Culturas Florestais

Cultivares de seringueiras para o Centro-Oeste: confira o lançamento web

Com produtividade média anual 26% superior à dos materiais mais plantados, os novos clones são oriundos da Malásia e foram selecionados nos campos experimentais da Unidade, em Planaltina (DF), e em propriedades rurais parceiras de Goianésia (GO), Barro Alto (GO) e Pontes e Lacerda (MT) durante mais de 20 anos de pesquisa


Publicado em: 13/12/2021 às 17:00hs

Cultivares de seringueiras para o Centro-Oeste: confira o lançamento web

Em evento on-line transmitido pelo canal da Embrapa no YouTube, a Embrapa Cerrados (DF) lançou no dia 30 de novembro a recomendação de 14 clones de seringueira para o Centro-Oeste do Brasil. Com produtividade média anual 26% superior à dos materiais mais plantados, os novos clones são oriundos da Malásia e foram selecionados nos campos experimentais da Unidade, em Planaltina (DF), e em propriedades rurais parceiras de Goianésia (GO), Barro Alto (GO) e Pontes e Lacerda (MT) durante mais de 20 anos de pesquisa. 

Além de incrementar a produtividade da heveicultura nacional, reduzindo a dependência nacional das importações de borracha natural, as cultivares vão contribuir para a diversificação genética dos seringais da região, importante estratégia para minimizar os riscos de ataques de pragas e doenças.

Apresentador do evento, o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia Fábio Faleiro destacou a importância das parcerias na pesquisa de seleção dos clones. “Seria impossível chegar a esse resultado sem os parceiros. Os trabalhos complementares e sinérgicos entre as instituições de pesquisa e de extensão rural e produtores permitiram o desenvolvimento, a validação em condições comerciais e a recomendação dessas cultivares de seringueira para a região”, disse.

O pesquisador Marcelo Fideles falou sobre o programa de melhoramento genético de seringueira na Embrapa, que busca desenvolver cultivares para diversas regiões produtoras do País, tendo como foco a produtividade de látex, a diversificação da base genética dos seringais e a resistência genética a pragas e doenças. 

Líder do programa, Fideles explicou que a estratégia de melhoramento envolve ciclos contínuos de 20 a 30 anos de pesquisa, com a prospecção, avaliação e conservação de recursos genéticos em banco ativo de germoplasma (BAG); a obtenção de progênies de melhoramento de meios-irmãos ou de irmãos completos; a seleção precoce dos genótipos superiores em viveiros de cruzamento (seleção genômica e fenotipagem); a condução de experimentos em pequena escala; e a condução de experimentos em larga escala com os clones que se destacam. 

Os recursos genéticos utilizados no programa são tanto os clones gerados como os materiais importados, que são avaliados em ensaios nacionais em regiões secas e úmidas. São trabalhadas questões de gestão, fitossanidade, qualidade da borracha e biotecnologia.

Transferido da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus, AM) entre 1990 e 1994, o BAG de seringueira da Unidade conta atualmente com 823 genótipos, sendo 318 clonados e 505 pés francos de diferentes procedências e espécies do gênero Hevea. É mantido em sistemas de seringal de cultivo e de jardim clonal (para fonte de hastes).

“A seringueira é nativa da Amazônia e é um importante recurso genético, tanto que é uma das espécies brasileiras mais cultivadas no mundo”, lembrou Fideles. Ele acrescentou que a dependência externa de borracha natural pode trazer consequências negativas para a indústria e o mercado nacionais.

“Não podemos ficar dependendo (da importação) de uma matéria-prima tão importante e que é uma espécie da nossa biodiversidade. Precisamos ter predominância na tecnologia e na exploração da seringueira”, afirmou, acrescentando que a manutenção do aporte tecnológico é fundamental para garantir a competitividade dos produtores brasileiros.

Entre os avanços recentes do programa estão a seleção de dois clones com resistência a doenças no Acre; a seleção de oito clones de copa e de dois clones para painel para produção de tricompostos no Amazonas; o uso de marcadores moleculares para certificação clonal e análise da diversidade genética do BAG; e a criação da rede araHevea de análise por simulação computacional de transcriptomas de expressão diferencial (resistência) nas interações da seringueira e o patógeno causador do mal-das-folhas, principal doença da cultura.

Alto desempenho produtivo

O pesquisador Ailton Pereira falou sobre o trabalho de avaliação, seleção e recomendação dos clones PB 312, PB 291, RRIM 713, PB 355, OS 22, PC 119, PB 324, PB 350, RRIM 938, PB 311, PC 140, PB 314, RRIM 901 e RRIM 937 para o Centro-Oeste do País. Os materiais foram selecionados em parceria com o Grupo Morais Ferrari / 3F Agrícola Ltda., a Vera Cruz Agropecuária / OL Látex Ltda., a Guaporé Pecuária S.A. / Fazenda Triângulo e a Emater Goiás.

Foram avaliados 85 clones, sendo 63 asiáticos, 11 africanos e 11 nacionais selecionados do BAG de seringueira da Embrapa Cerrados. Pereira detalhou os experimentos em Goianésia, Barro Alto, Planaltina e Pontes e Lacerda, que compararam o desempenho produtivo com os seis clones mais plantados na região – RRIM 660, PR 255, PB 235, PB 217, Fx 3864 e GT 1. 

A pesquisa avaliou o crescimento em circunferência do tronco, a espessura da casca, a produção de borracha seca mensal e anual e a incidência de doenças. Também foi realizada a caracterização do tronco, da copa, das folhas, das sementes e do coágulo, bem como análises laboratoriais das propriedades e da qualidade da borracha.

