Publicado em: 20/12/2024 às 10:55hs
O recente acordo entre Mercosul e União Europeia, concluído após 25 anos de negociações, somado ao avanço do protecionismo global impulsionado pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, abriu uma janela de oportunidade para o bloco sul-americano expandir sua rede de acordos comerciais. A avaliação é compartilhada por diplomatas e fontes próximas às tratativas.
Atualmente, o Mercosul conduz negociações com oito parceiros comerciais, com destaque para países asiáticos, além de Canadá, Emirados Árabes Unidos e o bloco Efta, composto por Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein.
De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, o Mercosul deve concluir, em 2024, acordos com o Efta e os Emirados Árabes Unidos. Cecilie Myrseth, ministra de Comércio e Indústria da Noruega, confirmou que o acordo com o Efta é prioritário: “Esperamos concluir as negociações o mais rapidamente possível, especialmente com a recente finalização do tratado entre Mercosul e União Europeia.”
Thani Al Zeyoudi, ministro de Comércio Exterior dos Emirados, também demonstrou otimismo: “Um acordo desse tipo trará oportunidades significativas para empresas e indivíduos no Oriente Médio e na América Latina, promovendo crescimento econômico e prosperidade.”
Além disso, o acordo entre Mercosul e Cingapura, já concluído, deve entrar em vigor em 2025, após os trâmites legais e de tradução.
O México, parceiro de longa data do Mercosul, demonstrou interesse em expandir o atual Acordo de Complementação Econômica (ACE), que abrange 800 produtos e o setor automotivo. A possível ampliação busca mitigar os impactos de potenciais tarifas dos Estados Unidos e diversificar relações comerciais.
“O México quer um futuro mais integrado e resiliente diante de um cenário global desafiador”, afirmou uma fonte próxima ao governo mexicano. O Canadá, outro parceiro em negociação, enfrenta pressão semelhante devido às incertezas sobre o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), mas diplomatas apontam que os avanços podem ser lentos devido à prioridade canadense em tratar questões com os Estados Unidos.
O Mercosul também mantém diálogos com Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia e Líbano, além de buscar abrir novas frentes, especialmente na Ásia.
Especialistas destacam que o avanço das negociações reflete uma preocupação geopolítica global. A Europa, por exemplo, enxergou no acordo com o Mercosul uma oportunidade de fortalecer laços comerciais e estratégicos em resposta ao crescimento do protecionismo global e à liderança tecnológica de outras regiões.
Contudo, desafios internos no Mercosul também impactam as tratativas. A Argentina, sob a presidência de Javier Milei, ameaça realizar acordos unilaterais fora do bloco, contrariando as regras do grupo. Em discurso recente, Milei criticou o Mercosul, chamando-o de “prisão”, e indicou a intenção de buscar um acordo independente com os Estados Unidos.
Enquanto isso, o Uruguai, que também havia manifestado interesse em maior liberdade nas negociações, deverá adotar uma postura mais alinhada ao bloco com a posse do novo presidente, Yamandú Orsi, em março de 2024.
Fontes diplomáticas ressaltam que o Brasil está comprometido com a expansão comercial, embora reconheçam a complexidade do processo. “O Brasil é uma potência agrícola e, muitas vezes, enfrenta resistência de parceiros. As negociações são longas e desafiadoras”, afirmou um diplomata brasileiro.
Mesmo diante de obstáculos internos e externos, o Mercosul enxerga no atual cenário global uma oportunidade única de diversificar e fortalecer suas alianças comerciais, buscando maior integração e resiliência em um mundo cada vez mais fragmentado.
Fonte: Portal do Agronegócio
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