Mercado Florestal

Câmbio e demanda favorecem a celulose

Os preços de referência da celulose subiram 5,5% nos últimos 12 meses, o que contrasta com um declínio de 25% no índice de commodities da Bloomberg, que monitora petróleo, minério e soja


Publicado em: 11/06/2015 às 17:50hs

Câmbio e demanda favorecem a celulose

Os exportadores brasileiros têm visto os ganhos potenciais gerados pela maior alta do dólar em seis anos serem corroídos pela queda nos preços das commodities e a alta nos custos. Os fabricantes de celulose são a exceção.

Enquanto as margens brutas de lucro dos produtores de minério de ferro, carne bovina e soja caíram, emmédia, 4,6 pontos percentuais no primeiro trimestre, para 18%, as margens das fabricantes Suzano Papel e Celulose e Fibria Celulose subiram 9,9 pontos percentuais, para 36%, em média, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O real se desvalorizou em 17% em relação ao dólar nos três meses até 31 de março, a maior queda entre as principais moedas, enquanto a economia brasileira caminha para a pior recessão desde 1990. O dólar mais forte aumenta as receitas dos exportadores, já que eles passam a receber mais reais para cada dólar pago no exterior. No entanto, de modo geral, esse ganho tem sido anulado por quedas ainda maiores nos preços das commodities e no volume de embarques, bem como por uma expansão nos custos de produção. Isso não ocorre com os produtores de celulose, que vêm conseguindo aumentar seus preços em dólar. "O setor de celulose está em um momento muito positivo", disse Victor Penna, analista sênior de ações do BB Investimentos.

"A demanda da China está bastante forte e deve se manter em níveis altos nos próximos anos." Os preços de referência da celulose subiram 5,5% nos últimos 12 meses, o que contrasta com um declínio de 25% no índice de commodities da Bloomberg, que monitora uma cesta de produtos primários, como petróleo, minério e soja.O lucro bruto da Suzano subiu 95% no primeiro trimestre, o maior crescimento entre as empresas presentes no Ibovespa, para o patamar recorde de R$ 759 milhões. O lucro bruto da Fibria deu um salto de 83%, o maior depois do da Suzano, atingindo a marca histórica de R$ 725 milhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A Fibria teve a maior margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização entre os 45 membros do Bloomberg World Forest Products Paper Index no último trimestre, com 49%. Suas ações acumulam alta de 32% neste ano, enquanto a Bovespa subiu 6 %. A companhia obtém cerca de 90% de suas receitas com exportações, o que significa que uma desvalorização de 10% no real adiciona cerca de R$ 760 milhões ao seu fluxo de caixa, disse o CEO Guilherme Cavalcanti. "A taxa de câmbio é o principal impulsionador", afirma o executivo.

A demanda forte de China, Estados Unidos e Europa provavelmente permitirá que a Fibria aumente os preços da celulose em US$ 20 a tonelada neste mês, disse Cavalcanti, em 20 de maio. Outros exportadores brasileiros veem margens encolher A margem bruta da Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, caiu cerca de 24 pontos percentuais, para 16,9%, a maior queda entre as empresas exportadoras brasileiras. A margem do produtor de carne bovina Marfrig Global Foods caiu 2,2 pontos percentuais e a de sua rival Minerva caiu 1,5 ponto percentual.

"Em parâmetros constantes, a desvalorização do real é positiva para a Marfrig no médio prazo", afirmou a empresa sediada em São Paulo, que não aproveitou plenamente a desvalorização cambial no primeiro trimestre por causa da alta volatilidade da taxa de câmbio. A Minerva se recusou a comentar e a Vale não respondeu aos pedidos de entrevista.

"O excesso de oferta em alguns mercados de commodities, como minério de ferro, e a desaceleração de alguns blocos econômicos fizeram os preços cair e eliminaram o efeito positivo do enfraquecimento da moeda", disse Marco Aurélio Barbosa, chefe de pesquisa de ações da CM Capital Markets. "Essa questão cíclica tem sido muito mais importante para os resultados de exportadores de matérias-primas do que a mudança acelerada das taxas de câmbio no Brasil." Os lucros dos exportadores também foram atingidos pela subida dos custos de produção, incluindo um aumento de 8% no preço do diesel, disse Fabio Silveira, sócio da consultoria GO Associados. "O Brasil tem problemas graves de competitividade. Nós não podemos esperar outra depreciação da moeda principal para resolvê-los, porque a inflação já é muito alta."

Fonte: Brasil Econômico

◄ Leia outras notícias