Publicado em: 10/04/2015 às 17:40hs
Depois de um longo período carregando um alto nível de prêmio de risco, o mercado de juros começa a reconhecer que o cenário mudou. A correção vista nas taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) nos últimos dias coloca à mesa a possibilidade do Banco Central desacelerar o passo no ciclo de aperto monetário e elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual na reunião de abril.
Fatores - O que mudou a cabeça do mercado foi um conjunto de notícias conhecidas nos últimos dez dias. Além de o dólar ter se reaproximado dos R$ 3,05, nível não visto em cerca de um mês, investidores assistiram a um tombo nos preços do minério de ferro para abaixo da marca de US$ 50 a tonelada, além de a produção industrial brasileira encolher em fevereiro 9,1% em 12 meses. Ao mesmo tempo, diminuiu o pessimismo em relação ao futuro da política fiscal, com melhora do cenário político.
Fed - O arremate veio com a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) pode postegar o aperto monetário nos Estados Unidos. No pico do nervosismo com o câmbio e a instabilidade política, o mercado futuro de juros chegou a embutir, em 16 de março, um aperto de 1,77 ponto percentual da Selic até o fim do ano, reagindo à disparada de 22% do dólar no trimestre até aquela data. Desde então, as taxas dos DIs vêm caindo e, nesta quarta-feira (08/04) projetavam alta de 0,75 ponto, com a Selic terminando o ano perto de 13,5%.
Divisão das apostas - Para a reunião de 28 e 29 de abril, os contratos de juros mais curtos indicam uma divisão das apostas entre uma alta de 0,25 ponto e de 0,50 ponto. Em março, os preços mostravam consenso em torno de uma elevação bem mais forte, de 0,75 ponto. Mas o que parece consenso é que o BC já está preparando o mercado para o encerramento do ciclo de aperto monetário no máximo até junho.
Relevante - Essa mudança no mercado futuro de juros não necessariamente reflete uma alteração nas projeções dos economistas. Mas é relevante por mostrar a disposição dos investidores em diminuir o prêmio de risco relativo à política monetária.
Afrouxamento monetário- Ao mesmo tempo, ainda que de forma tímida, ganha corpo o debate sobre a probabilidade de o BC inverter a mão e começar ainda neste ano um ciclo de afrouxamento monetário. Esse risco será maior caso a atividade mostre uma deterioração mais forte que a esperada pelo próprio BC. Por ora, a inflação ainda alta e as incertezas levam investidores a evitar previsões de corte de juros neste ano, movimento que deve ocorrer em 2016.
Recuo do câmbio - Segundo analistas, boa parte do ajuste recente nos DIs reflete o recuo do câmbio, que cai 4,26% no mês, com a melhora da aversão a risco no exterior. "Essa postura [de aperto monetário mais gradual] do Fed ajuda a dar algum alívio ao câmbio, o que diminui a pressão para um aperto monetário mais forte pelo BC", diz o economista e sócio da MVP Capital, Samuel Kinoshita. Ele acredita que é o câmbio que vai determinar se a Selic voltará a subir em junho ou não.
Prematuro - Apesar do alívio no câmbio, o economistachefe do Banco Safra, Carlos Kawall, acredita que seria prematuro o BC encerrar o ciclo de aperto monetário em abril, prevendo alta de 0,5 ponto percentual da Selic em abril e um aumento adicional de 0,25 ponto. em junho. O economista, contudo, não descarta a possibilidade de o BC desacelerar o ritmo de alta já neste mês e optar por um aumento de 0,25 ponto se o quadro mais benigno para o câmbio se consolidar.
Questões domésticas - Mas também há questões domésticas contribuindo para esses ajustes. O economistachefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, lembra que houve uma melhora da percepção de risco político, reforçada pela escolha do vicepresidente da República, Michel Temer, presidente nacional do PMDB, como responsável pela articulação política do governo.
Piora na atividade - A piora na atividade é outro risco importante nas próximas decisões de juros. O BC prevê uma contração do PIB de 0,5% neste ano, mas essa previsão está bem mais otimista que a média do mercado, de declínio de 1,01%, segundo a pesquisa Focus. O resultado do IPCA de março, divulgado ontem, já capta em parte o efeito desse quadro fraco da economia: a inflação de serviços desacelerou de 1,07% em fevereiro para 0,58% no mês passado, em grande parte por causa do ambiente recessivo.
Desaceleração - Por causa dessa questão, o economista para Brasil do Barclays, Bruno Rovai, não descarta uma desaceleração do ciclo de alta de juros neste mês, mas mantém a previsão de aumento final de 0,5 ponto para a Selic em abril. De todo modo, Rovai não acredita que o BC dará uma indicação clara no próximo encontro de que está terminando o ciclo. Vai ser a salvaguarda para as incertezas políticas que podem afetar a taxa de câmbio.
Acréscimo - Por causa dessas dúvidas, muitos analistas mantêm a expectativa de acréscimo de 0,50 ponto neste mês. O sóciogestor da Modal Asset Management, Luiz Eduardo Portella acredita que o ciclo pode ser estendido até junho, com alta de 0,50 ponto e 0,25 ponto, respectivamente. Ele chama a atenção para a inflação implícita nas Notas do Tesouro NacionalSérie B (NTNB) com rentabilidade atrelada ao IPCA , que evidencia a descrença do mercado com relação à convergência da inflação para o centro da meta no próximo ano. "Não seria surpresa para mim o BC subir apenas 0,25 ponto em abril por causa da atividade fraca e do câmbio."
Inflação implícita - A inflação implícita da NTNB com vencimento em maio de 2017, por exemplo, estava em 6,78% nesta quarta, bem acima do centro da meta de 4,5% prometido pelo BC para o próximo ano. Já o estrategista para a América Latina do Standard Chartered, Italo Lombardi, tem uma visão conservadora e vê o BC elevando a Selic em mais 1 ponto percentual até dezembro. Para ele, os sinais do lado fiscal são positivos, mas ainda insuficientes para permitir um abrandamento do aperto monetário. "Não é só uma questão de o BC ter o controle da inflação, mas de recuperar a credibilidade perdida. E recuperar essa confiança passa por fazer o que precisa ser feito para debelar a inflação", afirma.
Fonte: Informe OCB
◄ Leia outras notícias