Culturas Florestais

Cadeia produtiva do bambu no país entra em nova fase

Um dos objetivos é implantar centros regionais de pesquisa do bambu, com o foco na base da cadeia produtiva, isto é, na agronomia


Publicado em: 08/09/2014 às 08:40hs

Cadeia produtiva do bambu no país entra em nova fase

Quem não gosta de bambu? Para a maioria dos brasileiros esta planta fascinante lhe é familiar desde a infância, embora seja conhecida em algumas regiões por outros nomes, como taquara ou taboca. É comum encontrar moitas de bambu em áreas rurais e mesmo nas cidades. Além de ser bonito, ele é também bastante útil, porque podemos cortar vários colmos sem matar a planta e todos os anos nascem novos brotos.

Em nosso país o bambu ainda é pouco valorizado como matéria-prima, sendo quase sempre oferecido já como produto acabado, na forma de balaios, cestos, varas de pescar, móveis, flautas, objetos de decoração, bicicletas, pranchas de skate, tendas, cercas, divisórias e construções leves, entre outras aplicações. São tipicamente produtos fabricados de modo artesanal, em pequena escala, com tecnologia rudimentar e de pouco valor agregado. Também contribui para a depreciação do bambu a sua imagem de material de baixa durabilidade, por nem sempre receber um tratamento adequado contra o ataque de fungos e insetos, como o caruncho e o cupim.

Em resumo, ainda falta muito para o nosso país tirar todo o proveito possível do cultivo do bambu, a exemplo da China, da Índia e de outros grandes países produtores. Até agora apenas uma empresa brasileira de grande porte vem usando o bambu em escala industrial, o Grupo João Santos, produzindo com ele sacos de cimento de excelente qualidade, há mais de trinta anos. Outro uso industrial começou há cinco anos no setor cerâmico, como biomassa para a geração de energia térmica, em substituição à lenha de eucalipto, com muito sucesso. Também no setor frigorífico, pelo menos uma grande empresa, a Seara do Grupo JBS, já demonstrou interesse em implantar a sua floresta energética de bambu.

Assim, aos poucos este quadro pouco animador vem se alterando, graças aos esforços isolados de alguns pesquisadores pioneiros, a partir da segunda metade do século passado e, principalmente, devido aos esforços persistentes da atual comunidade de bambuzeiros, que se utiliza de todos os meios para difundir as tecnologias associadas à cadeia produtiva. Também o Governo Federal vem incentivando novas pesquisas sobre bambu em todas as regiões do país, através de editais lançados em 2008 e 2013. O objetivo é implantar centros regionais de pesquisa do bambu, com o foco na base da cadeia produtiva, isto é, na agronomia. Outra importante contribuição do governo foi a assinatura do Acordo Bilateral de Tecnologias do Bambu com o governo da China, em 2011. No mesmo ano o Congresso Nacional aprovou a Lei 12.484 de incentivo ao cultivo do bambu, que beneficia os produtores rurais com financiamentos e assistência técnica.

Porém, o que realmente permitirá ao país alcançar produção em larga escala é o domínio da tecnologia da clonagem do bambu, também chamada de micropropagação. Ela já vem sendo usada há mais de dez anos pelo citado Grupo João Santos, porém restrita a apenas uma espécie por enquanto, que é a Bambusa vulgaris. A micropropagação de outras espécies está sendo desenvolvida há apenas dois anos em universidades de diversos estados, como SP, SC, PR e GO, bem como nos laboratórios do Cetene, órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, situado em Recife/PE e também da Embrapa em Brasília. Os gêneros mais estudados até agora são Bambusa, Dendrocalamus e Guadua, todos do tipo entouceirante. A micropropagação das espécies alastrantes é mais difícil, mas a técnica já foi dominada em vários países e com certeza também será no Brasil.

A vantagem da clonagem sobre as técnicas tradicionais é que ela permite a produção de mudas de qualidade muito uniforme e em grandes quantidades, usando muito menos matéria-prima, tempo e mão-de-obra. Assim será possível produzir mudas de bambu em escala industrial, ao mesmo preço das mudas de árvores como o eucalipto e o pinus. Com ela a nossa cadeia produtiva entrará em uma nova fase, com mais tecnologia, sendo agora capaz de atrair grandes investidores e expandir a oferta de produtos para o mercado. Outro benefício importante que se espera obter é a de produzir também mudas de espécies nativas, o que na maioria das vezes ainda não é possível pelos métodos tradicionais. Os benefícios devem demorar um pouco para atingir o mercado, como acontece com qualquer nova tecnologia.

Mas, desde já alguns produtores de mudas estão desconfiados e assustados com as mudanças que se anunciam, em função de uma maior oferta de mudas em futuro próximo. Eles temem perder participação de mercado, caso continuem usando os métodos convencionais de propagação, que inevitavelmente são mais caros. No entanto, a experiência de outros países produtores de bambu indica que este temor poderá não se justificar. O mais provável é que se formem dois segmentos de mercado paralelos e relativamente independentes, porém complementares. Um atenderia os setores industriais, como celulose e papel, alimentos, palitos, varetas e espetos, produtos laminados, móveis, material de construção e de geração de energia. O outro continuará abastecendo os nichos de mercado tradicionais, citados anteriormente. Eles são de escala menor, mas vão se multiplicar nos municípios menores, representando no total uma grande demanda também.

Uma coisa é certa: a tecnologia da clonagem do bambu vai despertar o interesse de muita gente. Não é difícil prever, que em pouco tempo o bambu ocupará um lugar de destaque na silvicultura brasileira, assim que as vantagens econômicas - de seu cultivo - ficarem mais evidentes. É um caminho sem volta e quem viver, verá.

Hans-Jürgen Kleine - Licenciado em Química (UFRGS/1971) e com especialização em Qualidade e Produtividade (UFSC/1994), atuou por 32 anos no setor de celulose e papel, em gestão ambiental, gestão da qualidade e atendimento a clientes no exterior. Desde 2003 dedica-se ao estudo do bambu, sendo um dos fundadores e atual presidente da Associação Catarinense do Bambu.

 

Fonte: Painel Florestal

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