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Saldo com Argentina ameniza déficit da balança brasileira

Ao contrário das expectativas gerais do início deste ano e do desempenho geral da balança comercial brasileira, o comércio com os argentinos deve terminar 2013 com superávit maior do que o do ano passado


Publicado em: 11/11/2013 às 20:50hs

Saldo com Argentina ameniza déficit da balança brasileira

Ao contrário das expectativas gerais do início deste ano e do desempenho geral da balança comercial brasileira, o comércio com os argentinos deve terminar 2013 com superávit maior do que o do ano passado. Puxada pela exportação de veículos, o saldo das trocas com o país vizinho foi de US$ 2,63 bilhões no acumulado até outubro deste ano, com alta de 44% em relação a igual período de 2012. A balança total brasileira amarga até outubro déficit de US$ 1,83 bilhão. No ano passado, nos mesmos meses, o Brasil teve superávit de US$ 17,35 bilhões.

Saldo positivo - "Não seria errado dizer que graças à Argentina poderemos ter um superávit comercial na balança este ano", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele explica que estima saldo entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão na balança comercial total. O superávit com a Argentina, calcula, deve ficar próximo ao nível atual. Lia Valls, professora de economia do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), diz que no início do ano havia pessimismo em relação à Argentina. "Surpreendentemente, a exportação para eles tem ajudado a sustentar a balança brasileira." Lia estima que o saldo comercial total do Brasil fique perto de zero. "Algo em torno de US$ 1 bilhão positivo ou negativo."

Embarques - A elevação do superávit com os argentinos foi resultado de uma alta da exportação brasileira em ritmo maior que o da importação. Enquanto os embarques para o país vizinho cresceram 10,9%, as importações de produtos argentinos avançaram 6,3%. Na balança total brasileira, a exportação caiu 0,9% e a importação cresceu 9,4%.

Automóveis de passageiros - O que puxou a venda para os argentinos foram os automóveis de passageiros, que representam 27,3% do total da exportação brasileira para o país vizinho. A venda de carros para os argentinos somou R$ 4 bilhões de janeiro a outubro, com aumento de 55,7% contra igual período de 2012, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Tradicional destino de manufaturados brasileiros, a Argentina responde atualmente por 87,3% de todos os carros exportados pelo Brasil. Foi o mercado argentino, portanto, que puxou o crescimento de 47% da venda total de veículos brasileiros ao exterior.

Bem durável - A exportação brasileira de carros, diz Castro, está se beneficiando da opção do consumidor argentino que, temeroso com a alta inflação, prefere comprar um bem de consumo durável, como um veículo, do que ver o dinheiro guardado perder o valor de compra.

Dificuldades - Castro pondera, porém, que, ao contrário das montadoras, alguns segmentos exportadores voltaram a sentir dificuldade para efetivar embarques para os argentinos. Segundo a Abicalçados, que reúne as indústrias de calçados, cerca de 750 mil pares de calçados, equivalentes a um total de US$ 13 milhões, aguardam liberação para desembarcar na Argentina.

Licença prévia - Segundo Heitor Klein, presidente da Abicalçados, a situação com os argentinos caminhava para a normalização até agosto. Em outubro, a Argentina retirou a necessidade de solicitar licença prévia para a exportação. Foi mantida, porém, a exigência de declaração jurada, na qual a indústria expõe a sua programação de exportação. Mesmo assim, conta Klein, houve retomada dos embarques até agosto. Nos três últimos meses, porém, as dificuldades retornaram. "As declarações juradas são retidas e com isso a exportação não é liberada."

Sustentação - O avanço das exportações para a Argentina não é, portanto, generalizado. A indústria automobilística, avalia o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, tende a ficar menos sujeita às barreiras argentinas. "As montadoras instaladas no Brasil também têm base na Argentina e um conflito com elas poderia ser um tiro no pé", diz Campos Neto. São grandes geradoras de emprego e de exportação, lembra, também em território argentino. Para ele, porém, a política argentina tem sido uma incógnita. "Não sabemos se essa situação será sustentada por muito tempo, ou se eles decidirão fechar a tornar a torneira em razão das baixas reservas internacionais."

Ponderações - Campos Neto faz ponderações em relação ao desempenho negativo da balança total do Brasil e em relação ao saldo positivo com os argentinos. "A exportação para a Argentina tem variação grande, porque há uma base baixa de comparação. E o resultado negativo da balança comercial total do Brasil se explica muito em razão de petróleo e combustíveis. "

Parte do impacto - Lia, do Ibre, diz que os argentinos irão amenizar parte do impacto que a elevação de déficit na balança comercial com os Estados Unidos deve trazer para o saldo brasileiro no fim do ano. O saldo negativo com os americanos - US$ 3,95 bilhões de janeiro a outubro do ano passado - saltou para US$ 9,66 bilhões em igual período deste ano. "No ano passado, o comércio com os Estados Unidos surpreendeu, gerando redução do déficit comercial. Este ano a surpresa veio da Argentina."

China - A China, afirma Lia, é outro parceiro comercial que surpreendeu. Segundo ela, havia no início do ano um pessimismo maior em relação ao fôlego da economia chinesa e seu impacto na exportação de soja e minério de ferro brasileiros. Mas a China, diz a professora do Ibre, vai aumentar este ano a contribuição positiva para a balança brasileira. O superávit do Brasil com o país asiático, no acumulado ano até outubro, foi de US$ 8,04 bilhões, com avanço de 24,4% em relação ao mesmo período de 2012.