Mercado Financeiro

Fed deve manter juros estáveis em meio a incertezas provocadas por tarifas comerciais dos EUA

O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, deve manter inalterada a taxa básica de juros na reunião desta quarta-feira (8).


Publicado em: 05/05/2025 às 11:05hs

Fed deve manter juros estáveis em meio a incertezas provocadas por tarifas comerciais dos EUA

Apesar disso, especialistas alertam que esta pode ser a última decisão clara do comitê por algum tempo, já que o cenário econômico norte-americano enfrenta instabilidade crescente, em grande parte devido à política comercial adotada pelo presidente Donald Trump. A imprevisibilidade no uso de tarifas vem pressionando o crescimento econômico, aumentando os custos para empresas e trazendo incertezas sobre os próximos passos da autoridade monetária.

Expectativa é de manutenção da taxa de juros

O consenso entre os analistas é que o Fed manterá sua taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,50%. No entanto, essa aparente estabilidade esconde uma série de tensões que poderão influenciar futuras decisões da autoridade monetária.

As tarifas impostas recentemente por Trump — descritas como as mais agressivas em um século — afetaram a confiança de consumidores e empresários, com impacto direto sobre setores estratégicos da economia norte-americana. A consequência foi uma inesperada retração de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no último trimestre.

Empresas e mercados reagem negativamente às tarifas

Diversas empresas norte-americanas expressaram preocupação com os efeitos das tarifas sobre suas operações. Nomes como McDonald’s, General Motors e Apple alertaram para prejuízos nos balanços devido ao aumento nos custos de importação. O setor aéreo também sentiu os efeitos: companhias como a Delta Airlines chegaram a cancelar suas previsões de desempenho.

Além do impacto direto sobre os custos, o clima de incerteza criado pelas idas e vindas nas decisões tarifárias tem limitado o investimento e o consumo, dificultando o planejamento das empresas.

Economia ainda dá sinais de resiliência

Apesar da retração no PIB, o consumo das famílias norte-americanas cresceu 1,8% no período, demonstrando certa resiliência. O mercado de trabalho também se mantém robusto: em abril, os EUA criaram 177 mil empregos, superando as expectativas, e a taxa de desemprego permaneceu em 4,2%.

Esses dados indicam que, embora haja riscos, ainda não há sinais de um colapso iminente na economia.

Previsões de cortes permanecem incertas

As previsões trimestrais do Fed serão atualizadas apenas em junho. Até lá, o mercado volta sua atenção à coletiva de imprensa do presidente do banco central, Jerome Powell, em busca de sinais sobre a trajetória dos juros.

Em março, o Fed indicava a possibilidade de dois cortes nos juros ao longo do ano. Contudo, a escalada da guerra comercial, com episódios como o anúncio das tarifas de 145% sobre produtos chineses em abril, colocou essas projeções em xeque.

Powell sinaliza cautela diante do cenário inflacionário

No mês passado, Powell afirmou que é preciso “certeza” de que os aumentos de preços causados pelas tarifas são apenas temporários, antes de considerar mudanças na política monetária. Com o mercado de trabalho ainda forte, o Fed tem espaço para aguardar.

Para o economista Derek Tang, da consultoria LHMeyer, o Fed parece priorizar a contenção da inflação no momento, mesmo que isso signifique adiar medidas de estímulo à economia. Segundo ele, a instituição só deve intervir se o mercado de trabalho começar a enfraquecer significativamente.

Expectativa do mercado: cortes a partir de julho

A maioria dos economistas prevê que eventuais cortes nos juros só devem ocorrer a partir do segundo semestre de 2025. Após a divulgação do último relatório de emprego, o Barclays ajustou sua previsão, indicando que o Fed poderia começar a reduzir os juros em julho, desde que haja maior clareza sobre as tarifas e sobre um possível projeto de corte de impostos em discussão no Congresso.

O mercado financeiro também precifica dois cortes adicionais nos juros ainda neste ano.

Fed dividido entre inflação e pleno emprego

De acordo com Nancy Vanden Houten, economista sênior da Oxford Economics, o banco central se encontra em uma “posição delicada”, diante da expectativa de inflação mais elevada e do risco de que as expectativas inflacionárias escapem do controle.

A equipe da Oxford projeta que o Fed só começará a cortar os juros em dezembro, considerando que o mercado de trabalho segue resiliente e que a meta de inflação ainda não foi alcançada.

Decisões futuras devem depender da evolução das tarifas

O diretor do Fed, Christopher Waller, apresentou recentemente dois cenários possíveis: cortes graduais nos juros, caso as tarifas recuem, ou reduções mais agressivas, se elas se mantiverem elevadas. Segundo ele, um aumento de mais de 0,1 ponto percentual na taxa de desemprego em um único mês pode antecipar a ação do banco central.

Para Waller, os efeitos inflacionários das tarifas tendem a ser temporários, o que permite ao Fed manter a calma, a menos que o mercado de trabalho enfraqueça de forma significativa.

Sinalização de prudência deve prevalecer

Embora muitos economistas não esperem declarações específicas de Powell nesta semana, a expectativa é de que ele adote um tom prudente na coletiva de imprensa. Para Michael Feroli, economista-chefe do J.P. Morgan para os EUA, a mensagem principal será de que o Comitê Federal de Mercado Aberto está disposto a aguardar antes de tomar novas decisões.

Essa abordagem, no entanto, pode gerar atrito com a Casa Branca. O presidente Trump tem pressionado o Fed por juros mais baixos, e a decisão de manter a taxa atual não deve agradar à presidência.

Fonte: Portal do Agronegócio

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