Mercado Financeiro

Fiagros e Engenharia Econômica: novas fronteiras de pesquisa no Cepea

Iniciativas inovadoras unem o mercado de fiagros e a engenharia econômica para ampliar análises e fortalecer o agronegócio brasileiro


Publicado em: 13/08/2025 às 08:10hs

...

O agronegócio brasileiro passa por uma transformação estrutural que demanda instrumentos financeiros mais sofisticados e métodos de avaliação econômica mais precisos. Neste contexto, duas linhas de pesquisa emergem como fundamentais para compreender e aprimorar o financiamento e a viabilidade econômica de projetos no setor.

Os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) representam um marco inovador no mercado de capitais brasileiro[1]. Desde sua regulamentação em 2021, esses fundos têm crescido exponencialmente, atingindo um patrimônio líquido de R$ 44 bilhões no final de janeiro de 2025, com crescimento de 238% em dois anos[2]. Contudo, por se tratar de um instrumento financeiro recente e com características peculiares do agronegócio, ainda existem lacunas importantes no conhecimento acadêmico e de mercado sobre os fatores que determinam seus retornos e riscos.

As pesquisas sobre Fiagros no Cepea buscarão responder a questões centrais: quais fatores macroeconômicos e setoriais influenciam o desempenho desses fundos? Como as especificidades do agronegócio – sazonalidade, volatilidade de commodities, riscos climáticos – se refletem nos retornos? O mercado de Fiagros é eficiente[3] ou existem oportunidades de obtenção de retornos anormais decorrentes de assimetrias informacionais típicas do setor?

Paralelamente, a linha de Engenharia Econômica (Valuation ou Orçamento de Capital) buscará aplicar métodos avançados na avaliação de projetos no agronegócio. O setor apresenta características únicas – ciclos longos de produção, alta volatilidade de preços, riscos climáticos e regulatórios – que tornam inadequados os modelos clássicos que são determinísticos. Neste sentido, a incorporação de ferramentas de gestão de risco, como a simulação de Monte Carlo[4], permite considerar mais adequadamente essas incertezas, aumentando a robustez de técnicas tradicionais de Orçamento de Capital, como o VPL[5] e a TIR[6]. Isso é crucial para orientar decisões de investimento tanto do setor privado quanto de políticas públicas de fomento.

Essas duas frentes de pesquisa se complementam naturalmente. Os Fiagros, como veículos de investimento, dependem da capacidade de se avaliar adequadamente a viabilidade econômica dos ativos que compõem as suas carteiras. Assim, a aplicação de métodos mais aprimorados de Valuation contribui para a precificação mais eficiente desses fundos.

Além disso, ambas as linhas abordam o desafio comum da gestão de riscos no agronegócio. Enquanto as pesquisas sobre Fiagros analisarão como esses riscos se manifestam no mercado de capitais, a Engenharia Econômica buscará desenvolver ferramentas para quantificá-los e mitigá-los na avaliação de projetos.

Espera-se que essas pesquisas contribuam para: (i) maior eficiência na alocação de recursos no agronegócio brasileiro; (ii) desenvolvimento de instrumentos financeiros mais adequados às especificidades do setor; (iii) melhoria na gestão de riscos; e (iv) fortalecimento do papel do agronegócio na economia brasileira.

O Cepea, com sua tradição em análises econômicas aplicadas e proximidade com o mercado, oferece o ambiente ideal para desenvolver essas pesquisas com rigor acadêmico e relevância prática, contribuindo para o avanço do conhecimento e o desenvolvimento do setor.

Notas:

  • [1] NETO, O.; TOSETTO, J. Guia Suno Fiagros: a nova fronteira dos investimentos brasileiros. São Paulo: Editora CL-A Cultural, 2023.
  • [2] ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Estatísticas de Fiagro. Disponível em: < https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/estatisticas-de-fiagro.htm>. Acesso em: 16/07/2025.
  • [3] FAMA, E. F. Efficient capital markets: a review of theory and empirical. Journal of Finance, v. 25, v. 2, p. 383-417, 1970.
  • [4] TITMAN, S.; MARTIN, J. D. Valuation: the art and science of corporate investment decisions. 3. ed. New York: Pearson Education, 2015.
  • [5] Valor Presente Líquido.
  • [6] Taxa Interna de Retorno.

Daniel Ferreira Caixe - Professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea