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INTERNACIONAL: EUA e China anunciam trégua tarifária

A trégua tarifária acertada entre os Estados Unidos e a China, na madrugada deste domingo (02/12), foi recebida com alívio e deve dar uma injeção de ânimo aos mercados globais nesta segunda-feira (03/12)


Publicado em: 04/12/2018 às 12:00hs

INTERNACIONAL: EUA e China anunciam trégua tarifária

Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping firmaram no sábado um acordo com duração de três meses que diminui hostilidades comerciais, justamente em meio a temores de uma escalada na disputa entre as duas maiores economias do mundo.

Alteração - Além do impacto positivo sobre os mercados, a tendência é que a trégua desacelere o movimento de empresas do setor produtivo de alterarem cadeias de fornecimento. No médio e longo prazos, no entanto, as dificuldades a respeito de como reformar o sistema multilateral de comércio continuam.

Encontro - O encontro entre Trump e Xi ocorreu em Buenos Aires, ao fim de dois dias de reuniões dos líderes do G-20, grupo que reúne as principais economias do mundo. Apesar de ter sido uma agenda paralela à cúpula dos presidentes e primeiros-ministros, a reunião se destacou entre tudo o que foi debatido ou formalizado na cúpula.

Suspensão - O presidente americano concordou em suspender por 90 dias o seu plano de aumentar as tarifas de 10% para 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.

Contrapartida - Em troca, a China prometeu acelerar as compras de produtos americanos, em uma iniciativa que deve aumentar os preços da soja e de insumos de energia, como o gás natural.

Multilateralismo - Durante seu principal pronunciamento, Xi enfatizou o apoio ao multilateralismo e a demanda crescente da economia chinesa por importações. Ele não fez referências ao esforço de investimentos e melhoria da infraestrutura, que consumiram parte de seus discursos no G-20 nos dois últimos anos. Em comunicado, a Câmara Americana do Comércio da China afirmou que a trégua era "tão boa quanto poderíamos esperar".

Preocupação - Governos de toda a Ásia estão cada vez mais preocupados com as consequências das possíveis medidas protecionistas para suas economias, ou temem que sejam forçados a se posicionar de um dos lados na disputa entre Pequim e Washington. Em uma reunião de cúpula de líderes da região Ásia-Pacífico no mês passado, muitos deles alertaram para os riscos relacionados ao aumento do protecionismo.

Positivo - "É bom ver que a guerra de tarifas entre os EUA e a China não se intensificará mais", disse Kang Kam-Chan, chefe da Divisão de Política Comercial do Ministério do Comércio da Coreia do Sul.

Cautela - Subsecretário-geral de assuntos econômicos e financeiros do Itamaraty, Ronaldo Costa Filho vê com cautela essa trégua e traça paralelos com a disputa entre Estados Unidos e União Europeia, que ganhou as manchetes em julho.

Comissão Europeia - Trump recebeu o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, na Casa Branca, onde ambos anunciaram uma interrupção da escalada de tensões comerciais. "Mas o que aconteceu foi que cada um saiu dali e vendeu uma história diferente para o seu público interno", diz, ao afirmar que ainda não foram vistos resultados concretos após a reunião.

Alívio - Mas, além da trégua, os resultados finais da cúpula do G-20 deste ano foram, de forma geral, recebidos também com alívio tanto entre diplomatas brasileiros quanto entre os anfitriões. "Conseguimos dialogar e chegar um consenso sobre assuntos complicados", diz o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Faurie, destacando a necessidade de reformar a Organização Mundial do Comércio (OMC), explícita no comunicado final do evento.

Argentina - Para a Argentina, que vive grave crise fiscal e de balanço de pagamentos, o tom adotado no texto foi uma boa notícia. "Tudo isso favorece as economias emergentes, porque obviamente os mercados se tranquilizam" e exercem menos pressão sobre as moedas locais, diz o ministro.

Ceticismo - Do lado brasileiro, a recepção foi menos entusiasmada. "O balanço geral é positivo, mas não sei se dá para falar em otimismo", resume uma fonte do Itamaraty. A avaliação é que as principais economias do mundo mandaram a mensagem de que o multilateralismo continua importante para a estabilidade e o crescimento global, ainda que seja um sistema que precise de reformas.

Comunicado final - Profissionais envolvidos nas negociações temiam até mesmo que pudesse não haver comunicado final, tamanhas eram as divergências entre os países do G-20.

Ausência de defesa mais enfática - Ronaldo Costa Filho, do Itamaraty, minimiza a ausência de uma defesa mais enfática do multilateralismo no comunicado final do encontro, lembrando que o texto divulgado após a reunião do ano passado, na Alemanha, também não trazia essa defesa. O que conta como fator positivo é o apoio dado à própria OMC e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), avalia o diplomata.

Desafio - O desafio agora é encontrar maneiras de implantar as mudanças necessárias, começando pela reforma da OMC. "O que se pede nesse caso não é simples. Uma coisa é pedir, outra é fazer", diz uma fonte do governo brasileiro.

Dificuldades - As dificuldades devem começar justamente neste momento, quando serão iniciadas as discussões sobre a reforma da OMC. "O que será negociado, como isso será feito, qual o grau de convergência, é tudo uma página em branco", afirma Costa Filho.

Protagonistas - Mais uma vez, neste caso, os protagonistas são Estados Unidos e China. Representantes das duas maiores economias do mundo discordam, por exemplo, a respeito de questões como subsídios, propriedade intelectual e se o país asiático pode ser classificado formalmente como uma nação "em desenvolvimento" - o que tem desdobramentos práticos dentro da OMC.

Sementes - Dada a dificuldade de promover uma reforma de um órgão desse porte, o diplomata sugere que, antes, sejam "plantadas sementes" que tornem o ambiente propício para discussões "quando os temas essenciais chegarem à mesa". Um assunto que poderia ser enfrentado nesta fase inicial, de acordo com Costa Filho, são controvérsias ligadas aos critérios de nomeação dos juízes que compõem o Tribunal de Apelação da entidade.

Opção - Mas há quem esteja um pouco menos pessimista dentro do próprio Itamaraty. Para uma fonte dentro do ministério, a alternativa às mudanças no órgão não deixa opção. "O contrário da reforma é a guerra comercial", afirma. Para esse interlocutor, uma saída seria dar mais "flexibilidade" às negociações dentro da OMC, facilitando acordos entre grupos menores de países. "Tem que ser criativo", diz.

Fonte: Portal Paraná Cooperativo

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