Publicado em: 19/03/2014 às 17:00hs
Pesquisa da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostra que, nas últimas três semanas, o valor médio cobrado pelo litro da gasolina subiu 0,77% nas bombas do Estado do Rio. No mesmo período, o Etanol ficou 4,02% mais caro nos postos. Na média do país, houve aumentos semelhantes, mas para os motoristas de São Paulo eles foram ainda maiores: 1,4% na gasolina e quase 5% no álcool combustível. No mercado financeiro, cresce a expectativa de uma inflação maior este ano. A última previsão é de uma alta de 6,11%.
- A responsabilidade por este aumento da gasolina é única e exclusivamente do álcool, que subiu muito nas usinas por causa da entressafra. A composição da gasolina tem 25% de álcool, que ficou R$ 0,10 mais caro de fevereiro para cá e o impacto na gasolina ainda deve ficar maior. Mas a Petrobras continua comprando combustível lá fora a US$ 103 o barril e vendendo aqui a US$ 85, criando aquele rombo nas contas (da estatal) - diz Paulo Miranda Soares, presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis (Fecombustível).
A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) informou que as alta nos preços é causada pela entressafra, que vai até começo de abril. Segundo a entidade, não há produção de Etanol neste momento e todo combustível em comercialização foi destilado meses atrás. Portanto, o impacto da seca, que afetou a colheita de Cana-de-açúcar, ainda será repassado aos preços.
O álcool misturado à gasolina é do tipo anidro, mas tem preços alinhados aos do Etanol. Dados do Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Esalq/USP) registram um aumento de 4,6% no preço do álcool anidro em São Paulo, maior produtor do país, entre 14 de fevereiro e 14 de março.
Reduzir mistura afetaria Petrobras
Rafael Schechtman, analista do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), lembra que o governo costumava mexer na mistura de anidro à gasolina durante a entressafra do álcool para evitar aumento dos preços. Mas, diante da situação da Petrobras, a medida ficou mais difícil de ser adotada, porque obrigaria a estatal a importar mais Petróleo.
- Quando o preço do anidro sobe muito, o governo tende a decretar a diminuição da mistura. Mas, com esse bagunça que ele fez no setor energético brasileiro, se reduzir o percentual agora vai causar impacto no caixa da Petrobras. Se não reduz, os preços sobem e afetam a inflação - explica.
Segundo ele, o cenário ficou mais complicado porque a Petrobras não conseguiu aumentar a produção de Petróleo como esperado. Na outra ponta, a gasolina barata levou os motoristas a deixarem de abastecer com Etanol e desestimulou a indústria de álcool.
- O governo até tomou algumas medidas, exigindo manutenção dos estoques durante a entressafra. Mas não adianta, se não tem o produto, o preço sobe.
Foi o que percebeu Marcelo Leite, empresário e dono de restaurantes na Tijuca, no Centro e na Zona Sul, que afirma estar pagando R$ 0,20 a mais pelo litro de gasolina do que no início do ano.
- Há algumas semanas, encontrava o litro por uma média de R$ 2,99 e agora vejo por volta de R$ 3,25. Para economizar, tenho que sair procurando os melhores preços pelos lugares que passo - conta.
De acordo com a Unica, a oferta de Etanol no país cresceu 20% este ano e atingiu 28 bilhões de litros. O aumento da mistura de anidro à gasolina de 20% para 25%, feito em maio do ano passado, significou um adicional de 200 milhões de litros de combustível por mês ao mercado. Os produtores também afirmam que o estoque de Etanol disponível no início de fevereiro, ou seja, no meio da entressafra, era mais de 10% superior ao observado no mesmo período do ano passado, mas a procura pelo produto também cresceu muito e está pressionando os preços.
Etanol deve ficar em alta até abril
José Carlos Hausknecht, sócio da MB Agro Consultoria, acredita que os preços altos de Etanol devem perdurar, ao menos, até meados de abril. Segundo ele, a forte Estiagem vivida atualmente pelo Brasil explica parte destes aumentos de preço:
- No momento, temos apenas alguns poucos produtores moendo cana, a maior parte preferiu esperar um pouco mais pelas chuvas. Assim, a entrada na safra deve atrasar até meados de abril, o que deve garantir preços elevados até lá.
Hausknecht lembra que a safra de cana deste ano será de 15 milhões de toneladas a 25 milhões de toneladas menor que no ano passado, o que representa uma queda de 2,5% a 4% na produção. A elevação do preço do açúcar também contribui para a alta do preço do Etanol, diz.
Fonte: O Globo
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