Os 14 clones selecionados para cultivo na região apresentaram produção média de 2,4 t/ha/ano de borracha seca nos locais dos experimentos, desempenho 26% superior à média dos seis clones mais plantados na região e utilizados como testemunhas (1,9 t/ha/ano). “Se compararmos somente os clones mais produtivos, essa média subiria para mais de 30% de acréscimo”, observou Pereira.

Ele citou um experimento realizado pelo Instituto Agronômico (IAC) em São Paulo, em que os clones foram comparados ao RRIM 600, o mais plantado no Brasil – todos tiveram produtividade igual ou superior ao clone testemunha.

O pesquisador mostrou dados de produção dos clones nos experimentos ao longo dos anos. Em Barro Alto, o clone PB 312 obteve produtividade acumulada de 11,8 t/ha/ano de borracha seca nos quatro primeiros anos de sangria contra 7,4 t/ha/ano do clone RRIM 600, também superado pelos clones PB 291 (10,4 t/ha/ano), PB 311 (9,6 t/ha/ano) e RRIM 938 (8,4 t/ha/ano). 

“São números que impressionam. As altas produtividades acumuladas de borracha seca são resultado da maior densidade de plantio (555 plantas/ha) e de uma alta porcentagem de plantas em sangria, superior a 90% logo no primeiro ano”, comentou, destacando o impacto do suporte de irrigação e nutrição adequado no início da produção das plantas. No experimento, os clones testemunhas (RRIM 660 e PB 217) tinham menos de 90% de plantas em sangria no primeiro ano de produção.

Pereira explicou que foram registrados no MAPA um grande número de clones devido à necessidade de diversificação clonal. “Quem lida com cultura perene não tem como trocar a cultivar como faz o produtor de soja, milho, arroz ou feijão, que podem plantar uma nova cultivar no ano seguinte. Então, para minimizar os riscos (na heveicultura), é importante diversificar o material clonal”.

Outro motivo é a interação das cultivares com os ambientes. “Em determinado local, certos clones se sobressaem. Em outros locais, outros clones se destacam. Podemos escolher aqueles que tiveram melhor desempenho em cada local”, disse, acrescentando como terceiro motivo a liberação dos clones para plantio e testes em outros locais, que só é possível após o registro no MAPA.

A recomendação é que o produtor faça o plantio inicial em pequena escala, devendo optar pelos clones mais produtivos e vigorosos em cada região, observando se as condições climáticas do local onde serão plantados são semelhantes às dos locais onde foram testados. O plantio em pequena escala permite observar o desempenho dos clones em plantações comerciais, bem como ajustar as práticas de manejo do seringal e da sangria.

As hastes para enxertia dos clones selecionados estão sendo ofertadas anualmente pela Embrapa até 2023 por meio de oferta pública aos viveiristas registrados no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem).

Com a disponibilização das cultivares, foi encerrado um ciclo de melhoramento genético. Mas um novo ciclo já foi iniciado, com a coleta de sementes e a produção de mudas dos melhores clones para avaliação e seleção precoce das progênies. Segundo Pereira, há 8 mil plantas oriundas desses clones na Embrapa Cerrados. “Se aplicarmos um critério de seleção rigoroso, de uma em cada 100, vamos chegar a 80 novos clones para testes futuros, que esperamos serem melhores ainda em crescimento e produtividade”, finalizou.

Homenagem

O pesquisador foi homenageado, em nome de toda a equipe técnica de pesquisa em seringueira, com o troféu Embrapa Cerrados, que mostra três engrenagens que giram unidas. “É um reconhecimento ao seu trabalho de liderar a avaliação desses materiais. Mas também é uma forma de parabenizar e homenagear toda a equipe envolvida com o trabalho. Essas engrenagens mostram que, para desenvolver uma tecnologia, é preciso um trabalho em equipe, envolvendo pesquisadores, analistas, técnicos e assistentes”, disse Fábio Faleiro.

“Agradeço muito a essa homenagem, fico comovido e a dedico a toda a equipe e a todos os produtores, que é para quem trabalhamos", respondeu o pesquisador. "Sinto-me honrado de fazer parte da equipe da Embrapa. Fizemos o nosso trabalho", respondeu Pereira.

“O Ailton é o nosso inspirador, é a locomotiva que nos puxou e continua nos inspirando. É a palavra de experiência, está sempre nos aconselhando. É uma pessoa fundamental, e nele nos espelhamos sempre. Seu esforço, dedicação e seriedade nos representa muito bem”, comentou Marcelo Fideles.

O evento marcou, ainda, o lançamento das publicações “Desempenho de Clones de Seringueira na Região Centro-Oeste do Brasil” (https://cutt.ly/uT7n2VL), “Clones de seringueira selecionados para cultivo no estado de Goiás e no Distrito Federal” (https://cutt.ly/QT7n74M) e “Novos clones de seringueira para cultivo na região Centro-Oeste do Brasil” (https://cutt.ly/9T7mvJh). Também foi exibido um vídeo de divulgação tecnológica dos clones de seringueira. Assista no link: https://youtu.be/PREMer9iqrQ.

Os pesquisadores responderam a perguntas e comentários encaminhadas pelo chat da transmissão.

Assista o lançamento web das cultivares de seringueira em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/66815512/cultivares-de-seringueiras-para-o-centro-oeste-confira-o-lancamento-web

Fonte: Embrapa Cerrados

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