Publicado em: 02/02/2024 às 17:00hs
Não só pelas possibilidades dos combustíveis renováveis ganharem espaço na matriz energética ou pelas novas tecnologias que permitem veículos sem a necessidade de derivados de petróleo, como os carros elétricos, mas também porque novos países estão assumindo uma posição central como indutores do mercado.
Enquanto a China está reduzindo sua dependência de petróleo nos últimos anos, devido à eletrificação de sua frota de carros, a Índia aumentou seu consumo de gasolina e diesel, o que resultou em um aumento de suas importações de petróleo. Espera-se que essa tendência continue nos próximos anos, quando, em 2030, o país do sul da Ásia deverá acrescentar mais demanda ao balanço energético global do que a China. Nesse cenário, a expansão de seu parque de refino será essencial para entender o ritmo de crescimento da demanda de petróleo do país. Apesar de estar crescendo rapidamente, o país pode adotar as tecnologias disponíveis no mercado, o que poderia, em última análise, diminuir sua demanda por combustíveis fósseis.
Por muitos anos, a China tem sido o principal impulsionador da demanda global de petróleo. Como o maior importador de petróleo do mundo, os dados econômicos da China sempre forneceram informações importantes sobre o balanço energético global. No entanto, isso está mudando à medida que mais veículos elétricos enchem as ruas da segunda maior economia do mundo. Agora, a Índia, a quinta maior economia do mundo, com crescimento projetado de 7,3% em 2023, está gradualmente ganhando relevância nos mercados de petróleo bruto.
“A economia do sul da Ásia está crescendo rapidamente, aumentando sua necessidade por energia e, consequentemente, por produtos petrolíferos. Nesse sentido, espera-se que, até o final de 2028, o país expanda sua capacidade de refino de petróleo em aproximadamente 1,12 milhão de barris por dia, um aumento de 22% quando comparado com o patamar atual. Portanto, será necessário mais petróleo para atender à demanda doméstica do país”, afirma Victor Arduin, analista de Energia e Macroeconomia da companhia.
Com uma ampla disponibilidade de fornecedores, o destaque em 2023 foi o petróleo russo. Além de oferecer descontos substanciais, a Índia conseguiu garantir pagamentos mais flexíveis, uma vantagem significativa para suas refinarias. Nesse sentido, exportadores de petróleo buscam estreitar seus laços comerciais com o país.
De acordo com dados do Ministério do Petróleo e Gás Natural da Índia, o consumo de petróleo da Índia atingiu 231 milhões de toneladas (4,64 milhões de barris por dia) em 2023, um aumento significativo de +5,48% em comparação com as 219 milhões de toneladas (4,40 milhões de barris por dia) registradas em 2022. Isso representa um pouco mais de 5% do atual consumo global de petróleo, enquanto, em 2002, há pouco mais de 20 anos, o país detinha uma participação de mercado de 3%.
“Por um lado, cresce gradualmente a relevância do país sobre o ritmo do consumo global de petróleo; por outro lado, dados mais fracos do que o esperado, ou reduções em suas importações, resultam em volatilidade baixista para o complexo energético. Após um forte crescimento das importações nos primeiros nove meses do ano, a Índia diminuiu seu ritmo de importação no último trimestre, o que ajudou a enfraquecer os preços dos principais benchmarks de petróleo bruto, com o WTI caindo US$ -19,14 (-21,08%) e o Brent -US$ 18,27 (-19,17%) por barril”, diz o analista.
Contudo, é importante observar que a China continuará sendo o maior importador de petróleo do mundo por um bom tempo.
“Por exemplo, a segunda maior economia do mundo atingiu 11,84 milhões de barris por dia (bpd) em importações de petróleo bruto neste ano (dados parciais), mais do que o dobro do volume importado pela Índia, que foi de 5,33 milhões de bpd. Mesmo com a eletrificação de sua frota, muitos setores da economia chinesa, como transporte, construção civil e agricultura, continuarão a depender de produtos petrolíferos”, observa.
A Índia está alcançando no mundo uma posição de destaque no complexo energético. À medida que seu Produto Interno Bruto (PIB) cresce, seu consumo interno aumenta, o que resulta no aumento da demanda por energia, traduzindo-se em maiores importações de petróleo.
Mais do que analisar o consumo final de produtos refinados, será importante observar o crescimento da capacidade das refinarias da Índia, pois elas representam a capacidade de absorção do petróleo importado pelo país, que, quando processadas, torna-se o produto disponível para a população. Um ritmo mais lento da expansão da sua capacidade de processamento indicará que o país não aumentará demanda tão rápido como se espera, algo que pode ter um profundo impacto no mercado.
Mesmo que o país alcance, gradualmente, a posição de principal impulsionador do mercado, ou seja, adicionando mais demanda por combustíveis fósseis ao equilíbrio global, a China continuará sendo o maior importador de petróleo por muitos anos. Isso ainda tornará relevante entender o consumo chinês para compreender o cenário de alta ou de baixa para o petróleo e seus derivados.
Por Victor Arduin, analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets*
Fonte: hEDGEpoint Global Markets
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