Publicado em: 17/10/2025 às 09:00hs
O Brasil tem potencial para mais do que dobrar a produção e o consumo de biocombustíveis até 2050, respeitando critérios socioambientais e sem necessidade de novas áreas de desmatamento. É o que aponta o estudo “Biocombustíveis no Brasil: alinhando transição energética e uso da terra para um país carbono negativo”, lançado nesta quinta-feira (9) pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), com apoio do GT Clima e Energia do Observatório do Clima.
Segundo o levantamento, o cultivo agrícola adicional necessário para ampliar a produção de biocombustíveis pode ocupar entre 20 e 35 milhões de hectares (Mha) dentro dos 56 Mha de pastos degradados que o país possui e que podem ser recuperados e utilizados de forma estratégica.
“Para isso, é necessário investir em cultivos de maior produtividade, como a macaúba, e em tecnologias avançadas, como o etanol de segunda geração”, explica Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do IEMA e autor do estudo.
O Brasil possui cerca de 100 Mha de pastos degradados, equivalente a 12% do território nacional, dos quais 56 Mha poderiam ser direcionados para o crescimento da agricultura e produção de bioenergia. Essa estratégia permitiria conciliar a expansão de biocombustíveis com a proteção ambiental, regeneração de áreas naturais e produção de alimentos.
Silva ressalta que a bioenergia demanda quantidade relevante de terras, mas com políticas de monitoramento e uso do solo rigorosas, é possível priorizar alimentação e preservação ambiental, usando apenas áreas degradadas para produção energética.
O estudo analisou seis cenários de expansão da bioenergia no Brasil, considerando diferentes matérias-primas e tecnologias para produção de etanol, biodiesel, diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF). Entre eles, quatro cenários se enquadram no limite de 56 Mha, demandando 20 a 35 Mha adicionais, conforme detalhado abaixo:
Essas áreas se somariam aos 31,4 Mha utilizados em 2024 para produção de bioenergia, incluindo também silvicultura de eucalipto e pinus, utilizados para lenha, carvão vegetal e subprodutos da indústria de papel e celulose.
O estudo considera tanto o etanol de primeira geração, atualmente produzido, quanto o etanol de segunda geração, feito a partir do bagaço da cana. Ambos podem ser utilizados diretamente como combustível ou para produção de diesel verde e SAF por meio da tecnologia ATJ (Alcohol to Jet).
O óleo de soja pode gerar biodiesel e ser transformado em diesel verde e SAF em biorrefinarias. Já a macaúba apresenta alta produtividade (4.000 kg de óleo por hectare) e é nativa do Brasil, representando uma alternativa sustentável para bioenergia.
Dois cenários estudados indicam dificuldade em conciliar expansão da bioenergia com desmatamento zero:
O estudo assume como premissa a redução de 92% das emissões de todos os setores até 2035 em relação a 2005, conforme a segunda NDC do Brasil no Acordo de Paris, e um crescimento médio do PIB de 2,1% ao ano até 2050. Com isso, o consumo de bioenergia pode passar de 102 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep) em 2024 para 221,1 Mtep em 2050, mantendo compromisso com desmatamento zero até 2030, com uma perda residual máxima de 100 mil hectares anuais.
Fonte: Portal do Agronegócio
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