Publicado em: 08/11/2024 às 10:45hs
O ex-presidente Donald Trump foi eleito novamente com a promessa de elevar tarifas de importação para parceiros comerciais, focando, sobretudo, na China — país com o qual os EUA já protagonizaram uma guerra comercial entre 2017 e 2021, durante o primeiro mandato do republicano. Como parte de seu plano econômico, Trump defende a implementação de uma taxa de até 60% sobre produtos chineses e tarifas entre 10% e 20% para outros países.
Atualmente, o Brasil é um grande fornecedor de alimentos para os Estados Unidos, sendo o principal exportador de café para o mercado americano. Outros produtos agrícolas significativos incluem suco de laranja, carne bovina, derivados da cana-de-açúcar, couro e soja. Nesse contexto, uma eventual imposição de tarifas por parte dos EUA poderia impactar a relação comercial entre os dois países? Segundo analistas e associações do setor, a resposta é complexa e contempla dois fatores principais:
É improvável que Trump taxe produtos de primeira necessidade, como café e carne, que representam itens essenciais no mercado de consumo americano. Taxar esses produtos poderia desencadear uma alta de preços nos EUA, afetando o custo de vida e a geração de empregos no setor alimentício, que responde por uma parcela significativa da economia americana.
A nova guerra comercial proposta por Trump deve atingir prioritariamente a China, e é esperado que o foco das tarifas recaia sobre produtos tecnológicos. Esse cenário poderia levar a China a impor tarifas sobre produtos agrícolas dos EUA, como já aconteceu em 2018 e 2019, beneficiando exportadores brasileiros, sobretudo no setor de soja e milho.
Especialistas do mercado agroalimentar consideram improvável que os EUA implementem tarifas sobre produtos agrícolas brasileiros, como o café, que é fundamental para o consumo americano. Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, observa que "os Estados Unidos são o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil. Com o rebanho bovino americano em seu menor patamar desde os anos 1950, o país depende das importações brasileiras para abastecer o mercado."
Além disso, segundo análises da consultoria StoneX, uma nova guerra comercial com a China poderia reproduzir os efeitos do primeiro mandato de Trump, quando barreiras tarifárias impuseram restrições ao comércio bilateral e levaram a China a comprar mais produtos agrícolas do Brasil. Em 2019, a soja americana, por exemplo, enfrentou tarifas de 25% por parte da China, que passou a intensificar as importações do grão brasileiro. A soja e o milho são essenciais para o mercado de proteína animal na China, especialmente para a suinocultura, que é a maior do mundo.
O Brasil e os EUA são concorrentes diretos no mercado mundial de carne. Enquanto o Brasil lidera as exportações de frango e carne bovina, os EUA são fortes em carne suína. Segundo Iglesias, o aumento de tarifas sobre produtos agrícolas americanos na China abriria espaço para o crescimento das exportações brasileiras nesses setores.
O café é outro produto estratégico: o Brasil é o principal fornecedor dos Estados Unidos, e o setor movimenta um volume significativo da economia americana, sustentando mais de 2,2 milhões de empregos, segundo dados de uma pesquisa da empresa Technomic. Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, reforça que aumentar tarifas sobre o café brasileiro não seria "sensato" para os EUA, devido à sua importância econômica e ao volume de empregos que o setor representa.
Apesar das promessas e intenções, especialistas alertam que o cenário comercial só se consolidará após o início de um possível novo governo Trump. Para Matos, do Cecafé, a esperança é de que o republicano mantenha uma postura "sensata e racional" nas negociações, priorizando a estabilidade econômica e jurídica nos acordos comerciais.
Em suma, uma nova disputa comercial entre EUA e China poderia representar uma oportunidade para o Brasil expandir sua presença no mercado asiático, especialmente em produtos como soja, milho e carne.
Fonte: Portal do Agronegócio
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