Mercado Financeiro

Juros altos e crédito restrito pressionam agronegócio e ameaçam sustentabilidade dos produtores

Especialistas alertam que taxa Selic elevada e endividamento crescente colocam em risco a produção, investimentos e a saúde financeira do setor agrícola brasileiro


Publicado em: 04/11/2025 às 09:30hs

Juros altos e crédito restrito pressionam agronegócio e ameaçam sustentabilidade dos produtores
Taxa Selic elevada reduz recursos para custeio e investimento

A manutenção da taxa Selic em patamares elevados pelo Banco Central do Brasil (BC), como medida para conter a inflação, tem gerado efeitos negativos no agronegócio, setor que representa cerca de 30% do PIB brasileiro.

Segundo a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), no primeiro trimestre da safra 2025/26, os recursos destinados ao custeio recuaram 23%, enquanto os destinados a investimentos caíram 44% em relação ao ciclo anterior, refletindo a pressão das taxas de juros sobre o financiamento rural.

Produtores recorrem à renegociação, mas riscos aumentam

O advogado especializado em direito agrário e financeiro, Lando Bottosso, do escritório João Domingos Advogados Associados, alerta que a combinação de juros altos e crédito restrito cria uma falsa sensação de estabilidade no setor. Muitos produtores recorrem à renegociação de dívidas ou ao alongamento de contratos fiduciários, na expectativa de que os preços das commodities se recuperem.

“Essa estratégia, se prolongada, pode levar à insolvência de muitos produtores. A alta dos juros compromete a capacidade de pagamento e prejudica a produção agrícola, gerando um ciclo de endividamento sem garantia de recuperação”, explica Bottosso.

A inadimplência em algumas regiões já ultrapassa 5%, segundo o especialista, evidenciando a vulnerabilidade de produtores que dependem de crédito bancário.

Impactos na liquidez e capacidade de investimento

O advogado ressalta que a retração do crédito rural e o aumento do custo dos empréstimos não afetam apenas a safra atual, mas comprometem a capacidade de investimento e inovação dos produtores para os próximos ciclos.

“A liquidez apertada exige atenção redobrada às condições de financiamento, tipo de contrato e estrutura de pagamento. Pequenos e médios produtores devem avaliar a real viabilidade dos créditos contratados”, acrescenta Bottosso.

Estratégias para evitar insolvência e proteger o setor

Bottosso recomenda que produtores busquem alternativas mais estruturadas do que a simples renegociação de dívidas. Entre as medidas sugeridas estão:

  • Revisão detalhada dos contratos de financiamento.
  • Reestruturação de dívidas considerando capacidade real de pagamento.
  • Apoio de consultores ou advogados especializados em direito agrário.
  • Exploração de linhas de crédito com juros mais moderados ou recursos de cooperativas.

“A saúde financeira dos produtores e o desempenho do agronegócio dependem de estratégias ativas, estrutura adequada e condições de crédito compatíveis com a realidade dos mercados e dos custos elevados”, conclui Bottosso.

Fonte: Portal do Agronegócio

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