Publicado em: 14/07/2025 às 20:00hs
A recente decisão dos Estados Unidos de elevar tarifas de importação para produtos brasileiros pode comprometer significativamente a competitividade do agronegócio nacional. A medida impacta diretamente setores estratégicos como café, celulose, carne bovina e suco de laranja. As informações são do relatório Radar Agro – Julho 2025, produzido pela Consultoria Agro do Itaú BBA.
Segundo a análise da consultoria, os setores mais vulneráveis às tarifas de até 50% são:
Também foram citadas exportações menores, mas relevantes, como as de ovos e pescados.
A depender da manutenção das tarifas adicionais — como os 50% somados aos 26,4% já incidentes sobre a carne bovina — as exportações brasileiras podem se tornar inviáveis economicamente. Café e suco de laranja, atualmente com tarifa de 10%, também enfrentariam carga tarifária total próxima a 60%.
Com o anúncio das tarifas, o câmbio disparou, chegando próximo a R$ 5,60/USD no início do pregão. A desvalorização do real favorece a competitividade das exportações e pode estimular a comercialização de grãos como soja e milho. Por outro lado, o dólar elevado aumenta o custo dos insumos importados, como fertilizantes, que já vinham em alta.
Os EUA são o maior consumidor de café do planeta, com cerca de 25 milhões de sacas por ano, e o Brasil é o maior produtor de arábica, com 42% da produção mundial. Dada essa dependência, substituir o café brasileiro seria difícil, o que poderia gerar inflação no mercado americano e queda no consumo. Segundo a National Coffee Association (NCA), o setor gera 2,2 milhões de empregos diretos nos EUA, com salários somando US$ 100 bilhões.
Cerca de 98% do sebo bovino exportado pelo Brasil tem como destino os EUA. Caso as tarifas sejam mantidas, haverá queda nas exportações e possível aumento da oferta doméstica. A Austrália e outros países da América do Sul podem assumir parte do mercado americano.
As exportações de açúcar para os EUA representam cerca de 2% do total exportado pelo Brasil, com destaque para uma cota de 147 mil toneladas do Nordeste. Já no etanol, os EUA representam 15% das exportações brasileiras. Mesmo com a nova tarifa, será difícil para os americanos substituírem o etanol brasileiro, feito de cana-de-açúcar e com poucos substitutos no mercado global.
As exportações brasileiras de celulose geraram US$ 1,7 bilhão em 2024, sendo o segundo produto agro mais exportado para os EUA, atrás apenas do café. Madeira perfilada gerou US$ 481 milhões. Com as tarifas, a competitividade frente a países como o Canadá pode cair, embora os EUA não sejam autossuficientes nesses produtos.
Mesmo com crescimento de 132% nas exportações de carne bovina in natura no primeiro semestre de 2025, a aplicação da nova tarifa pode tornar as vendas inviáveis. Hoje, o mercado americano representa 12% das exportações brasileiras, enquanto a China lidera com 49%. A ausência dos EUA pode pressionar os preços do boi gordo internamente.
Com produção em queda na Flórida — afetada por greening e furacões —, os EUA devem importar mais de 90% do suco que consomem, sendo o Brasil o principal fornecedor. A tarifa adicional de 50%, somada aos US$ 415/t já existentes, elevaria o custo para US$ 2.600/t, desestimulando as compras. O México, segundo maior fornecedor, ganharia vantagem, já que está isento da nova tarifa.
De acordo com dados do Comexstat citados no relatório do Itaú BBA, os principais produtos do agronegócio exportados do Brasil para os EUA foram:
A imposição de tarifas pelos Estados Unidos representa um risco direto à competitividade do agronegócio brasileiro em setores-chave. A depender dos desdobramentos diplomáticos e econômicos, os impactos podem ser de curto a médio prazo, exigindo atenção de produtores, exportadores e formuladores de políticas públicas.
Fonte: Portal do Agronegócio
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