Publicado em: 04/12/2025 às 19:36hs
Fernanda Abilio: Diretora-executiva da Florestar – Indústria Florestal Paulista
Por: Davi S. Etelvino
Fernanda: Este ano a área com florestas plantadas afetada por incêndios foi muito menor, uma queda de 44% em relação ao ano anterior. Também observamos diminuição nas ocorrências, que passaram de cerca de 2 mil registros em 2024 para 1.200 neste ano. As equipes de combate do setor florestal tiveram ótima eficiência. Em média, levaram até 29 minutos da detecção até a chegada da brigada ao local do incêndio, um dado admirável considerando a distribuição territorial das florestas no estado.
São resultados de um trabalho contínuo das empresas, que ao longo dos anos vêm aprimorando seus sistemas de prevenção e monitoramento, analisando dados históricos, estudando previsões climáticas e mantendo investimentos consistentes em tecnologia, infraestrutura, capacitação de equipes e programas de conscientização.
Além dos resultados operacionais, avançamos em aspectos institucionais. A Florestar consolidou parcerias público-privadas e estreitou seu relacionamento com órgãos públicos do Governo do Estado de São Paulo. Fortaleceu também o alinhamento e a atuação conjunta das empresas florestais.
Hoje o setor florestal opera uma das maiores estruturas privadas de prevenção e combate a incêndios do país. Somente no estado de São Paulo, são pelo menos 3 mil brigadistas, 500 veículos de apoio, 240 caminhões-pipa e mais de 30 mil quilômetros de aceiros feitos anualmente.
Conta com centrais de monitoramento, torres equipadas com câmeras de alta definição e inteligência artificial, comunicação integrada e equipes distribuídas em diferentes regiões do estado. Essa estrutura cobre mais de 1 milhão de hectares, entre florestas plantadas e nativas, e adicionou no ano de 2025, mais 840 mil hectares de Unidades de Conservação em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.
Em 2025, a Florestar firmou um Acordo de Cooperação com a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL). Qual a importância desse passo?
Foi um marco importante. O acordo formalizou uma relação institucional construída ao longo dos anos entre o setor florestal e o Governo do Estado. Estabelece bases claras para o trabalho conjunto, reforça a confiança mútua e consolida o setor como parceiro da agenda ambiental e da proteção do território paulista.
Dentro desse acordo, oficializamos o PAM Florestal, que é um programa de auxílio mútuo entre as empresas. Também ajudamos a estruturar o monitoramento das Unidades de Conservação sob gestão da SEMIL junto às centrais das empresas. Este monitoramento permitiu que alertas de focos de incêndios sejam identificados em tempo real e encaminhados instantaneamente aos gestores das unidades. Esse fluxo contribui para reduzir o tempo de resposta e evitar que pequenos focos evoluam para incêndios de maior proporção em área de preservação do estado.
A oficialização do PAM Florestal instituiu um modelo de cooperação que já vinha sendo construído entre as empresas, mas agora com governança definida e objetivos compartilhados. Trata-se de uma iniciativa voluntária, colaborativa e que respeita a autonomia de cada integrante.
Esse avanço também aproximou o setor da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar Ambiental. Estamos construindo um canal direto de comunicação, com a participação de todos em reuniões técnicas e em visitas às centrais de monitoramento das empresas, permitindo que os órgãos públicos conheçam de perto a estrutura operacional e o nível de organização do setor florestal. A ampliação deste diálogo é um dos fatores que contribuem para antecipar riscos e reduzir impactos.
O PAM Florestal funciona como uma rede de contato e mobilização, unindo empresas e órgãos públicos em um fluxo coordenado de informação e resposta. Sempre que há uma ocorrência relevante, o grupo aciona seus representantes imediatamente, permitindo que cada instituição avalie sua capacidade de apoio e mobilize recursos de forma ágil.
Em diversas situações, as empresas foram acionadas diretamente por prefeituras e órgãos estaduais, inclusive em áreas externas às propriedades e em locais com risco à sociedade. Esses atendimentos refletem a confiança construída ao longo dos anos e o amadurecimento da articulação entre o setor privado e o poder público.
Fechamos 2025 com o PAM Florestal consolidado como um espaço de cooperação prática, reunindo ações que vão do apoio operacional ao fortalecimento institucional.
As empresas mantêm, há anos, campanhas de prevenção e conscientização com diálogo direto junto às comunidades, fornecendo orientação sobre riscos e rotinas seguras. Esse trabalho envolve visitas, encontros educativos e um canal permanente de contato com moradores do entorno das áreas florestais.
Em levantamento preliminar da Florestar, identificamos mais de 500 comunidades atendidas em 2025, abrangendo moradores vizinhos, escolas, produtores rurais e lideranças locais. Ao todo, mais de 15 mil pessoas, entre público interno e externo às empresas, participaram de ações ao longo do ano.
Também demos continuidade ao apoio institucional à SEMIL na campanha estadual SP Sem Fogo, divulgando materiais oficiais, ampliando o alcance das mensagens de prevenção e contribuindo para que as orientações chegassem às regiões mais suscetíveis a incêndios. Esse alinhamento favorece a comunicação pública e complementa os esforços de proteção no território paulista.
O Chile tem uma trajetória marcada por grandes incêndios florestais, alguns de proporções históricas. Essa experiência forçou o país a evoluir rapidamente, criando modelos integrados de prevenção, protocolos operativos mais robustos e uma coordenação muito estreita entre governo, setor privado e comunidade.
Esses aprendizados estão sendo incorporados ao planejamento de 2026, especialmente na ampliação dos treinamentos conjuntos, construção de fluxos operacionais padronizados e fortalecimento da articulação interinstitucional.
Nosso objetivo é justamente evitar que o estado de São Paulo passe por grandes episódios de incêndios. Por isso, trouxemos como principal aprendizado a importância do engajamento pleno entre órgãos públicos, empresas e comunidades locais.
Seguiremos com foco na integração, o calendário foi organizado para contemplar a participação contínua dos diferentes atores envolvidos. Entre as prioridades, estão as rotinas preventivas antes e durante o período crítico de incêndios, a materialização de protocolos e treinamentos conjuntos, e o avanço do fluxo de comunicação entre o setor privado incluindo outros setores e órgãos públicos.
O próximo ano será dedicado a consolidar essa coordenação. Estamos preparados para evoluir ainda mais.
Fonte: Florestar
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