Publicado em: 17/11/2025 às 12:30hs
Nos dias 30 e 31 de outubro, a Embrapa Cerrados sediou o workshop “Sistema de produção sustentável de açaizeiro irrigado no Cerrado: capacitação e experiências”, com a participação de cerca de 50 técnicos extensionistas do Distrito Federal e de municípios de Goiás, Minas Gerais e Bahia.
A programação combinou palestras técnicas e visitas a áreas experimentais da Embrapa, além de propriedades rurais do DF que receberam mudas de açaí desenvolvidas para adaptação às condições do Cerrado. O evento foi coordenado pelos pesquisadores Wanderlei de Lima e Fábio Faleiro e contou com representantes de instituições parceiras.
Tradicionalmente cultivado na região Norte, o açaí desperta hoje interesse nacional e internacional, motivado pelo aumento das exportações e pelo reconhecimento de suas propriedades nutricionais. A iniciativa integra a Rota da Fruticultura na Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno (RIDE-DF), que desde 2022 promove a diversificação agrícola do Cerrado.
O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, destacou a relevância do cultivo para a região e afirmou que o Cerrado pode se tornar uma nova fronteira produtiva do açaí. Ele ressaltou, porém, que a adaptação da planta a um clima menos úmido exige pesquisas, manejo adequado e irrigação.
“Por ser uma planta perene, precisamos pesquisar e produzir ao mesmo tempo. Essa iniciativa foi ousada, mas topamos o desafio”, afirmou Sebastião.
O pesquisador Wanderlei Lima explicou que os plantios no DF já são realidade e servem como base para pesquisas técnicas, incluindo sistemas de produção de mudas, manejo de irrigação, monitoramento de doenças e nutrição, além do melhoramento genético para desenvolver cultivares adaptadas ao Cerrado.
Atualmente, a Embrapa conduz experimentos em 2,3 hectares: um voltado à irrigação e outro à avaliação agronômica de progênies superiores de açaí, provenientes da Embrapa Amazônia Oriental (PA). O estudo acompanha a planta desde a germinação até o plantio definitivo, considerando crescimento vegetativo e fase reprodutiva.
“Compreender a adaptação dessas plantas às diferentes condições ambientais é essencial para o sucesso da cultura no Cerrado”, afirmou Lima.
O workshop contou com a participação de João Tomé de Farias Neto, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e especialista em açaí, que apresentou a palestra “Sistema de Produção do Açaizeiro em Terra Firme”, abordando manejo, produção de mudas, nutrição e polinização.
Ele destacou que o açaí é uma das culturas mais promissoras do Brasil, com demanda crescente. No Pará, estado que lidera a produção, a oferta ainda não acompanha a demanda, o que eleva o preço do fruto em períodos de entressafra. Segundo Tomé, a solução é o cultivo em terra firme irrigada, capaz de escalonar a produção e manter oferta constante.
O especialista também apresentou avanços do programa de melhoramento genético da Embrapa, com cultivares BRS Pará (2005) e BRS Pai d'Água (2019), que proporcionam maior rendimento de polpa e adaptação a diferentes períodos do ano.
“O futuro da cultura está no cultivo tecnificado, irrigado e geneticamente melhorado, garantindo produção contínua e sustentabilidade econômica”, afirmou Tomé.
Durante o evento, os participantes conheceram duas áreas experimentais da Embrapa Cerrados e visitaram propriedades rurais que iniciaram o cultivo de açaí há cerca de três anos. As visitas permitiram a troca de experiências entre pesquisadores e produtores sobre manejo da irrigação, nutrição e controle de doenças.
Segundo o extensionista Felipe Camargo, a cultura ainda enfrenta certa desconfiança, mas tem atraído produtores interessados em diversificação e rentabilidade:
“Observamos uma migração da produção de hortaliças para frutas, e o açaí surge como uma alternativa viável na região.”
Fábio Faleiro, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, considerou o workshop um momento histórico para apresentar os primeiros resultados da pesquisa e consolidar ações de capacitação e extensão.
A Rota da Fruticultura é uma iniciativa coordenada pela Codevasf e desenvolvida em parceria com a Embrapa Cerrados e a Conab. O projeto busca ampliar a produção de frutas, gerar emprego e renda, diversificar culturas e atrair novos agricultores.
Participam também instituições como o Ministério da Integração, Superintendência Federal de Agricultura do DF, Mapa, Senar-DF, Emater-DF e a Organização das Cooperativas do DF (OCDF).
Neste ano, a Embrapa lançou o livro “Fruticultura Tropical – capacitação e experiência de sucesso”, reunindo experiências de cultivo de diferentes frutíferas, incluindo o açaí, em regiões tropicais, especialmente no Cerrado.
Fonte: Portal do Agronegócio
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