Mercado Financeiro

Fundos soberanos ampliam investimentos no Brasil

Com um patrimônio estimado em mais de US$ 5 trilhões, os fundos soberanos, constituídos com recursos das reservas de governos, ampliaram os negócios no Brasil


Publicado em: 02/12/2013 às 17:00hs

Fundos soberanos ampliam investimentos no Brasil

De forma indireta, grandes bancos como Santander e BTG Pactual, e empresas como a Odebrecht Óleo e Gás, receberam investimentos "estatais" - no caso, de países como Catar, China e Cingapura.

O negócio mais recente foi anunciado na semana passada. A Temasek, empresa de investimentos do governo de Cingapura, fechou um aporte na produtora de papel Klabin. Ao lado do grupo Ligna, a companhia se comprometeu a investir até US$ 550 milhões (cerca de R$ 1,27 bilhão) em debêntures conversíveis em ações da companhia.

Como sinal do maior interesse no país, o GIC, fundo que também pertence ao governo de Cingapura, vem entrevistando executivos para preparar a abertura de um escritório local, conforme apurou o Valor. Procurado, o GIC não respondeu ao pedido de entrevista.

A discrição é uma das características dos fundos soberanos, cujos negócios começaram a chamar a atenção na crise de 2008, quando adquiriram grandes participações em bancos americanos com problemas. Na época, a entrada de governos estrangeiros como acionistas relevantes das instituições foi vista com reservas. Antes da crise, autoridades nos Estados Unidos chegaram a barrar aquisições feitas por empresas controladas por governos estrangeiros.

Os objetivos dos países com a constituição dos fundos vão desde atenuar os impactos de ciclos econômicos, como uma eventual queda dos preços de commodities, até a formação de poupança para financiar gerações futuras.

O Brasil criou seu próprio fundo soberano em 2008, que acabou sendo usado apenas para adquirir ações do Banco do Brasil e da Petrobras. No ano passado, o governo brasileiro resgatou a maior parte dos recursos para cumprir a meta fiscal. Dos R$ 14 bilhões destinados originalmente, hoje sobram apenas R$ 3,5 bilhões no patrimônio, a maior parte em papéis do BB.

Enquanto o fundo brasileiro perde recursos, os estrangeiros, com destaque para os asiáticos, procuram ampliar a presença local. Um dos primeiros grandes negócios ocorreu em 2010, quando os fundos da China (CIC), Cingapura (GIC) e de Abu Dhabi (Adia) integraram o consórcio de investidores que capitalizou o BTG Pactual em US$ 1,8 bilhão, em troca de uma participação de 18,5%. No início de novembro, o Qatar Holding, unidade de investimentos diretos do fundo do Catar, converteu US$ 2,72 bilhões em ações do Santander Brasil e passou a deter 5,2% do capital do banco.

Os fundos soberanos também têm demonstrado interesse por ativos ligados ao setor de infraestrutura, área em que o país possui uma conhecida carência por recursos. Entre os investimentos recentes, o principal destaque foi a entrada do Mubadala, empresa do governo de Abu Dhabi, no Porto Sudeste, que pertencia à mineradora MMX, do empresário Eike Batista. O negócio, realizado junto com a trading holandesa Trafigura, foi avaliado em US$ 1 bilhão.

Além dos aportes diretos, os recursos de governos estrangeiros entram no país via investimentos em fundos de private equity, que compram participações em empresas. A Temasek, que possui escritório no Brasil, é cotista de fundos como a GP Investimentos e investiu diretamente na Odebrecht Óleo e Gás, que também tem como sócia a Gávea Investimentos, gestora fundada pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

Apesar do avanço, a avaliação é que os investimentos dos fundos soberanos ainda têm muito espaço para crescer no país. "De um modo geral, eles ainda estão descobrindo o Brasil", afirma Fernando Iunes, diretor de banco de investimentos do Itaú BBA.

Diante do tamanho dos fundos, a tendência é que a atuação se concentre em grandes negócios. "Esses investidores analisam oportunidades simultaneamente no mundo inteiro", diz Iunes. Os ativos de infraestrutura são um alvo natural, desde que representem uma alternativa de diversificação. "Um fundo soberano do Oriente Médio dificilmente investirá em petróleo e gás no Brasil", afirma.

Fonte: Canal do Produtor

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