Etanol

Setor sucroenergético: além da cana a opção de outras culturas para produção de etanol

A cana-de-açúcar continua sendo a principal matéria-prima para a produção de etanol, gerando uma média de 7 mil litros do produto por hectare


Publicado em: 22/11/2013 às 13:30hs

Setor sucroenergético: além da cana a opção de outras culturas para produção de etanol

A cana-de-açúcar continua sendo a principal matéria-prima para a produção de etanol, gerando uma média de 7 mil litros do produto por hectare. Entretanto, outras culturas despontam no cenário agrícola como alternativa e complemento à produção de etanol de primeira geração. São plantas em teste de viabilização de produtividade e outras já utilizadas no segmento energético. É o caso do sorgo sacarino, que hoje chega a render uma produtividade de 2,5 mil litros de etanol por hectare, 12% de teor de açúcar e entre 11% e 15% de fibra.

O sorgo sacarino apresenta características que o colocam como alternativa viável para as indústrias. Tanto é que no Brasil a cultura está disponível em toda região Centro-Sul, principalmente no Estado de São Paulo e na região do Cerrado. Trata-se de uma matéria-prima que cresce melhor e com produtividade durante o verão, já que nessa época há a otimização de seu crescimento vegetativo com acúmulo de açúcar na fase final do ciclo. Com um pouco mais de melhoramento genético e desenvolvimento agronômico, pode avançar em áreas de safrinha, possibilitando um complemento extra de matéria-prima quando a usina já está em período de safra. Para as indústrias já estabelecidas, a possibilidade de estender a safra representa a amortização de custos fixos e melhor aproveitamento do parque industrial.

Segundo a diretora comercial da NexSteppe Sementes do Brasil, Tatiana Gonsalves, se comparado à cana-de-açúcar, o investimento monetário no sorgo é bem inferior, enquanto o investimento de aprendizado e dedicação é enorme. Ela explica que a cultura apresenta um conjunto de diferenças significativas em relação à cana, como ciclo curto, necessidade de planejamento e decisões rápidas, acompanhamento constante, integração campo/indústria apurado etc. “Enquanto as usinas criam suas curvas de aprendizado, um conjunto razoável de empresas tenta evoluir rapidamente com a cultura, não apenas geneticamente, mas agronomicamente. Um dos pontos de destaque é a necessidade de dominar o estabelecimento do stand de plantas, mandatório para que se atinja as produtividades mínimas desejada da cultura”, defende Tatiana.

Desafio

Com a proposta de mostrar às usinas o potencial de produtividade do sorgo sacarino para viabilização como alternativa para a produção de etanol, a Monsanto, por meio da Canavialis – marca comercial de melhoramento e tecnologias em cana-de-açúcar –, lançou no início deste ano o “Desafio de Produtividade Sorgo Sacarino”. Foram instalados cinco campos demonstrativos, com cerca de 20 hectares cada, nas usinas CleÁlcool (Clementina/SP), Raízen Bom Retiro (Piracicaba/SP), V.O. (Catanduva/SP), Raízen Junqueira (Igarapava /SP) e Boa Vista (Quirinópolis /GO). Essas áreas foram selecionadas pela CanaVialis entre as que mostraram interesse em incluir a cultura de sorgo sacarino na última safra, por estarem localizadas em áreas importantes para o cultivo de cana-de-açúcar e pela necessidade de matéria-prima para complementar a baixa disponibilidade de cana durante a entressafra.

“A Monsanto tem investido fortemente nas pesquisas de melhoramento genético do sorgo sacarino. A empresa possui uma estação de pesquisa da cultura perto de Uberlândia, Minas Gerais. Além disso, a área de desenvolvimento técnico hoje possui 22 campos experimentais para seleção e testes de futuros lançamentos”, diz o analista de Marketing da Canavialis, Vagner Kogikoski. A Monsanto ainda possui no mercado quatro híbridos comerciais, além dos híbridos CV007, CV 147 e os recém lançados CV 568 e CV 198.

Assim como pesquisas em melhoramento genético e oferta de híbridos, um fator importante para que a usina faça investimentos na tecnologia é a questão de disponibilização de estrutura focada na cultura do sorgo sacarino, principalmente em pessoas, informa Vagner. Ele orienta que o acompanhamento e atividades devem ser feitas constantemente, por se tratar de cultura de ciclo curto.

A Raízen investe no plantio de sorgo sacarino para a produção de etanol e açúcar há mais de duas safras. A empresa já colhe os resultados dos primeiros testes feitos em julho de 2011 na Unidade Jataí, em Goiás, e considera os produtos extraídos da planta como alternativa para o período de entressafra da cana-de-açúcar. A Raízen iniciou com plantio experimental em uma área de 92 hectares e já obtém resultados bastante promissores, levando em conta o fato de o sorgo ter sido plantado em um período fora da sua safra usual. O teste foi realizado com o objetivo de verificar o comportamento da cultura em campo e em relação ao clima local, além do aparecimento da praga.

A segunda experiência foi em uma área de 1000 hectares de sorgo sacarino plantada em dezembro de 2011, na região de Piracicaba (SP). A colheita ocorreu em abril de 2012. Por fim, houve um terceiro plantio em dezembro de 2012 (em uma área de quase 650 hectares), também na região de Piracicaba. Essa colheita aconteceu em abril deste ano.

A empresa passou a atuar com a cultura porque acredita que os investimentos em pesquisa e novas tecnologias são parte do processo de incremento da produção brasileira. Atualmente, adota a cultura na região de Piracicaba, especificamente na cidade de Capivari, próxima à Unidade São Francisco. A produção de etanol a partir do sorgo ainda varia muito de plantio para plantio, de variedade para variedade, já que é uma cultura nova e está em desenvolvimento. Na última safra, os cerca de 1000 hectares plantados produziram cerca de 900 mil litros de etanol.

Pesquisas e ofertas

De acordo com a diretora comercial da NexSteppe Sementes do Brasil, Tatiana Gonsalves, o sorgo sacarino tem avançado tanto em melhoramento genético quanto em técnicas agronômicas. Mas ela enfatiza que é um desafio cultivar cultura de grãos, que prevê um plantio com semente de tamanho pequeno, com plantadeiras não dominadas pelas usinas, cultivado em um período de chuvas e veranicos intensos, que possui um ciclo curto – significativamente mais curto que a cana. “Enquanto o melhoramento se empenha no encaixe da cultura, acúmulo de Brix e caldo, resistência a doenças entre outros desafios, a área de desenvolvimento tecnológico tem uma trabalho tão extenso ou superior em encaixar o enorme potencial de uma planta de ciclo curto e acúmulo de açúcar na entressafra da cana”, reforça.

Para a própria empresa, o cultivo de sorgo é um desafio. Tatiana explica que existem especialistas na Nexteppe que trabalham com sorgo há 30 anos, sendo que somente há dois anos passaram a investir no mercado de energia. “Trabalhamos com o melhoramento completo, desde a hibridação, uso de marcadores moleculares e produção de sementes híbridas para atender o mercado. Montamos áreas testes lado a lado, para avaliação de materiais, e acompanhamos de perto o desenvolvimento das áreas comerciais. Para uma cultura com tantos desafios é necessário trabalho conjunto para a prosperidade de todos”, diz.

Fonte: Jornal da Bioenergia

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