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Real está entre mais vulneráveis ao Fed

Apesar de todos os esforços do Banco Central para minimizar a volatilidade no câmbio, decorrente sobretudo das expectativas de mudança na política monetária americana, o real ainda integra a lista de moedas mais vulneráveis a uma nova onda de alta do rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA - e tende a se beneficiar menos de momentos de alívio nesse segmento


Publicado em: 02/12/2013 às 12:40hs

Real está entre mais vulneráveis ao Fed

Estudo do Morgan Stanley indica que, no caso de uma mensagem mais "dovish" (pró-estímulos monetários) vinda do Federal Reserve (Fed, banco central americano), o real teria potencial para se apreciar 1,9% ante o dólar. No caso de uma sinalização mais "hawkish" (inclinação a aperto monetário), a moeda brasileira poderia recuar aproximadamente 4%. O Morgan Stanley prevê que o dólar termine este ano em R$ 2,40, e encerre 2014 a R$ 2,55. Na sexta-feira, a moeda americana fechou cotada a R$ 2,337, após subir 4,6% em novembro.

 Numa lista de 20 moedas emergentes, a brasileira é a quarta mais sensível a mudanças na política da autoridade monetária dos EUA, ficando atrás apenas do rand sul-africano, rupia indonésia e peso mexicano.

Fatores domésticos, como a preocupação com a condução da política fiscal e a deterioração de uma série de indicadores (crescimento econômico, inflação e déficit em transações correntes), têm colaborado para intensificar esses movimentos. Comparando a performance do real com o índice MSCI Moedas de Mercados Emergentes vê-se que a divisa brasileira apresentado performance pior que a do "benchmark" (referencial para o mercado de moedas emergentes). Desde maio, quando começou a discussão sobre a redução dos estímulos monetários pelo Fed, o real caiu 13,64% em relação ao dólar, enquanto o índice de moedas emergentes recuou 2,94%.

O índice MSCI EM reúne 25 moedas de países emergentes, cuja participação no indicador segue o mesmo peso do referencial usado para o mercado de ações.

A expectativa de redução da liquidez global vem provocando uma realocação dos recursos destinados a mercados emergentes. Nesse cenário, moedas de países com problemas estruturais, como Brasil e Indonésia, são as mais vulneráveis às mudanças.

No pior momento de agosto, quando a cotação do dólar foi a R$ 2,451, o real chegou a acumular recuo de 16,56%, a maior queda entre as principais divisas de risco. No ano, o dólar acumula alta de 14,39% em relação ao real, acima de lira turca (13,21%), dólar australiano (14,14%) e rupia indiana (13,58%). A moeda brasileira, no entanto, cai menos que outras divisas, como o rand sul-africano e a rupia da Indonésia, frente às quais o dólar sobe 20,30% e 23,15%, respectivamente. "O ponto que fez pressão extra sobre o real foi a política econômica", diz o estrategista de câmbio do Citi, Luis Costa.

O economista para a América Latina do Standard Chartered, Italo Lombardi, prevê que o real será a moeda mais impactada entre as divisas da América Latina com o anúncio da redução dos estímulos pelo Fed, esperada pelo banco para março. O banco prevê para o primeiro trimestre uma valorização do dólar de 4,84% frente ao real.

Em um cenário de menor liquidez, as moedas de países atrelados a commodities acabam sendo mais impactadas, com a queda do preço desses ativos. Apesar de outros países da América Latina serem mais expostos a commodities, como Peru e Chile, Lombardi vê o real mais vulnerável a esse efeito. "O Peru e o Chile têm uma política macroeconômica mais bem vista, e têm espaço para fazer políticas contraticíclicas." O economista lembra que a situação fiscal tem sido uma das principais preocupações do investidor estrangeiro e traz o risco de um rebaixamento da classificação de risco do Brasil no ano que vem.

Os economistas, no entanto, não esperam para 2014 uma queda do real na mesma intensidade verificada neste ano, diante das ações tomadas pelo banco central, que tem aumentado a taxa básica de juros e ofertado diariamente dólares (via swaps cambiais) ao mercado.

O estrategista-chefe global para mercados emergentes do BNP Paribas, Bartosz Pawlowski, lembra que a moeda brasileira paga um dos maiores retornos em operações de arbitragem, em torno de 10% ao ano, nível semelhante ao da lira turca e acima do retorno dos títulos lastreados na rupia indonésia (9%). "A diferença a favor do real é que o Brasil é um mercado mais líquido, e entre mercados com rentabilidade semelhante, o investidor prefere o mais líquido", diz.

Pawlowski estima que o real terminará este ano em R$ 2,45, e em R$ 2,60 no próximo ano.

O estrategista para mercados emergentes do Barclays, Sebastián Brown, também vê outras moedas mais vulneráveis que o real à retirada dos estímulos monetários pelo Fed, como a lira turca, a rupia da Indonésia e o rand sul-africano. "O Brasil tem uma participação pequena de investidores estrangeiros nos títulos públicos e uma grande posição nas reservas internacionais", afirma Brown.

Fonte: Canal do Produtor

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