Publicado em: 20/11/2014 às 18:40hs
A economia mundial não deverá experimentar o mesmo crescimento aquecido do comércio exterior que alimentou a globalização antes da crise financeira de 2008. Isso se deve, em grande medida, ao fato de as fabricantes chinesas estarem se voltando para o mercado interno, segundo pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
Resposta - O estudo pretende responder à pergunta que mais tem causado perplexidade entre os economistas nos últimos anos: será que a prolongada desaceleração do crescimento do comércio internacional significa que a globalização atingiu seu pico?
Mais lento- Nos últimos dois anos o comércio mundial cresceu mais lentamente do que a economia mundial. É a primeira vez em várias décadas em que isso ocorre. Essa mudança assistiu ao aparente fim do que alguns economistas qualificaram como a era da "hiperglobalização", durante a qual o comércio internacional cresceu sistematicamente a um ritmo equivalente ao dobro do assumido pela expansão da economia mundial.
UE - Muitos economistas atribuíram a culpa pela recente desaceleração do crescimento do comércio exterior ao mal sofrido pela economia da União Europeia (UE), argumentando que, assim que a Europa reagisse, o comércio mundial se recuperaria. O fenômeno também foi atribuído à desaceleração do ritmo da liberalização do comércio nos últimos anos.
Fator estrutural - Mas, em sua mais recente pesquisa, economistas do FMI e do Banco Mundial dizem que o principal fator é estrutural. Por isso, uma possível aceleração do comércio internacional não deverá contribuir para o crescimento geral tanto quanto no passado. "Essa locomotiva, em particular, parece ter esgotado sua energia propulsora no momento", escreve a equipe na revista "Finance & Development", do FMI.
Mudança - A evolução das cadeias mundiais de suprimentos foi o fator que impulsionou boa parte da expansão acelerada do comércio internacional na década de 1990, argumentam eles. Mas, nos últimos anos, a China, atualmente o maior país participante do comércio internacional, se apoderou de uma parcela crescente dessas cadeias de suprimentos, graças ao investimento externo e ao desenvolvimento de suas fábricas nacionais.
Peças importadas - Em 1993, peças importadas respondiam por mais de 60% das exportações chinesas, destacam o FMI e o Banco Mundial. Esse percentual agora é 35%. A decorrência disso é que, embora a China tenha sido um dos principais fomentadores da globalização, o país começou, mesmo antes da crise de 2008, a "se globalizar internamente", disse Aaditya Mattoo, coordenador da pesquisa de comércio exterior do Banco Mundial.
Discussão - Mattoo e seus coautores sustentam que a natureza estrutural da freada do comércio internacional pode reforçar o argumento de que a economia mundial enfrenta uma "nova normal" de crescimento mais lento. Mas o trabalho deles também vai intensificar a discussão sobre o que é visto por um número crescente de economistas como o caráter cada vez mais enganoso das estatísticas de comércio.
Medidas de valor agregado - Economistas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e da Organização Mundial de Comércio (OMC) encabeçam, nos últimos 18 meses, um esforço para convencer as autoridades a examinar medidas de "valor agregado" de comércio exterior. Elas oferecem, segundo eles, um retrato mais preciso de relações comerciais muitas vezes delicadas do ponto de vista político. Encarado em termos de valor agregado, o déficit da balança comercial dos Estados Unidos com a China, por exemplo, se reduz muito.
Fonte: Financial Times
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