Publicado em: 24/09/2025 às 10:35hs
Passados 30 dias da entrada em vigor do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, começam a surgir os primeiros efeitos sobre o comércio exterior e as cadeias produtivas internas. Apesar da queda das exportações para o mercado norte-americano, a balança comercial brasileira mostrou resiliência, mas os desafios para empresas e fornecedores permanecem.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as exportações brasileiras para os Estados Unidos recuaram 18,5% em agosto, primeiro mês de vigência da tarifa extra. Produtos importantes da pauta, como minério de ferro, açúcar, carne bovina, aço semimanufaturado e aeronaves, registraram quedas entre 23% e 100%.
No caso do minério de ferro, não houve nenhuma venda para os EUA em agosto, evidenciando o impacto imediato. Até mesmo itens não diretamente taxados, como petróleo e celulose, tiveram retração significativa nas vendas. Especialistas apontam que parte da queda se deve ao aumento artificial das exportações em julho, antes da entrada da medida.
Apesar das perdas nos EUA, as exportações totais do Brasil cresceram 3,9% em agosto, resultado de uma maior diversificação de destinos. A China ampliou suas compras em 29,9%, o México em 43,8%, além de aumentos relevantes em vendas para Argentina, Índia e Reino Unido.
O saldo comercial no mês foi de US$ 6,13 bilhões, alta de 35,8% frente a agosto de 2024. Ainda assim, especialistas alertam que a redistribuição não compensa totalmente as perdas em setores dependentes do mercado americano.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 77,8% das exportações brasileiras para os EUA passaram a ser taxadas após o tarifaço, sendo mais da metade com a alíquota máxima de 50%.
O agronegócio foi especialmente afetado, já que poucos itens escaparam da taxação. Produtos como café, carne bovina, frutas e pescados, que representavam cerca de 30% das vendas brasileiras aos EUA, perderam competitividade. Muitos exportadores enfrentam o dilema entre reduzir preços para manter contratos ou abandonar o mercado norte-americano, ambos cenários que pressionam severamente as margens e o fluxo de caixa.
Os impactos não se restringem ao comércio exterior. O tarifaço gerou desequilíbrio em contratos internos, atingindo fornecedores de insumos, logística e serviços. Cancelamento de pedidos, renegociação de prazos e atrasos de pagamento já começam a se espalhar por diferentes setores da economia.
De acordo com levantamento da Global, até 82% das dívidas entre empresas são recuperadas se cobradas nos primeiros 10 dias de atraso. Após 180 dias, a taxa de recuperação cai para 12%. Isso reforça a necessidade de maior agilidade na gestão de crédito e cobrança para evitar um efeito dominó de inadimplência.
Para mitigar os impactos, o governo anunciou um plano de contingência de R$ 30 bilhões em crédito destinado a setores mais atingidos. Do lado empresarial, especialistas destacam três frentes prioritárias:
O primeiro mês do tarifaço revelou tanto a resiliência da balança comercial quanto a fragilidade das empresas mais expostas ao mercado norte-americano. Especialistas avaliam que as próximas semanas serão decisivas para determinar se o Brasil conseguirá transformar a crise em oportunidade de adaptação, diversificação e fortalecimento de sua estrutura produtiva.
Fonte: Portal do Agronegócio
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