Publicado em: 24/06/2025 às 10:57hs
O Banco Central indicou nesta terça-feira (24) que o atual ciclo de aumento da taxa básica de juros está próximo do fim. A decisão foi tomada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, quando a Selic foi elevada de 14,75% para 15% ao ano. Esse foi o sétimo aumento consecutivo, colocando os juros no maior nível em 20 anos e fazendo com que o Brasil tenha a segunda maior taxa de juro real do mundo.
A instituição ressaltou que ainda é prematuro avaliar o impacto da escalada do conflito no Oriente Médio sobre a economia brasileira. O cenário de instabilidade foi agravado pelos ataques de Israel e dos Estados Unidos ao Irã, o que pode afetar o preço do petróleo globalmente. Analistas alertam para o risco de repasse desses custos aos combustíveis no mercado interno, o que poderia pressionar ainda mais a inflação.
Apesar da sinalização do fim dos aumentos, o mercado financeiro projeta que a taxa Selic deve começar a recuar apenas em janeiro de 2026. Enquanto isso, o Banco Central segue focado em conter a inflação, mirando as metas futuras, principalmente do segundo semestre de 2026.
A Selic é o principal instrumento utilizado pelo BC para controlar a inflação. As decisões são baseadas em projeções futuras, já que os efeitos da política monetária costumam demorar entre seis e 18 meses para impactar plenamente a economia. Atualmente, a instituição já está calibrando a política monetária com foco nas metas de inflação dos próximos anos.
As projeções do mercado para a inflação oficial estão em 5,24% para 2025, 4,5% para 2026, 4% para 2027 e 3,83% para 2028 — todas acima do centro da meta de 3%, perseguido pelo BC.
Desaceleração da economia é parte da estratégia
Segundo a ata divulgada, o Banco Central vê a desaceleração da economia como necessária para conter a inflação. O chamado "hiato do produto" continua positivo, o que indica que a economia ainda opera acima do seu potencial sem gerar pressão inflacionária. Contudo, o BC reconhece que a atividade econômica já dá sinais de moderação e que os efeitos do juro alto devem se intensificar nos próximos trimestres, inclusive sobre o mercado de trabalho.
As expectativas de inflação seguem acima das metas em todos os horizontes, segundo o Copom. Isso torna o cenário mais adverso e reforça a necessidade de uma política monetária mais rígida. O documento também destaca a incerteza do ambiente externo, que segue volátil, mesmo com sinais pontuais de melhora, como a reversão parcial de tarifas em algumas economias.
De acordo com o BC, os dados mais recentes mostram um mercado de trabalho ainda aquecido, com criação de empregos formais e queda no desemprego. Apesar disso, houve uma desaceleração nos rendimentos, o que pode afetar o ritmo de expansão da renda familiar. A instituição acredita que essa inflexão faz parte dos efeitos esperados da política de juros altos.
O Banco Central também voltou a apontar que a política fiscal — relacionada aos gastos do governo — tem influência direta na economia, tanto no curto quanto no médio prazo. O aumento de despesas pode estimular a demanda e dificultar o controle da inflação. Para analistas, esse descompasso entre a política fiscal e a política monetária complica a tarefa do BC e pressiona ainda mais a taxa de juros.
A ata do Copom reflete um momento de transição na política monetária brasileira. Embora o ciclo de alta dos juros pareça próximo do fim, os riscos internos e externos, como os efeitos da guerra no Irã, as projeções de inflação e os gastos do governo, ainda impõem desafios significativos para a estabilidade econômica do país.
Fonte: Portal do Agronegócio
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