Mercado Financeiro

Inflação em leve alta e incertezas fiscais pressionam mercados; dólar deve encerrar 2025 em R$ 5,55, aponta Rabobank

Cenário externo: tensões comerciais e volatilidade cambial


Publicado em: 14/10/2025 às 20:00hs

Inflação em leve alta e incertezas fiscais pressionam mercados; dólar deve encerrar 2025 em R$ 5,55, aponta Rabobank

De acordo com o relatório “Bem-aventurados os Pacificadores”, do RaboResearch (Rabobank), o cenário global segue marcado por incertezas comerciais e geopolíticas. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou novas tarifas de 100% sobre produtos chineses e restrições à exportação de softwares críticos a partir de 1º de novembro. A medida elevou a volatilidade nos mercados e pressionou moedas emergentes.

O real brasileiro foi uma das divisas mais afetadas, com desvalorização de 3,44% na semana, encerrando a R$ 5,5209 por dólar — o pior desempenho entre 24 moedas emergentes. Mesmo com o dólar enfraquecido globalmente, o banco projeta cotação de R$ 5,55 no fechamento de 2025, impulsionada pela incerteza fiscal e geopolítica.

Inflação de setembro surpreende positivamente

O IPCA registrou alta de 0,48% em setembro, abaixo das expectativas do mercado (0,52%). Apesar da elevação, a inflação acumulada em 12 meses caiu de 5,2% para 5,1%, ficando pouco acima do teto da meta de 4,5%.

O destaque foi o aumento de 2,97% no grupo Habitação, puxado pela energia elétrica residencial, que subiu mais de 10% com o fim do bônus de Itaipu. Em contrapartida, o grupo Alimentação e Bebidas recuou 0,26%, ajudando a conter o índice geral.

Com o resultado, o Rabobank revisou sua projeção de inflação para 4,7% em 2025 e manteve 4,2% para 2026, destacando o bom comportamento dos preços industriais e o impacto da valorização do real sobre as importações.

Comércio exterior perde fôlego após importação de plataforma de petróleo

A balança comercial brasileira apresentou superávit de US$ 3 bilhões em setembro, abaixo do esperado, após a importação de uma plataforma de petróleo de US$ 2,38 bilhões. No acumulado de 12 meses, o saldo é de US$ 61 bilhões.

As exportações de soja (+20,2%), petróleo (+16,6%), minério de ferro (+3,3%) e carne bovina (+55,6%) sustentaram o resultado positivo. No entanto, as vendas para os Estados Unidos caíram 19,5%, reflexo direto das novas tarifas impostas por Washington.

O Rabobank projeta superávit de US$ 64,1 bilhões em 2025, mas alerta para a tendência de desaceleração das exportações diante das incertezas políticas e da demanda global.

Agenda política: Lula e Trump mantêm diálogo cordial

O relatório destaca a videoconferência entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, realizada em 6 de outubro. O encontro, classificado como “amistoso”, abordou tarifas adicionais sobre produtos brasileiros e possíveis sanções a autoridades. Embora sem acordos concretos, ambos demonstraram interesse em fortalecer relações comerciais, com expectativa de novas reuniões durante a COP-30.

Reveses fiscais e novas medidas econômicas

O governo brasileiro enfrentou uma semana turbulenta após a rejeição da Medida Provisória 1303, que substituía o aumento do IOF. A decisão da Câmara dos Deputados pode gerar um rombo de até R$ 42 bilhões até 2026.

Para compensar, o Ministério da Fazenda estuda alternativas de arrecadação e cortes de emendas parlamentares. O ministro Fernando Haddad reafirmou o compromisso com a meta fiscal e defendeu a redução de gastos tributários, sem aumento direto de impostos.

Banco Central mantém juros em 15% e alerta para inflação persistente

Segundo o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, a autoridade monetária considerou elevar a Selic acima de 15%, mas optou por mantê-la nesse patamar por um período prolongado. O objetivo é assegurar o controle da inflação, que deve encerrar 2025 em 4,8%, segundo estimativas internas do BC.

Mercado imobiliário ganha novo modelo de crédito

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um novo modelo de crédito imobiliário voltado à classe média. A proposta elimina, a partir de 2027, a exigência de que 65% dos depósitos em poupança sejam destinados ao crédito habitacional. A medida visa aumentar os recursos disponíveis no Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e reduzir custos para os mutuários.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que o sistema atual depende excessivamente da poupança e que a reforma busca ampliar as fontes de financiamento, mantendo juros limitados a 12% ao ano.

Panorama geral e projeções do Rabobank

O relatório prevê crescimento do PIB de 2,0% em 2025 e 1,6% em 2026, com Selic estável em 15% até o início de 2026. A expectativa é de que o mercado de trabalho siga aquecido, sustentando o consumo das famílias, mas também mantendo pressão sobre os serviços — segmento que deve continuar com inflação acima de 6% ao ano.

Fonte: Portal do Agronegócio

◄ Leia outras notícias