Publicado em: 19/09/2024 às 10:55hs
O recente corte de 50 pontos-base na taxa de juros pelo Federal Reserve dos Estados Unidos, anunciado na última quarta-feira, intensificou as especulações de que o Banco Central Europeu (BCE) também poderá flexibilizar sua política monetária em outubro. Contudo, essa possibilidade ainda não é vista como o cenário mais provável, devido às distintas condições econômicas enfrentadas pelas duas regiões.
O BCE já implementou reduções em suas taxas tanto em junho quanto neste mês. Autoridades do banco central têm sinalizado que cortes regulares, possivelmente a cada trimestre, serão necessários para manter a inflação sob controle de forma sustentável. No entanto, apesar da rapidez nas ações do Fed, muitos acreditam que o BCE não deve agir com a mesma urgência, uma vez que os fundamentos econômicos da zona do euro permanecem inalterados.
Especialistas mais conservadores dentro do Conselho do BCE, conhecidos como "hawkish", tendem a argumentar que o momento apropriado para um novo corte seria apenas em dezembro. Segundo Dirk Schumacher, economista da Natixis, a pressão sobre o BCE devido à decisão do Fed não é justificável. "A ideia de que o BCE deve cortar em outubro simplesmente por conta do movimento do Fed é um argumento frágil e será rejeitado pelo Conselho", afirmou ele. Para Schumacher, só faria sentido discutir essa questão se os dados econômicos da zona do euro fossem alterados de forma significativa, o que ainda não aconteceu.
Esse cenário também está refletido no comportamento do mercado, que agora aponta uma probabilidade de 35% para um corte de 25 pontos-base na taxa de depósito do BCE em outubro, frente aos 30% do dia anterior. Embora essa variação seja pequena, ela reforça a visão de que dezembro continua sendo a data mais provável para uma nova ação do banco central europeu.
A diferença no ritmo de corte de juros entre os dois principais bancos centrais do mundo também se justifica pela menor necessidade de ação do BCE. Estima-se que o banco central europeu precise realizar entre cinco e seis cortes de 25 pontos-base para atingir uma taxa "neutra" de cerca de 2,0% a 2,25%, enquanto o Fed, por sua vez, teria aproximadamente oito cortes a realizar para chegar ao mesmo ponto de equilíbrio.
Além disso, os fundamentos econômicos da zona do euro indicam um cenário mais complexo. A inflação atual, de 2,2%, pode subir para 2,5% até o final do ano, com a expectativa de queda gradual para 2% até o fim de 2025. Esse movimento é influenciado pelas pressões salariais, que continuam elevando os custos dos serviços. "A inflação não está onde gostaríamos que estivesse", comentou Joachim Nagel, presidente do banco central alemão, em declaração recente.
Os membros mais conservadores do BCE, que lideraram uma série histórica de aumentos de juros em 2022 e 2023, devem continuar em maioria, o que explica por que o mercado não reagiu drasticamente à decisão do Fed. Por outro lado, economistas menos conservadores, especialmente os representantes de países do sul da Europa, alertam para o enfraquecimento do crescimento econômico, a recessão na indústria e o fraco consumo. Eles também apontam para o aumento das poupanças, motivado pelo receio de uma possível retração econômica. Esses fatores, considerados deflacionários, contribuem para a desaceleração dos preços e podem pesar nas futuras decisões do BCE.
Fonte: Portal do Agronegócio
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