Mercado Financeiro

Real deve enfrentar trimestre de forte volatilidade com cenário fiscal e riscos externos no radar

Tensões internacionais, incertezas fiscais e decisões de política monetária nos EUA e no Brasil devem marcar a trajetória da moeda nos próximos meses, segundo análise da StoneX


Publicado em: 10/11/2025 às 10:30hs

Real deve enfrentar trimestre de forte volatilidade com cenário fiscal e riscos externos no radar

O real brasileiro deve atravessar o último trimestre de 2025 em meio a um ambiente de volatilidade e incertezas. A avaliação é de Leonel Oliveira Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, que destaca um conjunto de fatores domésticos e internacionais capazes de influenciar diretamente o câmbio e o humor dos investidores.

Tarifas nos EUA e política econômica elevam riscos globais

No cenário internacional, a condução da política econômica norte-americana sob o governo Donald Trump tem sido um dos principais vetores de instabilidade. Segundo o relatório trimestral de perspectivas da StoneX, a elevação das tarifas de importação nos Estados Unidos — de uma média de 2,4% em 2024 para 17,4% em 2025 — representa o nível mais alto desde 1935.

Essa medida tem encarecido as importações e despertado receios sobre uma possível reaceleração inflacionária no país. Ainda assim, os impactos diretos sobre os preços ao consumidor têm sido limitados graças a estratégias empresariais como antecipação de estoques, absorção de custos e ganhos de eficiência operacional.

“O Federal Reserve segue vigilante, observando se essas pressões podem se tornar persistentes em um cenário de crescimento acima do esperado da atividade produtiva e da demanda interna”, explica Mattos.

Mercado de trabalho americano sinaliza transição

A StoneX aponta que o mercado de trabalho dos EUA mostra sinais mistos. Há uma desaceleração nas contratações — concentradas principalmente em setores como educação, saúde e lazer —, enquanto a taxa de desemprego se mantém estável.

De acordo com Mattos, essa aparente contradição se deve à redução dos fluxos migratórios, que limitou o crescimento da força de trabalho disponível. Com o arrefecimento nas contratações, os investidores passaram a antecipar cortes de juros pelo Federal Reserve, o que tende a enfraquecer o dólar e favorecer moedas emergentes, incluindo o real.

Copom mantém postura firme diante de desafios domésticos

No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tem reforçado uma política monetária conservadora, sinalizando a manutenção da taxa Selic em níveis elevados por mais tempo.

O objetivo é garantir a estabilidade de preços, mesmo com sinais de desaceleração da atividade econômica e recuo nas expectativas de inflação.

“O aquecimento do mercado de trabalho brasileiro sustenta essa postura mais cautelosa, ampliando o diferencial de juros em relação a outras economias, o que favorece a entrada de capital estrangeiro e o fortalecimento do real”, destacou Mattos.

Incertezas fiscais e eleições de 2026 aumentam o risco político

No campo doméstico, a fragilidade fiscal segue sendo um ponto de atenção. A aproximação das eleições presidenciais de 2026 e a dificuldade de articulação política do governo com o Congresso Nacional elevam o nível de desconfiança entre investidores.

Segundo Mattos, embora o governo mantenha o discurso de compromisso com as metas fiscais, ainda há resistência em cortar gastos públicos e uma preferência por aumentar a arrecadação. Esse cenário gera dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida e levanta temores de expansão de despesas com viés eleitoral.

Cenário duplo para o real: valorização limitada por riscos fiscais

A combinação de fatores forma um quadro de alta complexidade para a moeda brasileira. De um lado, o enfraquecimento global do dólar e o diferencial de juros favorável ao Brasil podem sustentar um movimento de valorização do real. Por outro, as incertezas fiscais e a aversão ao risco global devem continuar impondo limites a esse avanço.

“O comportamento do real nos próximos meses dependerá da capacidade das autoridades econômicas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, de promover estabilidade e confiança nos mercados”, conclui o analista da StoneX.

Relatório completo StoneX

Fonte: Portal do Agronegócio

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