Publicado em: 11/07/2025 às 09:30hs
O Plano Safra 2025/26, lançado recentemente no Palácio do Planalto, prevê R$ 475,5 bilhões em crédito rural, com crescimento nominal de apenas 1,5% em relação ao ciclo anterior. Na prática, esse avanço está abaixo da inflação acumulada de 4% nos últimos 12 meses (IPCA), configurando uma retração real dos recursos disponíveis para o setor agrícola.
Leandro Weber Viegas, especialista em Direito e CEO da Sell Agro, destaca que as taxas de juros do financiamento agrícola no Brasil, que variam entre 8% e 14% ao ano, são muito superiores às oferecidas em outros países. Enquanto nos Estados Unidos os produtores têm acesso a linhas subsidiadas com juros abaixo de 5%, na União Europeia o apoio é estruturado por meio de previsibilidade, subsídios diretos e seguros amplamente acessíveis.
Além dos juros altos, o atraso no desembolso dos recursos compromete a eficiência do ciclo produtivo. No Plano Safra 2024/25, apenas 70% dos créditos previstos foram efetivamente liberados até maio deste ano, segundo o Banco Central, dificultando a compra de insumos, contratação de serviços e o planejamento da safra.
Dados recentes do BNDES e do Ministério da Agricultura indicam uma redução de 5% nas contratações de crédito para investimentos agropecuários. Isso representa menos aquisição de maquinário, menor infraestrutura para armazenagem e uma queda na adoção de tecnologias sustentáveis — elementos essenciais para aumentar a produtividade e reduzir riscos climáticos.
A escassez e o custo elevado do crédito, combinados com alta carga tributária, falta de políticas estruturantes de longo prazo e excesso de burocracia, criam um ambiente de insegurança para o agronegócio.
O setor responde por cerca de 24,8% do PIB, movimenta mais de R$ 2,8 trilhões por ano e emprega diretamente mais de 20 milhões de pessoas na cadeia agroindustrial. Além disso, representa 52% das exportações brasileiras, que devem chegar a US$ 165 bilhões em 2024, com destaque para soja, milho, carnes e café.
Apesar de sua relevância, o agronegócio ainda é tratado como solução temporária e não como parte central de uma política econômica consistente. O Plano Safra, que deveria impulsionar o desenvolvimento rural, tem sido marcado por retórica e resultados tímidos.
A deterioração fiscal e o aumento dos gastos públicos elevam o risco país, pressionam o câmbio e mantêm a Selic em 15% ao ano, encarecendo os financiamentos e dificultando o controle da inflação. Isso ocorre num contexto já desafiador, com fatores como El Niño, aumento dos custos de fertilizantes e defensivos, e pressões por sustentabilidade.
Leandro Weber Viegas reforça que o Brasil precisa oferecer crédito acessível, segurança jurídica e políticas robustas de gestão de riscos. Atualmente, menos de 18% da área plantada conta com seguro agrícola, deixando os produtores vulneráveis a perdas severas causadas por eventos climáticos extremos, o que torna o crédito ainda mais caro.
O Plano Safra 2025/26 deveria ser um motor para o desenvolvimento rural, mas, na prática, pode funcionar como um freio. O agronegócio brasileiro exige respeito e políticas que estejam alinhadas com sua realidade e com o mercado internacional. É momento de substituir discursos por planejamento e ações concretas para garantir que o setor, que sustenta a economia nacional, receba o apoio que merece.
Fonte: Portal do Agronegócio
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