Publicado em: 12/05/2015 às 19:20hs
Prova disso é que, pela primeira vez desde fevereiro, os economistas ouvidos na pesquisa semanal Focus reduziram a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do próximo ano. Após cinco semanas de estabilidade, as apostas recuaram de 5,60% para uma alta de 5,51%. Para 2015, no entanto, a estimativa ainda é de preços elevados, acima de 8,29% - uma nova máxima no ano. Embora o curto prazo sugira um quadro de preocupação para a inflação, o BC se apega ao voto de confiança dado pelo mercado, que entende que uma maior coordenação das políticas fiscal e monetária, além de uma série de "ventos favoráveis", ajudem a trazer os preços para o centro da meta, de 4,5% ao ano ao fim de 2016, o que não acontece desde 2009.
O governo, nos bastidores, comemorou os números, e mostrou confiança em atingir a meta de inflação em 2016. Nas conversas entre técnicos da equipe econômica, voltou a circular uma avaliação feita no início do ano, pela qual haverá entre o fim deste ano e o começo de 2016 um processo de "desinflação" na economia. Algo semelhante ocorreu no início do primeiro mandado da presidente Dilma Rousseff, quando o BC deu um cavalo de pau na política monetária, e deu início a um amplo e demorado corte nos juros, levando a taxa Selic para a mínima histórica, de 7,25% ao ano, patamar que durou seis meses.
Quando o processo foi iniciado, em agosto de 2011, houve forte crítica por parte dos analistas de mercado. Em setembro daquele ano, o IPCA acumulado em 12 meses havia cravado a máxima de 7,31%. Mas, apenas nove meses depois, frisou uma fonte, a taxa acumulada já havia cedido para 4,92%,emjunhode2012 - coincidentemente, a menor inflação já registrada pelo BC durante a gestão do presidente da autarquia, Alexandre Tombini.
A aposta para 2016 é ainda mais ousada. Se, em 2011, a diferença entre o quanto recuou o IPCA na passagem para 2012 chegou a 2,4 ponto percentual, agora a estimativa feita pelo próprio mercado financeiro, no boletim Focus de ontem, aponta para um recuo da inflação de 2,8 ponto, entre o fim deste ano e dezembro de 2016. A queda surpreendeu até os mais experientes analistas da política monetária. Um ex-diretor do BC disse, sob condição de anonimato, estar animado com os resultados alcançados pela gestão Tombi-ni. "Acho que o BC está trabalhando firme e mostrando ao mercado que está focado, de fato, em atingir a meta em 2016", disse. Ele emendou: "Finalmente, acho que o mercado começa a considerar que é possível um cenário de inflação mais baixa em 2016. E não é sem razão, afinal o conjunto de políticas (econômicas) está, pela primeira vez, coordenada na direção correta. Dessa forma, a consequência é o mercado convergir para elas", acrescentou.
O tom mais duro da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na última quinta-feira, também leva o mercado a acreditar que a promessa de levar a inflação à meta será cumprida, mesmo que o BC precise pesar mais a mão sobre os juros. O Focus ainda mantém a aposta de que a Selic subirá mais 0,25 ponto percentual, para 13,5% ao ano. Mas cresce entre os analistas a percepção de que o BC levará a Selic para 14%. Cálculos do economista-chefe da SulAmé-rica Investimentos, Newton Rosa, mostram que, com a Selic nesse patamar, o BC conseguiria reduzir a inflação para a meta de 4,5% ao fim de 2016. O feito seria alcançado mesmo que o dólar se valorizasse 10% no próximo ano, diz Rosa, acrescentando que seu cenário é ainda mais pessimista do que o contido no Focus, que prevê depreciação cambial de 3% ao fim do próximo ano.
O que também poderia ajudar a política monetária é o maior rigor com os gastos públicos, por parte do governo. Tudo isso combinado, disse Rosa, poderá até mesmo reduzir a necessidade de manutenção do aperto nos juros em meio ponto percentual. "O ajuste fiscal pode receber notícias melhores até a próxima reuniãodoCopom,comoa apro -vação das outras medidas que dependem do Congresso e o anúncio do contingenciamento de gastos pelo governo federal. Dessa forma, a possibilidade de o Copom subir só 25 pontos na próxima reunião não pode ser descartada", frisou.
Antes que isso ocorra, porém, o BC terá de alterar a comunicação junto ao mercado, e passar a indicar que, dada a fraqueza da economia e da convergência das expectativas de inflação, talvez não seja mais necessário manter-se "especialmente vigilante", conforme frisou na última ata do Copom. Uma corrente no governo defende que, se for necessário, essa mudança na comunicação do BC seja explicada antes da próxima reunião do Co-pom, marcada para o início de junho, parabalizaras ações do mercado. E, de preferência, que o recado seja repassado pelo próprio Tombi-ni. O roteiro já estaria até traçado. No próximo dia 26, Tombini falará a parlamentares de três comissões mistas do Congresso. Até lá, porém, fica valendo a mensagem contida na ata do Copom, de maior rigor com os juros, conta uma fonte.
Nas conversas entre técnicos da equipe econômica, voltou a circular uma avaliação de que haverá, entre o fim de 2015 e o começo de 2016, um processo de "desinflação" na economia brasileira.
Fonte: Brasil Econômico
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