Publicado em: 04/09/2024 às 11:45hs
Nos últimos anos, a área plantada com sisal na Bahia sofreu uma significativa redução, passando de 258.964 mil hectares para pouco mais de 98.795 hectares. Em resposta a esse cenário, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) lançou um projeto inovador que visa diversificar as aplicações tecnológicas para os produtores baianos de sisal. O objetivo é aproveitar a maior parte da matéria-prima que hoje não é utilizada, destinando-a à produção de etanol e outros bioprodutos, o que pode transformar a realidade do setor.
O sisal, fibra extraída da planta Agave Sisalana, é tradicionalmente utilizado na produção de tapetes, cordas e outros produtos artesanais, sendo a principal fonte de sustento para muitas famílias no Território do Sisal, uma região semiárida que abrange 20 municípios no nordeste da Bahia.
No entanto, segundo uma pesquisa realizada pela Unicamp em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo Baiano, apenas 4% da planta é aproveitado atualmente, deixando 96% do material vegetal sem utilização. Esse desperdício abre uma oportunidade para a fabricação de biocombustíveis, como o bioetanol, além de produtos como bioinseticidas e ração animal.
Perpétua Almeida, diretora de economia sustentável da ABDI, explica que o projeto surgiu a partir de uma pesquisa científica. "Fomos abordados no ano passado pelo professor Gonçalo Pereira, da Unicamp, que apresentou uma pesquisa fascinante sobre como a agave pode ser utilizada na produção de biocombustível, especificamente etanol", afirmou Almeida. Ela acrescenta que o professor identificou que o cultivo de agave exige menos espaço que a cana-de-açúcar, podendo, inclusive, ser uma alternativa na entressafra da cana para a produção de etanol.
Intitulado "Replanta Agave", o projeto da ABDI, em parceria com o governo da Bahia, terá duração de 18 meses e prevê beneficiar pelo menos 400 trabalhadores. O convênio firmado para a execução da iniciativa totaliza R$ 2,6 milhões.
"O projeto contempla a formação dos trabalhadores em novas técnicas, visando à profissionalização desde o preparo da terra até a colheita e comercialização. Nossa meta é levar tecnologia de ponta para esses trabalhadores, cobrindo todo o processo, desde a preparação do solo, semeadura, manejo, colheita, até o armazenamento e a venda dos produtos", detalha Perpétua Almeida.
Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de fibra de sisal, com a Bahia respondendo por 90% dessa produção, seguida por Paraíba e Pernambuco. A agricultura familiar é a principal força motriz desse cultivo.
Luiz Delfino, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Valente, vê o projeto com esperança, especialmente em um momento de dificuldades e desvalorização do setor. "Temos um histórico de produtores que muitas vezes ficam à margem das ações de desenvolvimento, já que o sisal é subutilizado. Este projeto traz uma grande esperança para a causa dos sisaleiros e do semiárido nordestino", afirma Delfino.
Delfino, que também é membro da Câmara Setorial do Sisal, ressalta os desafios que dificultam o crescimento da produção na região. "Precisamos de apoio governamental em diversas áreas. Em momentos de crise, é essencial ter um preço mínimo subsidiado pelo governo e a compra do produto para apoiar a indústria como um todo. Além disso, necessitamos urgentemente de armazéns para estocar o sisal, de modo a absorver a produção em períodos de baixa exportação", alerta.
Apesar do grande potencial do sisal, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, de 2012 a 2022, a área plantada foi drasticamente reduzida, acompanhada pela perda de cerca de 150 mil empregos diretos e indiretos. Estimativas da Embrapa sugerem que aproximadamente 700 mil pessoas dependem da renda gerada pelo sisal na Bahia.
Gilvan Barbosa Ferreira, pesquisador da Embrapa Algodão, destaca que estudos com a Agave Tequilana, uma espécie endêmica do México, podem melhorar a produção e a eficiência da matéria-prima destinada ao etanol na Bahia. "Estamos trabalhando para reduzir os custos de produção na Bahia, onde o setor enfrenta grandes desafios. Com a introdução da Agave Tequilana, buscamos atender à crescente demanda por álcool, utilizando essa tecnologia para apoiar nossos agaves, já em fase de cultivo no campo", conclui.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias