Mercado Financeiro

CNI alerta: manutenção de juros altos prejudica indústria e exige ação imediata do Banco Central

Banco Central mantém Selic em 15% ao ano mesmo com sinais de desaceleração


Publicado em: 18/09/2025 às 11:25hs

CNI alerta: manutenção de juros altos prejudica indústria e exige ação imediata do Banco Central
Foto: Gabriel Pinheiro

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 15% ao ano, considerando a medida “injustificada” diante do cenário econômico atual. Segundo a entidade, a postura conservadora da autoridade monetária ignora sinais claros de queda da inflação e desaquecimento da atividade econômica, aumentando os riscos de prejuízos maiores para a economia e os trabalhadores.

“Não existe crescimento sustentável com juros estratosféricos. O que temos é paralisação nos investimentos produtivos, com impactos para toda a sociedade”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban. Ele ressaltou que os recursos investidos em aplicações financeiras com rendimento real de 10% ao ano desestimulam o investimento produtivo e a inovação.

CNI defende início imediato do ciclo de cortes na Selic

Ricardo Alban destacou a urgência de o Banco Central iniciar o ciclo de redução da Selic já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em novembro, penúltima do ano. Segundo ele, a redução dos juros deve vir acompanhada de um pacto social para ajuste das contas públicas, com foco na contenção de despesas e alinhamento entre política fiscal e monetária.

Além dos impactos da Selic elevada, a indústria enfrenta desafios adicionais, como aumento do IOF sobre operações de crédito e câmbio, além das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre exportações brasileiras. Esse conjunto de fatores contribui para a perda de competitividade do setor e diminuição da confiança dos empresários, medida há nove meses pelo Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) da CNI.

Juros reais elevados e efeito contracionista sobre a economia

A taxa de juros real no Brasil está atualmente em 10,1% ao ano, 5,1 pontos acima da taxa neutra estimada pelo Banco Central em 5% ao ano. Esse cenário coloca o país na segunda posição mundial entre as maiores taxas reais, atrás apenas da Turquia.

A CNI aponta ainda que, segundo a Regra de Taylor, a taxa de equilíbrio da Selic deveria estar em 10,3% ao ano, o que evidencia um excesso de 4,7 pontos percentuais na taxa vigente. Entre setembro de 2024 e julho de 2025, a taxa média do crédito para empresas subiu de 20,58% ao ano para 25,02% e, para consumidores, de 52,26% ao ano para 57,65%.

Esse aumento no custo do crédito impactou o investimento produtivo, com a Formação Bruta de Capital Fixo recuando 2,2% no segundo trimestre de 2025, e o consumo de bens industriais caindo 0,4% no mesmo período.

Atividade econômica em desaceleração

O crescimento do PIB do segundo trimestre de 2025 foi de apenas 0,4%, ante 1,3% no primeiro trimestre. Todos os setores da indústria apresentaram retração, exceto a indústria extrativa, enquanto os setores de transformação e construção registraram dois trimestres consecutivos de queda.

Os primeiros números do terceiro trimestre reforçam a tendência de desaquecimento. Em julho, o IBC-Br, indicador prévio do PIB, caiu 0,5%, com retração na agropecuária (-0,8%), indústria (-1,1%) e serviços (-0,2%).

Inflação mostra sinais de arrefecimento

Apesar da Selic elevada, a inflação medida pelo IPCA vem perdendo força. As altas mensais diminuíram progressivamente: 1,31% em fevereiro; 0,56% em março; 0,43% em abril; 0,26% em maio e julho; e houve variação negativa de 0,11% em agosto.

Entre os fatores que contribuíram para essa desaceleração estão a valorização do real frente ao dólar, que pressionou os preços dos alimentos para baixo, e a safra recorde, que impactou os preços de bens industriais. Além disso, as expectativas de inflação para o final de 2025 caíram por 14 semanas consecutivas, passando de 5,50% no fim de maio para 4,83% em setembro, segundo o Relatório Focus.

CNI reforça necessidade de política monetária mais favorável

Diante do cenário de juros elevados, economia desacelerada e inflação em arrefecimento, a CNI defende que o Banco Central inicie imediatamente o ciclo de cortes na Selic. A entidade reforça também a importância de um pacto pela consolidação fiscal, com foco na redução de despesas, para alinhar política fiscal e monetária e permitir queda sustentável e expressiva dos juros.

Fonte: Portal do Agronegócio

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