Mercado Florestal

Setor florestal brasileiro aproveita COP30 para reforçar o reconhecimento global e a sustentabilidade

Presidente da Florestar fala sobre as expectativas para o encontro global, os debates sobre a produção responsável e o papel das florestas cultivadas na economia


Publicado em: 30/10/2025 às 08:00hs

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Foto: Florestar

Manoel Browne: Presidente da Florestar
Por: Martha Kienast

Com a COP30 chegando ao Brasil em novembro de 2025, no Pará, a atenção do mundo se volta para a Amazônia e para os debates sobre mudanças climáticas, já que o evento reunirá referências mundiais no setor. Entre os segmentos que veem na conferência uma grande oportunidade para ampliar o diálogo global, está o setor florestal, que busca mostrar como as empresas da indústria de árvores cultivadas atuam de forma organizada, responsável e com práticas produtivas e ambientais equilibradas, conciliando produtividade e preservação ambiental. 

Entre certificações internacionais, geração de créditos de carbono e desenvolvimento de milhares de produtos de fontes renováveis, o setor pretende reforçar seu papel estratégico para a economia e para o equilíbrio do planeta. O presidente da Indústria Florestal Paulista (Florestar), Manoel Browne, entidade que representa o setor e tem papel ativo na defesa de políticas de valorização das florestas cultivadas e dos produtos de origem renovável dentro do Estado de São Paulo, fala sobre as expectativas para o evento global e como o segmento pode aproveitar a COP30 para consolidar seu reconhecimento e fortalecer políticas públicas de sustentabilidade.  

A COP30 será realizada no Brasil, com foco na Amazônia. Como a Florestar vê esse momento para ampliar o diálogo sobre o setor florestal? 

As atenções do mundo estarão voltadas para o Brasil. Temos uma ótima oportunidade para mostrar como nosso setor e as empresas de base florestal, de árvores cultivadas para fins industriais, são organizadas e atuam de forma responsável, com práticas produtivas e ambientais muito bem equilibradas. Se o Brasil é líder em produção de celulose, por exemplo, é porque muito trabalho foi feito. E isso envolve certificações internacionais, que passam por condicionantes ambientais e sociais. Atuamos em um setor que planta árvores, que captam carbono da atmosfera e recuperam áreas degradadas. É um setor que preserva áreas nativas além do que é exigido por lei. Produzimos matéria-prima biodegradável, de fonte renovável, para fabricar produtos que todo mundo usa todos os dias. E muita gente não sabe disso.  

Quais oportunidades a COP30 oferece para que o setor de árvores cultivadas seja mais reconhecido nas políticas ambientais nacionais? Quais são as principais pautas que a entidade deseja colocar em evidência? 

Entendemos que o setor de árvores cultivadas é um grande gerador de créditos de carbono. Esse mercado, ainda em processo de regulação, precisa avançar para que as empresas sérias, que têm compromisso com o meio ambiente, possam ser recompensadas por isso. Naturalmente, independentemente de exigências de certificações ou da legislação ambiental, as empresas que plantam árvores para fins industriais já geram diversos benefícios para o planeta. Elas têm o maior interesse em que haja equilíbrio entre produção e preservação. 

Queremos que os produtos feitos com madeira de árvores cultivadas sejam mais reconhecidos e valorizados. A população mundial precisa de papel, embalagens de papel, papelão, papéis sanitários, fraldas, absorventes, utensílios de madeira. A celulose é matéria-prima para uma diversidade de produtos. Além dos diferentes tipos de papel, ela também é usada na fabricação de cápsulas de medicamentos, tecidos sintéticos e cremes. A madeira está nos móveis, nas nossas casas, nas portas, nos acabamentos. E toda essa matéria-prima vem de uma fonte renovável: as florestas cultivadas. 

O setor florestal paulista tem mostrado resultados expressivos em produção e sustentabilidade. Além disso, a produção de eucalipto e pinus cresceu mais de 30% em um ano. Por favor, reforce ao leitor como esse avanço pode ser usado como exemplo de desenvolvimento sustentável: 

As empresas associadas à Florestar, que atuam no setor florestal paulista, são altamente especializadas e profissionais. Trabalham com o que há de melhor em tecnologia e contam com pessoal altamente capacitado. Isso é resultado de décadas de investimentos e desenvolvimento, refletidos nesses números. 

Em recente divulgação do IBGE, o PEVS 2024, que trata dos valores da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura, mostrou que a silvicultura brasileira tem uma parcela importante na economia nacional ao longo dos últimos anos. Como São Paulo aparece nessa pesquisa? 

De acordo com o PEVS 2024, divulgado no fim de setembro pelo IBGE, a silvicultura brasileira gerou mais de R$ 37 bilhões em 2024. O crescimento foi de 17% em relação a 2023, quando o país alcançou a marca de R$ 31,7 bilhões. Quando olhamos para o estado de São Paulo, essa porcentagem é ainda maior: 29%. Em 2023, a silvicultura paulista gerou cerca de R$ 4,5 bilhões. Em 2024, esse valor subiu para R$ 5,7 bilhões, sendo que a madeira em tora para papel e celulose foi responsável por R$ 3,8 bilhões do Valor Bruto da Produção (VBP) da silvicultura paulista. 

A diversidade de bioprodutos gerados pelas florestas plantadas é enorme. Como esse potencial pode ser aproveitado de maneira mais efetiva em políticas públicas? 

De diversas formas. Primeiro, precisamos avançar com a regulação do mercado de carbono. O setor de florestas cultivadas é um grande credor nesse sentido e precisa ser recompensado de alguma maneira. Depois, é necessário incentivar o consumo de produtos biodegradáveis de fontes renováveis, como os feitos com madeira ou derivados de florestas cultivadas.  Já é possível fabricar uma série de produtos substituindo matéria-prima de origem fóssil por derivados de madeira, desde cápsulas de remédios até tecidos, além de fomentar a utilização de madeira na construção civil. 

Quais as vantagens do uso da madeira na construção civil? 

Diferentemente de países desenvolvidos, vemos poucas construções com madeira aqui no Brasil. Existe um potencial enorme na construção civil para o uso da madeira proveniente de florestas plantadas, não apenas em casas, mas também em prédios. Esses projetos podem ser mais baratos, rápidos e apresentar uma pegada de carbono muito menor do que as construções tradicionais, feitas de concreto e aço. 

Fonte: Oficina das Palavras

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