Publicado em: 02/10/2024 às 10:10hs
Em um evento promovido pela gestora Crescera Capital, em São Paulo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira que o Brasil precisará implementar um programa que gere a percepção de um choque fiscal positivo caso o país queira conviver com taxas de juros mais baixas. Segundo ele, os questionamentos do mercado sobre a trajetória da dívida pública impõem dificuldades para o processo de redução do custo dos financiamentos.
Campos Neto alertou que a adoção de juros "artificialmente baixos" sem uma âncora fiscal pode resultar, no médio prazo, em um ajuste via aumento da inflação. Ele reforçou a necessidade de harmonia entre as políticas fiscal e monetária para garantir estabilidade econômica.
"Entendemos que, em algum momento, e estou falando de médio prazo, o Brasil precisará de um programa que transmita a percepção de um choque fiscal positivo, se o objetivo for conviver com juros mais baixos", declarou o presidente do BC.
Em setembro, o Banco Central retomou o ciclo de alta dos juros básicos, elevando a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano. Na ocasião, o BC defendeu a importância de uma política fiscal crível e transparente para sustentar essa trajetória.
"Quando o mercado começa a questionar a trajetória da dívida, torna-se muito mais difícil manter juros baixos, e a curva de juros de longo prazo aumenta rapidamente", observou Campos Neto. Ele acrescentou que escolher por juros artificialmente baixos sem garantir estabilidade fiscal equivale a promover um ajuste por meio da inflação, o que afeta, sobretudo, as populações mais vulneráveis, que não têm como se proteger contra a alta dos preços, ao contrário dos mais ricos.
Na mesma semana, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, previu que a dívida bruta do governo deve atingir 81% do PIB em 2028, um nível superior ao inicialmente projetado pela equipe econômica quando foi aprovado o novo arcabouço fiscal.
O governo tem sido alvo de críticas por recorrer a soluções alternativas para aumentar a contabilização das receitas fiscais e implementar programas que não pressionem o orçamento, em face das restrições impostas pelas regras fiscais. Entre as medidas propostas estão a criação de um auxílio-gás para famílias carentes fora do orçamento, o uso de fundos privados para financiar políticas públicas, além de tentativas de utilizar recursos esquecidos por correntistas para melhorar o resultado primário — uma ação que enfrenta resistência do Banco Central.
Em outra frente, o governo afrouxou as contenções orçamentárias para cumprir as regras fiscais, alegando que as receitas previstas superam as expectativas, compensando o aumento das despesas obrigatórias. Com isso, o congelamento de verbas foi reduzido de R$ 15 bilhões para R$ 13,3 bilhões.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias