), sistema de integração Lavoura-Pecuária-Florestas (iLPF) e sistema silvipastoril (SSP), que integram silvicultura com agricultura e pecuária. A necessidade de restauração também está na agenda internacional do Brasil. O país se comprometeu, no Acordo de Paris, a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. 

A recuperação de áreas críticas para a oferta de água potável, como rios e áreas de recarga como topos de morro, torna a propriedade mais resiliente a secas e reduz a erosão e perda de fertilidade do solo. Ela pode também gerar pagamento por serviços ambientais com a melhoria da qualidade de água e sequestro de carbono, que já é praticado em alguns municípios e estados brasileiros.

O aumento da diversificação também favorece a produção agropecuária que se beneficia da sombra gerada pelas árvores e gera renda através de produtos não-madeireiros. O sucesso nacional e internacional do açaí é um grande exemplo do mercado para os produtos florestais que contribuem para a bioeconomia no Brasil. Além disso, frutas, castanhas, nozes, sementes, fibras, óleos, borracha e fármacos contribuem para uma economia sustentável em torno da floresta.

No Pará, por exemplo, o projeto Camta implanta sistemas agroflorestais para produção de madeira (mogno), açaí e cacau para chocolate. Já a Futuro Florestal, em Garça (SP), produz café consorciado com árvores nativas e exóticas. No Sul, a erva-mate prospera à sombra de árvores, e pode ser produzida consorciada com araucárias, por exemplo, que podem ser usadas tanto para madeira quanto para o pinhão. Casos de sucesso como esses foram levantados pelo Projeto Verena, do WRI Brasil. A coleta e modelagem financeira dos casos permitiu mostrar que a restauração de áreas degradadas através da silvicultura de nativas e SAFs é viável economicamente, com retornos de investimento compatíveis com o retorno das culturas com mercados já estabelecidos.

As árvores também podem ser benéficas para a pecuária. A introdução de árvores melhora a qualidade do pasto, da água que vai servir aos animais, e produz sombra para o conforto térmico do gado. O resultado é que melhores condições para os animais resultam em carne de melhor qualidade e aumenta a resiliência à eventos extremos que são cada vez mais frequentes por causa das mudanças climáticas.

Para mostrar como a restauração gera benefícios socioeconômicos e ambientais para os produtores rurais e suas famílias, o WRI Brasil produziu a websérie As Caras da Restauração. São cinco episódios contando a experiência bem sucedida de distintos produtores – desde investidores profissionais a agricultores familiares, passando por cooperativas – em três biomas diferentes: floresta amazônica, caatinga e mata atlântica. 

O WRI Brasil desenvolve pesquisas e estudos sobre restauração, promove articulação entre os atores interessados nos benefícios da restauração e atrai recursos para acelerar e aumentar a escala da restauração florestal. Entre as linhas de atuação do WRI Brasil estão o desenvolvimento de uma economia florestal com espécies nativas e sistemas agroflorestais; a articulação e parceria com empresas, governos, academia e sociedade civil para acelerar e dar escala à restauração; a promoção da igualdade de gênero e da adaptação climática nos projetos de restauração; o apoio ao desenvolvimento de sistemas de monitoramento da restauração; a restauração para melhoria da qualidade da água via infraestrutura natural; e aplicação de uma metodologia participativa para identificação de oportunidades de restauração na escala da paisagem (ROAM).

Para mais informações, visite.

Fonte: AViV Comunicação

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