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Guerra comercial acelera uso estratégico do crédito no agronegócio brasileiro

Frente às tarifas impostas por Trump, crédito passa a ser instrumento-chave para garantir competitividade, diversificar mercados e agregar valor à produção nacional


Publicado em: 16/04/2025 às 14:00hs

Guerra comercial acelera uso estratégico do crédito no agronegócio brasileiro

Tarifas elevadas dos EUA pressionam o agro brasileiro

A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 104% sobre produtos chineses e aplicar novas taxas de 10% sobre itens do agronegócio brasileiro — como carne bovina industrializada, suco de laranja e café verde — acendeu um alerta sobre a competitividade do setor agroexportador nacional. As justificativas de Trump se concentram em proteger a indústria americana e reduzir o déficit comercial, estimado em cerca de US$ 1 trilhão anuais. No entanto, diante da crescente pressão sobre margens e do risco de perda de mercado, os exportadores brasileiros precisam reagir com agilidade.

Crédito se torna ferramenta estratégica diante do novo cenário

Nesse contexto de guerra comercial, o crédito passa a ser um instrumento vital para que o agronegócio brasileiro se adapte às novas exigências globais. A necessidade de capital para financiar ajustes regulatórios e buscar novos mercados se intensifica. Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, "o crédito pode ser usado para financiar a diversificação de mercados, cobrir custos de adaptação regulatória e até para investir em industrialização local, aumentando o valor agregado do produto exportado".

Agregação de valor exige novos formatos de financiamento

Para reduzir a dependência de commodities in natura, muitas empresas do setor têm apostado na industrialização e em estratégias de diferenciação. Isso inclui desde o processamento mínimo — como carnes industrializadas ou sucos concentrados — até a aplicação de rótulos premium voltados a nichos mais exigentes do mercado internacional. Essas iniciativas, no entanto, exigem linhas de crédito mais flexíveis do que as oferecidas por instituições tradicionais. “É aqui que entram estruturas modernas, como as gestoras de crédito privado, que conseguem oferecer soluções mais ágeis e adaptadas às demandas do setor”, explica Eyng.

Sistema tradicional de crédito revela gargalos

A crise atual escancarou uma fragilidade no modelo convencional de financiamento: a lentidão e a rigidez dos processos bancários. Em um cenário de alta volatilidade econômica e urgência nas respostas, a morosidade do crédito tradicional pode comprometer a competitividade das empresas. “Estamos vendo companhias que precisam reagir em semanas, não em meses. O crédito precisa acompanhar essa velocidade”, alerta Eyng.

Gestoras ganham protagonismo na oferta de crédito ao agro

Em 2024, o volume de crédito destinado ao agronegócio brasileiro foi de R$ 52,3 bilhões. Entretanto, com o recuo do governo federal no financiamento rural, as gestoras de recursos têm ganhado espaço como alternativa relevante. Eyng destaca que estruturas como os fundos multicedente e multissacado já são utilizados para financiar indústrias de fertilizantes e distribuidoras, proporcionando prazos maiores para aquisição de insumos pelos produtores.

FIDCs e nova regulação impulsionam crédito privado no campo

O crescimento do mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), impulsionado pela Resolução CVM e por um ambiente regulatório mais moderno, tem ampliado a oferta de funding disponível para o agronegócio. Essa expansão reforça o papel das gestoras como elo estratégico na cadeia de financiamento, permitindo que o setor se reposicione e mantenha sua relevância no cenário global, mesmo em meio a turbulências comerciais.

Fonte: Portal do Agronegócio

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