Publicado em: 26/02/2014 às 10:50hs
Em 20 de janeiro, a moeda americana havia fechado exatamente neste patamar. É o menor nível de fechamento desde 17 de dezembro.
Os fatores que vêm contribuindo para enfraquecer o dólar nas últimas semanas continuaram a atuar sobre as cotações. As sinalizações mais recentes do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e a meta fiscal do governo para 2014 seguiram permeando os negócios. O viés de baixa para o dólar no exterior também favoreceu o movimento no Brasil.
Ao mesmo tempo, pesaram a expectativa que antecede a decisão sobre a taxa de juros hoje pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, e a proximidade da definição da Ptax (cotação do dólar usada como referência das apostas no mercado financeiro).
Em fevereiro, o dólar caiu 3,27%, embora profissionais do mercado sigam afirmando que a tendência é a moeda se recuperar um pouco, considerando o cenário econômico brasileiro.
Pressão
Em entrevista ontem à tarde sobre a economia brasileira, Ilan Goldfajn,economista-chefe do Itaú Unibanco, disse que o câmbio voltará a ser pressionado no Brasil.
Para Goldfajn, os juros nos títulos de 10 anos do Tesouro americano podem chegar a 34% em dezembro. Neste contexto, ele espera que ocorram novos movimentos de fluxos de capitais dos países emergentes para a economia americana - o que, na prática, representaria um viés de alta para o dólar em relação ao real. Para o operador da corretora B&T, Marcos Trabbold, "houve uma melhora bem acentuada no ânimo em relação ao Brasil nos últimos dias. Com isso, o dólar caiu bastante."
Já gerente de operações do banco Confidence, Felipe Pelle-grini, levanta dúvidas se a queda do dólar veio para ficar. "Eu analiso isso como um respiro, não como uma tendência."
Leilão
Logo cedo, o dólar já registrava perdas em relação ao real, influenciado pela tendência de negócios no exterior e pelo leilão de swap (equivalente à venda de dólares no mercado futuro) feito pelo BC. Em sua operação diária, o BC vendeu mais 4 mil contratos, injetando USS 197,4 milhões no sistema.
Os negócios também continuaram a ser feitos em um ambiente mais ameno no Brasil, após Tombini ter reiterado, nas últimas semanas, que as reservas internacionais podem ser usadas se for necessário. Na quin-ta-feira da semana passada, o governo anunciou ainda os cortes do orçamento para 2014, que foram bem recebidos pelo mercado. Além disso, na segun-da-feira Tombini disse que o fluxo de dólares está melhorando.
Alguns profissionais ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agòicia Estado, lembraram ainda que na próxima sexta-feira será definida a Ptax que servirá para liquidar os contratos de derivativos que vencem em março.
Muitos investidores que estão apostando na queda do dólar atuaram para baixar a cotação. No mercado futuro, enquanto os bancos estão vendidos em dólar (apostam na queda), os investidores estrangeiros seguem comprados (apostam na alta) - embora tenham reduzido a aposta nas últimas semanas.
"O mercado está forçando posição vendida mesmo, considerando a Ptax. Na semana que vem, passada a Ptax, poderemos até ter outro movimento", comentou um profissional de uma corretora. "O dólar caiu hoje lá fora (ante várias divisas), mas o principal fator (para o câmbio brasileiro) hoje é interno mesmo", acrescentou Reginaldo Siaca, superintendente da Advanced Corretora. Segundo ele, como hoje ocorre a decisão do Copom, alguns ajustes de baixa para o dólar continuaram a ser feitos. "Se vier 0,25 ponto porcentual (de alta para a Selic), acredito que o dólar fica no atual preço. Mas se vier 0,50 ponto, pode ceder até um pouco mais."/com reuters
O retorno pontual do fluxo estrangeiro ao Brasil
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vem reforçando a mensagem de que o Brasil voltou a atrair recursos estrangeiros neste início de ano. A entrada de dólares estaria "vindo forte" cm fevereiro. Ate o dia 19, o fluxo cambial está positivo em USS1 bilhão, numa melhora provocada pelo resultado da conta financeira, com entrada de US$ 2,1 bilhões, saldo que não cra visto desde setembro.
O movimento chama a atenção porque acontece cm meio ao processo de normalização da política monetária do Federal Reserve, que provoca solavancos nos emergentes. Alem disso, passa por cima das constantes críticas dos investidores sobre a atual condução da política econômica nacional, tendo em vista o fraco crescimento, as dúvidas sobre a situação fiscal c a perspectiva de rebaixamento do rating soberano.
Afinal, o Brasil foi da exagerada condição de "queridinho" dos mercados poucos anos atrás à questionável posição de "vulnerável" 110 atual momento. O que teria mudado, então, na postura externa?
Gestores estrangeiros consultados pelo 'Broadcast' confirmam que, de fato, há algum dinheiro novo sendo colocado novamente no País nas últimas semanas. Não se trata de um fluxo exuberante capitaneado por uma reversão de expectativas econômicas, nem por uma melhora na avaliação do governo brasileiro.
Por ora, investidores institucionais estão cobrindo parte de posições vendidas, aproveitando as taxas mais elevadas de juros, fazendo carrv trade c entrando em oportunidades pontuais geradas pelos preços mais baixos. Como disse um profissional, juro real de 7% só é visto nos chamados mercados dc fronteira. Ninguém, portanto, se impressionou com a meta de superávit primário de 1,9% anunciada na semana passada.
"A maior parte do movimento vem de cobertura de posições vendidas com base na avaliação de que as coisas não vão piorar, cm vez da visão de que estão melhorando", disse um estrategista de instituição britânica. Segundo outro gestor que atua no exterior, há fundos reduzindo posições vendidas também no mercado de ações, cm razão das fortes quedas acumuladas - o Ibovespa tem perda de 17% desde o início do ano. Ainda assim, esses investidores mantêm nervosismo sobre as aplicações no mercado de renda variável. "Há fundos dedicados, co^ 1110 nós, que estão cautelosamente aumentando a exposição a algumas oportunidades específicas", disse o profissional.
A grande questão, claro, é saber se o movimento terá continuidade. Se o Fed prosseguir retirando os estímulos à economia, não é difícil concluir que o ano tende a ser volátil, com momentos de turbulência para abalar os períodos de trégua.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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