Internacional

INTERNACIONAL: Câmbio deve ser primeiro alvo da nova equipe econômica argentina

Desde o início do ano, as reservas internacionais da Argentina caíram 26%, de US$ 43,3 bilhões para US$ 32,2 bilhões, ou só cinco meses de importações


Publicado em: 21/11/2013 às 09:00hs

INTERNACIONAL: Câmbio deve ser primeiro alvo da nova equipe econômica argentina

A presidente argentina, Cristina Kirchner, deve empossar nesta quarta-feira (20/11) os novos ministros da Economia, Axel Kicillof, da Agricultura, Ricardo Casamiquela, e o ministro-chefe do Gabinete, Jorge Capitanich, ponto de partida para uma guinada econômica que se avalia como iminente e que deve começar pela política cambial. Desde o início do ano, as reservas internacionais da Argentina caíram 26%, de US$ 43,3 bilhões para US$ 32,2 bilhões, ou só cinco meses de importações.

Desalinhamento cambial - Kicillof é um crítico do desalinhamento cambial. O dólar está cotado a 6,04 pesos, e economistas estimam que seria preciso desvalorizar a moeda entre 20% e 60% para repor a competitividade da economia. Antes de entrar para o governo, em 2011, Kicillof defendeu a volta do sistema de câmbio múltiplo, em que o dólar teria cotações diferentes para exportações, importações, operações financeiras, de turismo e de investimento.

Crise - O recurso foi usado em situações de crise, nos governos de Juan Perón (1973-1974), Raúl Alfonsín (1983-1989) e Eduardo Duhalde (2002-2003). Nos primeiros dois casos, a experiência não deteve a queda de reservas, houve megadesvalorizações e o país caminhou para surtos inflacionários e recessivos de grandes proporções. No caso de Duhalde, o câmbio múltiplo foi adotado como saída para o atrelamento do peso ao dólar, que vigorou de 1991 a 2001. Teve curta duração, produziu inflação em níveis menores e marcou o início da recuperação econômica do país. "O desdobramento pode levar ou não a um desequilíbrio, dependendo do resultado fiscal", disse o economista Eduardo Curia, vice-ministro da Economia em 1990.

Sobrevalorização do peso - Na equipe econômica de Cristina, Kicillof externou preocupação com a sobrevalorização do peso. "Existe na Argentina uma tendência permanente de valorização da moeda. Os produtos agropecuários de exportação produzem entrada permanente de divisas, e o dólar se torna barato. O liberalismo leva a uma apreciação da moeda, e a indústria perde competitividade. É preciso impedir esta tendência", disse, por exemplo, em outubro de 2012, ao apresentar o Orçamento no Congresso.

Dúvidas - Entre os observadores do mercado argentino, há dúvidas sobre o real poder que Kicillof terá. "Cristina sempre foi uma concentradora de poder, e seus ministros eram meros executantes. Precisamos aguardar o que irá mudar não apenas na forma, mas no conteúdo das políticas", afirmou o presidente do centro dos importadores (Cira), Diego de Santisteban.

Contrapeso - O contrapeso ao poder de Kicillof poderá ser Jorge Capitanich. Na Argentina, o ministro-chefe do Gabinete tem atribuições de coordenador do governo e, em tese, teria ascendência sobre Kicillof. Este papel não foi exercido pelos dois últimos ocupantes do cargo, Juan Manuel Abal Medina e Aníbal Fernandez, mas nenhum dos dois tem pretensões presidenciais, como é o caso de Capitanich, até esta semana governador da província do Chaco. "Ele é um político da máquina peronista e pode representar a mudança de rumo mais substancial no governo", afirmou Alejandro Ovando, da consultoria IES.

Banco Central - Outro amortecedor possível do poder de Kicillof é o novo presidente do Banco Central, Juan Carlos Fábrega. Funcionário de carreira do Banco de La Nación Argentina, Fábrega ganhou espaço no governo por ser amigo de juventude do marido e antecessor de Cristina, Néstor Kirchner, morto em 2010. "Ele é um soldado de Cristina, vai manter o Banco Central financiando o Tesouro, mas é aberto ao diálogo com o sistema financeiro, ao contrário da antecessora", afirmou o economista Aldo Abram, da Fundação Liberdade e Progresso, em uma referência à ex-presidente do BC Mercedes Marcó del Pont.

Reação - O mercado argentino reagiu mal às mudanças: a Bolsa de Buenos Aires caiu 6,55%, uma queda mais acentuada que a de outros países, como Brasil, Peru, Venezuela, Colômbia, México e Chile.