Publicado em: 07/08/2025 às 17:00hs
A planta Agave tequilana, amplamente cultivada no México para a produção de tequila, está ganhando novos usos no Brasil. Uma pesquisa coordenada pela Embrapa Algodão (PB), em parceria com a empresa Santa Anna Bioenergia (BA), busca avaliar o potencial da espécie para a produção de etanol, alimentação animal e captura de carbono, com foco no desenvolvimento de um sistema de cultivo adaptado ao Semiárido brasileiro.
A proposta é ampliar o uso do Agave como fonte de energia renovável, contribuindo para a transição energética, ao mesmo tempo em que fortalece a bioeconomia e propõe soluções sustentáveis para regiões de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Além da Agave tequilana, a pesquisa inclui outras variedades do gênero Agave conservadas no Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa, como a Agave sisalana (sisal), tradicionalmente utilizada na produção de fibras para cordas e tapetes.
Atualmente, apenas 4% da biomassa das folhas da sisalana é aproveitada no processo industrial. O estudo propõe o uso integral da planta, tanto para fins energéticos quanto alimentares, promovendo maior eficiência e sustentabilidade.
O Brasil é o maior produtor mundial de Agave sisalana, com 95 mil toneladas de fibra registradas em 2023, segundo o IBGE. A Bahia responde por 95% dessa produção, especialmente na região do Território do Sisal. A Paraíba é o segundo maior produtor, com cerca de 5 mil hectares cultivados.
O pesquisador Tarcísio Gondim, da Embrapa Algodão, destaca que o uso da Agave pode reduzir desigualdades regionais e combater a precarização nas áreas produtoras de sisal. Segundo ele, o objetivo é utilizar plantas xerófitas, adaptadas a ambientes secos, com múltiplos propósitos: produção de etanol, forragem animal e captura de CO₂.
Apesar do ciclo mais longo — cerca de cinco anos até a colheita —, o escalonamento das áreas plantadas permitirá estabilizar a produção de biomassa e garantir competitividade no mercado de energia renovável. Para isso, é necessário avançar em estudos sobre cultivares, manejo, fertilidade do solo, mecanização e processamento da biomassa.
Em março, pesquisadores da Embrapa visitaram o México para estreitar parcerias com o Instituto Nacional de Investigações Florestais, Agrícolas e Pecuárias (Inipaf) e instituições ligadas à cadeia produtiva da tequila. O objetivo foi compartilhar experiências e buscar colaboração em pesquisas sobre biomassa, biocombustíveis, carbono e aproveitamento de resíduos para alimentação animal.
As primeiras 500 mudas de Agave tequilana Weber var. Azul, importadas do México pela Santa Anna Bioenergia, passaram pela quarentena e já começaram a ser estudadas no município de Jacobina (BA), onde foi implantada a primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT). Outras duas URTs serão instaladas nos municípios de Alagoinha e Monteiro, na Paraíba. Ao todo, serão 1.800 mudas nesta etapa inicial.
O projeto, com duração de cinco anos, prevê a realização de ensaios agronômicos, com foco em arranjos de plantio, adubação e tratos culturais, além do desenvolvimento de uma metodologia para quantificação de carbono e análises das propriedades químicas da biomassa para produção de etanol e ração.
O pesquisador Everaldo Medeiros, responsável pelo laboratório de Química da Embrapa Algodão, destaca que estão sendo utilizadas metodologias inovadoras que permitirão criar um painel abrangente de dados para avaliar o aproveitamento energético e ambiental do Agave.
Já o zootecnista Manoel Francisco de Sousa ressalta que os resíduos da produção de etanol a partir da Agave poderão servir como importante suplemento forrageiro para ruminantes, especialmente no período de escassez de forragens no Semiárido.
Um dos principais desafios é tornar o cultivo da Agave totalmente mecanizado. Segundo o pesquisador Odilon Reny Ribeiro, também da Embrapa Algodão, no México diversas etapas já são mecanizadas, como preparo do solo, adubação, capina e aplicação de defensivos, mas o plantio ainda é manual.
A visão da equipe é cultivar grandes áreas com Agave no Brasil, o que exigirá tecnologia agrícola e soluções adaptadas à realidade do Semiárido.
A aposta na Agave tequilana representa uma estratégia promissora para alavancar a bioeconomia, gerar renda, diversificar matrizes energéticas e valorizar áreas semiáridas brasileiras. Com apoio da ciência e investimentos estratégicos, a planta símbolo da tequila pode ser uma nova aliada na produção de etanol sustentável e ração animal, além de contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Fonte: Portal do Agronegócio
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