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Falta de incentivos desestimula cogeração

O uso de energia limpa para o abastecimento elétrico de toda a população mundial é o ideal para a sustentabilidade e para o meio ambiente


Publicado em: 02/12/2013 às 15:40hs

Falta de incentivos desestimula cogeração

O Estado de Goiás, por exemplo, poderia usar apenas esse tipo de energia, mas a falta de estímulo do governo federal, entraves de tecnologia e investimentos barram o crescimento da produção. A biomassa é uma das principais alternativas para a diversificação da matriz energética e a consequente redução da dependência dos combustíveis fósseis, usinas hidrelétricas e termoelétricas.

Atualmente, das 37 usinas goianas em funcionamento, apenas oito comercializam a energia produzida nas caldeiras.  Juntas, essas unidades geram, aproximadamente, 810 megawatts (MW).

Segundo o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg/Sifaçúcar), André Rocha, se todas as usinas goianas produzissem energia pela queima do bagaço da cana, Goiás geraria, aproximadamente, 3 mil MW por ano.

Dessa produção de energia por biomassa,  1 mil MW seriam para o consumo interno das próprias usinas e o restante, 2 mil, seriam exportados para o sistema elétrico. Para ter uma ideia, esse valor equivale à produção de três usinas hidrelétricas com capacidade equivalente à de Cachoeira Dourada, em Goiás. “Esse número representa o consumo final da Celg Distribuição S.A. , ou seja, daria para abastecer todo o Estado”, explica André Rocha.

No Brasil a situação é similar. Estudo realizado pela Aneel apresenta o levantamento da matriz energética brasileira e identifica que a capacidade de geração de energia por biomassa do bagaço da cana é de 8.922 MW. Neste relatório estão cadastradas 369 usinas. Para o Sifaeg, a geração de energia por biomassa no País é equivalente a três usinas hidrelétricas iguais à Usina de Belo Monte, em construção no Pará.

Os entraves goianos

A geração e a transmissão de energia por biomassa em Goiás enfrentam problemas. O primeiro é que as usinas mais antigas, construídas antes de 2005, não possuem caldeiras eficientes. “No passado não se sabia o que fazer com o bagaço da cana-de-açúcar e não se dava valor à energia excedente das usinas”, afirma o executivo do Sifaeg.

Outra dificuldade é a ausência dos geradores de transmissão. Nos Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul - principais localidades onde o setor sucroenergético está em expansão – não existem a rede básica.

Segundo o consultor e diretor da Nascon Agroenergia, Onório Kitayama, há alguns anos a Celg identificou que  em algumas regiões no oeste goiano nem mesmo existia linhas de distribuição em 138 KV. Na época, foi feito um planejamento de expansão pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Mas o programa teve alguns problemas pela não implantação de algumas usinas e atraso no cronograma das obras, principalmente por dificuldades no licenciamento ambiental.

As soluções

Para que a biomassa seja a principal fonte de energia em Goiás faltam investimentos e incentivos dos governos estaduais, federais e privados. As usinas precisam de estímulo para serem polivalentes, isso é, não trabalhar apenas na moagem da cana-de-açúcar.

O diretor de marketing do Gemea, Helio Belai, explica que a diversificação de atividades na usina reduz os riscos comerciais das mesmas. “Se a usina fornecer o açúcar, o etanol e a energia elétrica, por exemplo, ela não ficará a mercê do mercado. Os outros produtos podem permitr que ela tenha uma boa média de renda”, explica.

A falta de incentivo e o preço nos leilões de energia renováveis também dificultam. As usinas antigas, que possuem caldeiras pouco eficientes, não têm interesse em trocar o equipamento, já que o valor da energia por biomassa não é convidativo. Além do preço da energia, não existem incentivos fiscais para que tais unidades troquem os equipamentos por mais modernos.

O presidente executivo do Sifaeg também destaca que há mais de quatro anos não são feitos investimentos em novas subestações pela Celg, e as existentes, não suportariam as novas energias.

A Secretaria de Estado de Indústria e Comércio (Sic) explica que a empresa que gera energia, sob qualquer forma, pode ter o incentivo do Produzir do governo estadual. Segundo gerente de auditoria do Programa Produzir, Wellington Matos , a energia gera imposto e o Produzir atua no financiamento de parte do ICMS, no caso, 73%.

O preço não convidativo

Os leilões de energia nova consideram apenas o valor mais barato, assim, a energia por biomassa sempre perde o lugar para a eólica. “Esses leilões se baseiam apenas nos valores e não consideram onde essa energia será consumida”, explica o consultor e diretor da Nascon Agroenergia, Onório Kitayama.

Os parques de energia eólica, geralmente, estão localizados no Rio Grande do Norte, Ceará e Rio Grande do Sul. Enfim, estão distantes dos principais centros consumidores – as regiões Sudoeste e Centro-Oeste do país. “Diferentemente, a cana está presente em São Paulo, Minas Gerais e em inúmeros outros estados. O custo do transporte e da perda energética não é considerado nos leilões”, explica o especialista.

Para o executivo do Sifaeg, o gargalo pode ser resolvido com leilões regionalizados e específicos para tratar apenas da biomassa. “Atualmente, alguns leilões de fontes renováveis trataram as energias diferentemente. A energia eólica é mais barata na fonte, já que não se paga nenhum tributo pelo vento, mas chega mais cara ao consumidor”, ressalta André Rocha.

Exemplo

O Estado de São Paulo passou por situação problemática com a geração e transmissão da energia limpa. Algumas linhas de distribuição do Estado ficaram velhas e saturadas, e dificultaram a entrada de energia nova no sistema.

Desde o primeiro semestre de 2013, o governo paulista estuda medidas para incentivar a cogeração. Atualmente, São Paulo conta com 4.500 MW de cogeração de energia a partir da biomassa, dos quais cerca de 1.000 MW são comercializados externamente pelas usinas. A expectativa do governo paulista é que se possa dobrar isso num período de três ou quatro anos, no máximo.  

Biomassa para solucionar possível crise

Entre os anos de 2001 e 2002 o Brasil passou por uma grande crise no setor, o chamado “Apagão”. O consultor e diretor da Nascon Agroenergia, Onório Kitayama acredita que em um futuro próximo o país pode passar por outro colapso. E o caminho para evitar esse risco é a cogeração de energia pelas usinas de cana-de-açúcar.

Antes do apagão, 90% do país era abastecido pelas usinas hidrelétricas. E devido a um período de estiagem prolongado o Brasil se viu sem energia suficiente. Nessa época foi elaborado um plano hidrotérmico – usinas hidrelétricas e as usinas termelétricas.  Quando o nível de água atingia um patamar, a segunda é acionada. “O modelo funcionou muito bem até 2012, pois após esse período não tivemos falta de chuvas”, explica o especialista. Mas em seguida, no ano de 2012, ocorreu escassez de precipitações as usinas térmicas funcionaram para abastecer o mercado. “Além de caras, essas usinas são poluidoras. O sistema se mostrou de risco, não podemos depender o abastecimento energético pelo fator chuva, que é incontrolável”, analisa.

A cogeração aparece para solucionar essa dificuldade e ser inserida, pelo menos no lugar das usinas termoelétricas, já que o período de safra se enquadra exatamente nas estações de seca no país. “Se continuarmos com esse modelo, se a seca de 2012 se repetir, o País voltará a ter problemas.”

Fonte: Jornal da Bioenergia

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