Publicado em: 18/07/2025 às 14:00hs
A transição energética global enfrenta um desafio preocupante: a oferta de biocombustíveis pode não acompanhar a demanda crescente. Segundo relatório da consultoria Bain & Company, o déficit de suprimento pode atingir 20% até 2030 e chegar a 45% até 2040, especialmente nos segmentos de aviação, transporte marítimo e rodoviário pesado.
Esse descompasso coloca em risco a viabilidade da descarbonização do setor de transportes, que hoje é responsável por 16% das emissões globais de gases de efeito estufa, ficando atrás apenas da geração de eletricidade e da indústria. Cerca de 40% dessas emissões são de difícil eletrificação, tornando os biocombustíveis uma solução viável no curto e médio prazo.
Diante desse cenário, o Brasil desponta como um fornecedor estratégico. Com uma base consolidada de produção de biomassa, especialmente a partir da soja e da cana-de-açúcar, o país reúne condições para liderar a produção global de biocombustíveis.
A expectativa é que a produção de soja cresça 4% ao ano até 2030, o que fortalece o fornecimento de óleo vegetal para biodiesel. Em 2024, 55% do óleo de soja produzido no país foi destinado à produção de biodiesel — um aumento de 72% em relação a 2017. Além disso, a capacidade instalada de produção de óleo vegetal no Brasil cresceu 20% nos últimos dois anos, com ociosidade entre 10% e 15%, o que permite expansão rápida com investimentos pontuais.
O Brasil conta com um parque industrial maduro, resultado de décadas de experiência com etanol e biodiesel. A infraestrutura atual de esmagamento e refino é suficiente para atender à demanda até 2029, com projetos adicionais já previstos para ampliar a capacidade até 2030.
Outro ponto forte é a logística integrada ao comércio internacional, o que facilita o escoamento dos produtos e reforça a posição estratégica do país no mercado global.
Um dos diferenciais do Brasil está na capacidade de aumentar a produção de forma sustentável, sem comprometer a segurança alimentar ou gerar desmatamento. Mais de 60% da soja brasileira ainda é exportada in natura, o que permite ampliar o processamento interno. A produção de biodiesel deve crescer 8% ao ano, superando o ritmo da soja, mas podendo ser sustentada com ganhos de produtividade e uso de áreas já abertas ou degradadas.
Além das commodities tradicionais, o país começa a investir em novas culturas com potencial energético. A macaúba, por exemplo, é uma palmeira nativa com alto rendimento de óleo e pode ser cultivada em áreas degradadas. Outras opções, como camelina e carinata, também são promissoras e podem ser utilizadas em sistemas rotativos, aproveitando períodos de entressafra e reduzindo impactos ambientais.
Para ampliar a escala dessas alternativas, ainda são necessários investimentos estruturantes: desenvolvimento de sementes adaptadas, certificação internacional, capacitação técnica dos produtores e adequações logísticas e industriais.
Com a adoção de políticas como o Fit for 55, na União Europeia, e o Inflation Reduction Act, nos Estados Unidos, a demanda por combustíveis sustentáveis deve acelerar significativamente nos próximos anos. O Brasil, com sua oferta abundante de biomassa, know-how técnico e escala industrial, pode se tornar um fornecedor global relevante de biocombustíveis como:
A Bain & Company elencou quatro passos essenciais para o Brasil se consolidar como protagonista mundial em biocombustíveis:
“O Brasil tem a oportunidade de assumir a liderança na produção sustentável de biocombustíveis. Ser o celeiro de bioenergia do planeta é mais do que um papel econômico: é uma estratégia de segurança energética e de contribuição real à descarbonização global”, destaca Felipe Cammarata, sócio da Bain.
Com a combinação de capacidade produtiva, recursos naturais e base industrial sólida, o Brasil está posicionado para desempenhar um papel central no abastecimento mundial de energia limpa nas próximas décadas.
Fonte: Portal do Agronegócio
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